Cores e maximalismo marcam o apartamento do artista João Incerti no RJ

Mas, acima de tudo, é o cenário que dá vida às suas emoções, desejos e incertezas. “Aqui eu pirei. Testei cores e materiais novos, fiz esboços com uma linguagem diferente do que costumo fazer. As artes são soltas, inacabadas, com mais movimento e imperfeições. Eu não podia ter medo”, ele afirma.

O seu apartamento anterior, localizado no mesmo bairro, tinha 70 m² e também era colorido, mas com menos murais nas paredes. João saiu de lá porque o espaço ficou pequeno com o crescimento de seu trabalho – além de criar prints e telas, o carioca tem viajado o mundo para pintar casas e hotéis e feito parcerias com marcas de moda e decoração a fim de assinar a estamparia dos produtos.

“Eu não buscava um lugar tão grande e tinha pensado em instalar o meu ateliê em outro local. Mas quando cheguei aqui, fiquei apaixonado pelos elementos de madeira e pela integração dos ambientes”, ele conta.

No primeiro ano de casa nova, ele viajou muito e não teve vontade imediata de decorar os ambientes. Tudo mudou ao visitar a residência que o pintor Claude Monet viveu em Giverny, na França. “Lá os cômodos são coloridos, e assim que voltei, me desprendi das paredes brancas e comecei a pintar o apê. Também fui mobiliando aos poucos, procurando peças em garimpos e leilões”, diz João.

Os desenhos autorais preenchem tetos, paredes, quadros e acessórios, como as almofadas da sala. No ateliê, o armário embutido e um sofá foram customizados diretamente com tinta. Outras superfícies são adesivadas, como os azulejos na parede atrás do bar e nos banheiros.

O artista e designer manteve elementos originais do imóvel, como as portas, o piso das áreas sociais e o ladrilho hidráulico do hall e da sala de jantar.

Algumas luminárias foram trocadas por peças com estética vintage para combinar com as estruturas de madeira que, segundo o morador, remetem-no ao clima de fazenda.

Plantas escolhidas pelo jardineiro Fil Miranda estão espalhadas por todos os cômodos e completam a atmosfera acolhedora de “casa de campo”.

A varanda tem um jardim vertical com sistema de irrigação automático, o que permite o cuidado das espécies na ausência de João.

A área externa tem integração e pode ser acessada por todos os ambientes sociais, contribuindo com a ventilação cruzada e a abundância de iluminação natural do apê.

O sol, inclusive, é um elemento importante na vida do carioca: figuras lúdicas, que simbolizam o astro-rei e seus raios, caracterizam diversas de suas pinturas. É o caso do teto da sala, com estrelas e esboços dourados.

“Eu gosto muito de deitar no sof�� e ficar olhando para cima, principalmente para refletir sobre as palavras que escrevi ao redor. Elas servem como lembretes dos meus sentimentos nos momentos que as coloquei ali. Sou uma pessoa dinâmica, não gosto de rotina, e como sempre estou mudando de ideia, elas me ajudam a não me cobrar tanto”, ele comenta.

Ou seja, as palavras funcionam como recados para “viver o agora” – termo tatuado nas mãos de João e presente em um quadro pendurado no seu quarto. “São textos com dicas simples, como regar as plantas e usar menos o celular”, ele diz.

É com a vontade de aproveitar o presente que ele realiza outro grande projeto autoral no apartamento: o Baile Incerto, festa temática em que os cômodos são todos transformados para receber amigos e família.

“O evento acontece em um sábado de março para simbolizar a última catarse do verão”, conta. O fechamento da estação marca o início de outra, assim como João olha para o futuro com a certeza de querer publicar um livro e realizar uma exposição com suas artes e anseios.