Curiosidades

Por Redação Casa e Jardim

Casa e Jardim está em festa! A revista de decoração, arquitetura, design e paisagismo completa 70 anos, sendo o título mais antigo em circulação no Brasil. Foi em junho de 1953 que estreou nas bancas, tendo como presidente Carlos Oscar Reinchenbach, pai do cineasta Carlos Reichenbach, na Editora Monumento.

“Penso ser oportuno que a história da revista Casa e Jardim comece em 1953, uma época tão produtiva da arquitetura moderna no Brasil. Uma nova arquitetura era pensada, outros modos de viver, uma estética mais limpa, mais racional”, afirma a arquiteta Ana Sawaia.

“Não dá para dizer como era a casa brasileira naquele período, uma vez que há diferentes classes sociais e regiões, mas ocorria a verticalização dos grandes centros urbanos, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre”, diz Marcelo Tramontano, professor associado do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAC-USP), em São Carlos, e coordenador do Nomads – Núcleo de Estudos de Habitares Interativos – da USP. Para convencer as famílias a morar empilhadas, segundo ele, os construtores apostavam em edifícios com projetos de arquitetos muitos bons.

O modernismo florescia. Com suas capas coloridas, Casa e Jardim ia retratando o fenômeno, tendo como leitor-alvo a mulher de classe média, que encontraria também na publicação “as atividades que interessam a dona de casa e ao jardim”. Por outro lado, contava com colunistas ilustres, como Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira.

A figura feminina

Algumas das capas da Casa e Jardim no decorrer dos anos 1950 — Foto: Acervo Casa e Jardim / Editora Globo
Algumas das capas da Casa e Jardim no decorrer dos anos 1950 — Foto: Acervo Casa e Jardim / Editora Globo

Observando em 2023 as capas da época, nota-se o quão submisso era o papel da mulher na sociedade, como a figura feminina cuidando da comida saindo do forno, sentada no chão, lendo uma revista de cabeça baixa enquanto o marido ficava garboso no sofá, ou ela junto de seu bebê e um berço. Essas imagens se equilibravam com edições em que, nas capas, eram exibidos projetos de arquitetura e decoração. “A casa foi mudando com a emancipação feminina”, observa Marcelo.

Em 1965, a revista passou a ser publicada pela Editora Fernando Chinaglia, ou Efece, continuando a retratar a casa brasileira. Nos anos 1980, estavam lá projetos iniciais de profissionais hoje consagrados, como João Armentano e Roberto Migotto. Era um tempo em que se prezava certo bom gosto e nem passava pela cabeça retratar casas de artistas diversos, que não seguiam o “olhar apurado” da época. No período, destacavam-se seções como a destinada ao antiquariato, em alta então.

Vale notar que o design brasileiro, depois dos pioneiros modernistas, começava a se desenvolver mais fortemente, como se viu na produção de Fulvio Nanni Jr. e dos irmãos Fernando e Humberto Campana. “Casa e Jardim mostrou em detalhes a produção dos modernistas e hoje revela o trabalho da nova geração, com boa parte bebendo daquela fonte”, comenta Maria Cecilia Loschiavo dos Santos, professora titular de design na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).

Algumas das capas da Casa e Jardim no decorrer dos anos 1960 e 1970 — Foto: Acervo Casa e Jardim / Editora Globo
Algumas das capas da Casa e Jardim no decorrer dos anos 1960 e 1970 — Foto: Acervo Casa e Jardim / Editora Globo

Os grandes nomes da arquitetura e do design passaram pelas páginas da revista, como Oscar Niemeyer, que teve uma emblemática entrevista publicada em 1979. Já naquela época, ele dizia: “A arquitetura brasileira está sufocada pelo urbanismo mal feito, pela pressão imobiliária, pelo desinteresse dos órgãos públicos...”.

Nova era

Casa e Jardim passou a ser publicada em 1998 pela Editora Globo, que adquiriu o título. Foi um período a partir do qual a publicação mirou não apenas a família com pai, mãe e filho, mas abriu-se para outras configurações familiares. A família mudou, e com ela, a revista. Afinal, morar só ou com um pet, ter um companheiro do mesmo sexo ou ser mãe solo são situações que também integram o escopo da sociedade e dos leitores. Mais recentemente, a revista passou também a valorizar a representatividade negra vista no país. Trazer os moradores nas capas virou uma marca desde 2009.

Casa e Jardim é a publicação que retrata a diversidade da moradia brasileira”, opina o arquiteto Daniel Mangabeira. Para o arquiteto e designer Marcelo Alvarenga, a publicação é sinônimo de Brasil. “Participar da vida cotidiana dos brasileiros por tantos anos, refletindo nossos hábitos e movimentando nosso imaginário, não é pouca coisa”, afirma o profissional.

Para o arquiteto Leo Romano, Casa e Jardim tem afeto, cheiro de bolo feito na hora e perfume de quintal. “Revista com gente feita para gente”, enfatiza ele. O que mais cativa a arquiteta Juliana Pippi são as histórias das pessoas e sua relação com a casa, o que fez Casa e Jardim ser pioneira e desenvolver “um estilo próprio de jornalismo, humanizando os projetos”.

O veículo captou o zeitgeist, espírito do tempo, nesse período, o que foi crucial para dar-lhe personalidade única. Começou-se então a valorizar as memórias afetivas, o feito à mão, a casa vista como ninho. E assim a revista foi cada vez mais tendo uma cara própria, sobressaindo-se à concorrência.

Sem certo ou errado

Hoje, sua missão é despertar o interesse pela casa e ser uma ferramenta capaz de tornar possível o sonho de morar bem de qualquer pessoa. Difunde as tendências e os movimentos do mercado, sem imposições, o que faz a casa ser um espaço autêntico, cheio de personalidade, autoral e individualizado, do living ao jardim.

