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Pequenos cientistas: bebês aprendem com cada experiência (Foto: Thinkstock)

Pequenos cientistas: bebês aprendem com cada experiência (Foto: Thinkstock)

Bebês são muito mais espertos do que você imagina. E novos estudos têm revelado capacidades que antes nem sonhávamos que os pequenos eram capazes de ministrar - não com a mesma destreza de um adulto, é claro, mas elas estão lá! O pesquisador Andrew N. Meltzoff, co-director do Instituto de Aprendizagem e Ciências do Cérebro da Universidade de Washigton (EUA) e autor do livro The Scientist in the Crib ("O Cientista no Berço", em tradução livre), concedeu uma entrevista à CRESCER sobre as descobertas mais recentes da ciência que desvelam o maravilhoso mundo dos bebês e importância do contato social para a aprendizagem. A grande lição é: você é o principal modelo do seu filho. Confira: 

É comum ouvir pessoas dizendo sobre os bebês frases como: “ele ainda não entende”, “é pequeno demais para lembrar”. Mas muitos estudos, inclusive vários que o senhor mesmo liderou, já mostraram que os bebês têm capacidades maiores do que imaginávamos. Como as novas pesquisas têm mudado a ideia que se faz dos bebês?
Andrew Meltzoff:
É certamente verdade que há um monte de novas pesquisas revelando o quanto os bebês realmente sabem! Tanta aprendizagem nos primeiros anos é um resultado de assistir, ouvir e interagir com os outros. E mesmo que eles não possam expressar todo conhecimento recém-adquirido explicitamente, estão definitivamente aprendendo e compreendendo a cada nova experiência. Eu acho que a maioria das pessoas que têm seus próprios filhos reconhece que os bebês são, de fato, mais capazes do que as teorias mais antigas pensavam. Mas novas pesquisas científicas continuam a desvelar o universo mental e social dos bebês. Além disso, agora temos técnicas novas e seguras para explorar o que está acontecendo atrás desses lindos olhos brilhantes. Novas ferramentas que produzem imagens cerebrais estão permitindo que os cientistas explorarem com segurança o desenvolvimento do cérebro. E nós estamos descobrindo coisas surpreendentes sobre como o bebê responde ao rosto de sua mãe, como reage ao ser exposto à linguagem ou como processa um toque suave. A ciência é bastante impressionante e bonita. A ciência dedicada ao cérebro do bebê está fazendo novas descobertas todos os dias.

De que forma o cérebro dos bebês se diferencia do cérebro dos adultos?
O cérebro dos bebês é extremamente receptivo a novas experiências. Nascemos com quase o mesmo número de neurônios que carregaremos durante a vida toda – mas é durante os primeiros anos de vida que reconstruímos e redefinimos as conexões entre esses neurônios. E isso é o que nos permite realizar nossas funções diárias como andar, falar e ler. Cada vez que aprendemos algo novo, fortalecemos essas conexões, que são chamadas sinapses, entre os neurônios. E o cérebro dos bebês é particularmente inclinado a assimilar certas habilidades como se mover ou aprender uma língua. É claro que os adultos também são capazes de aprender muitas coisas, mas nosso cérebro já não é tão flexível. Cérebros maduros não conseguem fazer tantas conexões neurais, e nem tão rápido como o dos bebês é capaz. O ponto forte do cérebro dos adultos é o conhecimento e o foco. O dos bebês é a rapidez e a facilidade de adquirir conhecimentos brincando.

Como um pesquisador especializado no desenvolvimento dos bebês, em sua opinião, quais foram as principais descobertas nos últimos anos?
Recentemente, descobrimos que crianças pequenas aprendem sobre relações de causa e efeito rapidamente. Apenas observando os adultos, elas conseguem descobrir como um brinquedo funciona, por exemplo. Os bebês aprendem rápido e nós somos seus primeiros professores. Também descobrimos nos últimos anos que os bebês aprendem muito do contato com a linguagem e a música. Novas pesquisas de nosso laboratório mostraram que as respostas do cérebro deles se tornam bem específicas a sua língua materna e também que contatos frequentes com música podem melhorar o processamento da linguagem e dos sons. A música não faz bem apenas para a alma, mas também para o desenvolvimento de crianças pequenas.

O que os bebês entendem a respeito das interações sociais? Como eles conseguem se expressar, mesmo antes de aprender a falar?
O bebês entendem o básico sobre interações sociais desde muito cedo. Antes de um ano, eles já esperam relações de reciprocidade, onde o adulto responda aos seus sorrisos, balbucios e olhares. São  como “diálogos gestuais” que preparam as crianças para os diálogos verbais. Sobre a compreensão que eles têm das emoções, alguns estudos apontam que aos 7 meses eles já conseguem identificar a alegria versus o medo. Outras pesquisas apontam que a partir dos 15 meses eles podem reconhecer se uma pessoa é propensa à raiva com base em suas expressões e comportamento emocionais típico. Os bebês começam a evitar pessoas com esse temperamento e modificam a forma como agem na frente desses indivíduos, por medo de incorrer em sua ira. Isso significa que as crianças pequenas estão controlando a forma como reagimos emocionalmente e categorizando-nos de acordo com nossas emoções predominantes.

Você tem alguns estudos sobre imitação e emoções. Como a imitação pode ajudá-los a aprender?
O impulso das crianças de imitar outras pessoas ajuda-as a aprender coisas novas, repetindo o que elas nos vêem fazer. Somos modelos para nossos filhos. Eles querem ser como nós. Quando eles nos vêem fazer algo, imediatamente querem repetir essa ação por si mesmos. Por exemplo, algumas das minhas primeiras pesquisas descobriram que as crianças nos primeiros meses de vida podem imitar as expressões faciais dos adultos, como cutucar a língua ou abrir e fechar a boca. Isso dá às crianças uma bagagem importante sobre a forma de mover o rosto. Bebês irão imitar gestos como aplaudir, crianças irão repetir sons ou palavras que ouvem, e pré-escolares podem fingir falar ao telefone como um adulto. Todas essas experiências os ajudam a adquirir novas habilidades e a praticá-las. Isso porque observar os outros é uma das mais poderosas ferramentas de aprendizado para crianças antes que os adultos possam se comunicar com elas por meio da linguagem verbal. Os bebês estão sempre prestando atenção a nosso comportamento e querem ser como nós. A imitação pode ser um jogo social agradável entre pai e filho, mas também é uma oportunidade de aprendizagem. As crianças aprendem a pressionar as teclas do computador ou usar o batom da mãe ou girar a maçaneta da porta porque estão atentos aos adultos ao seu redor. Eles estão assistindo e aprendendo com a gente, quer estejamos cientes disso ou não.

O que é mais fascinante nas descobertas sobre os comportamentos sociais dos bebês?
No longo prazo, estudar as raízes da aprendizagem sócio-emocional nos ajudará a iluminar um aspecto importante da personalidade humana: como aprendemos a nos relacionar com os outros. Essas habilidades sócio-emocionais começam na infância e desempenham um papel importante ajudando as crianças a terem sucesso tanto em ambientes escolares como em suas vidas pessoais. Em resumo, os bebês exploram o mundo físico (construindo torres de blocos) e o mundo social (brincando com outros). Eles não precisam de brinquedos caros para se transformarem em adultos saudáveis e felizes. Mas eles precisam de outras pessoas. Nós somos o brinquedo favorito do nosso bebê. Nós somos o melhor "brinquedo" que nossos bebês podem ter. Nosso rosto atrai sua atenção, nossa voz é música para seus ouvidos, e nossas carícias estimulam seu senso de toque. Eles aprendem sobre outras pessoas e sobre si mesmos ao nos assistirem e brincarem com a gente. Eles não precisam do último lançamento da loja de brinquedos ou de gadgets. Eles precisam do nosso amor e atenção. Com isso eles podem prosperar.

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