A publicação defende a pluralidade de estilos, feitos por profissionais da área ou não, o garimpo, o DIY, sem certo ou errado. Detalhe: a marca ainda apresenta uma seleção de receitas propostas por grandes chefs para incentivar os prazeres simples da vida. A revista é encontrada nas versões impressa e digital e conta com um site concorrido, sempre com novidades quentes para o leitor diário. “Hoje a revista tem um site e Instagram favoritos na conexão com informação, cultura e exemplos”, comenta a arquiteta Paula Neder.

Na gestão da Editora Globo, Casa e Jardim criou uma série de eventos, como A Felicidade Mora Aqui, que trouxe para o Brasil nomes como o designer de interiores Thom Filicia, o fotógrafo Todd Selby, e os designers Nipa Doshi e Jonathan Levien entre os anos 2009 e 2011.

No ano seguinte, lançou o evento Colour Experience, em que a designer Tricia Guild, criadora da britânica Designers Guild, pôde falar sobre seu processo de estamparia. Mais tarde, em 2016, lançou o Prêmio Ninho, a fim de mostrar projetos de arquitetura, design de interiores e paisagismo com sua veia editorial. E, desde 2019, seu principal evento é o Prêmio Casa e Jardim, que prestigia e reconhece projetos publicados na revista ao longo do ano, sempre procurando reforçar seus valores, entre eles, brasilidade, originalidade e identidade.

A cada dez anos

A evolução da revista fica bem mais clara ao contar, em pinceladas, o que exibiu década a década. Os pés palito e os tampos de formas ameboides reinavam nos anos 1950, enquanto na década seguinte as casas modernas exibiam mobiliário de Sergio Rodrigues e Zanine Caldas, entre outros, convivendo com as residências de estilo clássico, que faziam tanto sucesso quanto as primeiras.

Algumas das capas da Casa e Jardim no decorrer dos anos 1980 e 1990 — Foto: Acervo Casa e Jardim / Editora Globo
Algumas das capas da Casa e Jardim no decorrer dos anos 1980 e 1990 — Foto: Acervo Casa e Jardim / Editora Globo

Desenhos gráficos e materiais como aço cromado, acrílico e plástico, em cores vibrantes marcaram os anos 1970. Na década de 1980, diferentes estilos são vistos nas casas, como o contemporâneo, o neoclássico e o dos anos 1950, além de pitadas high tech e a influência do movimento italiano Memphis. Logo a seguir, vêm com força o minimalismo e a valorização do design, além de ambientes em que o étnico, o tecnológico, o high tech e o antigo começam a se misturar, o que será visto com mais força nos dez anos seguintes.

Neles, a atenção com a sustentabilidade, antes tímida, ganha o ideário de profissionais e moradores. A preocupação com o meio ambiente leva a móveis e objetos produzidos com reciclagem, madeira certificada e a materiais de construção menos agressivos à natureza. Isso permanece nos anos 2010, quando explode uma realidade que já vinha crescendo desde anos anteriores: a valorização do mobiliário vintage.

A integração das salas de estar e de jantar com a cozinha se torna mais vista, passando a ser o ambiente de preparo de refeições a estrela da casa. Agora, nos anos 2020, vemos, entre outras vertentes, a biofilia e o emprego da tecnologia amigável, além de uma tendência clara do mercado imobiliário, que é a diminuição da área das habitações – como aponta Marcelo, que não acredita no refluxo dessa situação.

Em todo esse período, profissionais de diferentes vocações foram exibidos em Casa e Jardim, desde os modernos até os ligados ao luxo. A revista sempre esteve de portas abertas a novos arquitetos e decoradores e seus projetos. O arquiteto David Bastos é um deles. “Casa e Jardim retratou meu trabalho muito bem e é um prazer grande comemorar seus 70 anos”, diz ele.

Vitor Penha é outro arquiteto cujos projetos apresentam “o charme do imperfeito” — denominação usada pela revista para classificar seu trabalho. “Ter meu apartamento na capa foi um portal que modificou minha realidade e vida e que direciona meu trabalho até hoje”, diz ele. Para a arquiteta Gisele Taranto, o veículo possui uma “curadoria primorosa”. “É um veículo que sempre esteve comprometido em valorizar a história do mobiliário moderno brasileiro e narrar o que acontece nos cenários nacional e internacional”, diz o galerista Teo Vilela.

Algumas das capas da Casa e Jardim no decorrer dos anos 2000 — Foto: Acervo Casa e Jardim / Editora Globo
Algumas das capas da Casa e Jardim no decorrer dos anos 2000 — Foto: Acervo Casa e Jardim / Editora Globo

Reminiscência e o futuro

As sete décadas de história mexem com a memória de muita gente. Para o arquiteto, designer e curador Bruno Simões, filho de arquitetos, as lembranças vêm desde o berço. “Da união da necessidade de informar, ou prestar um serviço, com a vocação de se conectar com temas relevantes – não apenas de estética, mas de vivência e convivência –, saem edições que conversam com o presente e com uma realidade comum a diversas pessoas”, comenta ele.

Já o arquiteto Daniel Bolson diz que Casa e Jardim o encanta por “conseguir transmitir algo para além de fotografias perfeitas e estáticas”. “À medida que avançamos para o futuro, a revista tem explorado novas plataformas e formatos para se conectar com seu público. Combinando tradição e inovação, a publicação se mantém como uma referência no mercado, adaptando-se às demandas contemporâneas e inspirando as próximas gerações de apaixonados por arquitetura e design de interiores”, discorre o curador de design Waldick Jatobá.

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