Por ser o primeiro mês do ano, janeiro nos inspira a refletir sobre as nossas vidas e a maneira com a qual as vivemos. Por esta mesma razão, foi o mês escolhido para conscientizar a sociedade sobre a importância da saúde mental e emocional através da campanha Janeiro Branco.
Dos muitos cuidados que podemos adotar para uma vida mais tranquila e saudável, há alguns relacionados à rotina em casa. Uma das estratégias, por exemplo, é criar ambientes que promovam bem-estar e qualidade de vida – exatamente o que defende a neuroarquitetura.
Se você nunca ouviu falar deste termo, trata-se da comunhão entre a neurociência e a arquitetura, que busca analisar os impactos do ambiente físico no comportamento humano, enquanto fornece ferramentas para a concepção de ambientes pautada no bem-estar.
Afinal, como afirma a arquiteta Priscilla Bencke, co-fundadora da NEUROARQ® Academy, todo espaço exerce uma influência significativa em nosso corpo e cérebro.
"O propósito da neuroarquitetura é compreender como o espaço influencia nosso sistema nervoso e, igualmente importante, como afeta nosso comportamento e interação com todos os sistemas envolvidos", explica.
![Luz natural e elementos que remetem à natureza podem ajudar a reduzir o estresse e aumentar a sensação de bem-estar em casa. Na foto, projeto de o arquiteto Alexandre Dal Fabbro. O piso traz mármore travertino junto ao deque de madeira e à grama amendoim. Nas paredes, o tijolo rústico se mistura à fachada do prédio e aos painéis ripados de madeira — Foto: Renato Navarro / Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casaejardim.glbimg.com/utz7zw-2YcyndDrxc3vvDMBVeFE=/0x0:1400x933/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_a0b7e59562ef42049f4e191fe476fe7d/internal_photos/bs/2023/B/J/1PxNeZQpKtga0CsfgBgA/alexandre-dal-fabbro1.jpg)
Aplicar a neurociência à arquitetura, portanto, também é buscar criar espaços que propiciem uma experiência mais positiva e saudável para as pessoas que os usam.
Como considerar a saúde mental no projeto
Priscilla explica que o projeto de ambientes eficientes não se baseia apenas em parâmetros técnicos, como legislação, ergonomia e conforto ambiental, mas também considera aspectos subjetivos – a exemplo de emoção, felicidade e bem-estar.
Importantes fatores, como percepção espacial, iluminação, cores e temperatura, contribuem para esses aspectos subjetivos mencionados, mas as suas aplicações variam conforme o caso.
Como, então, projetar um espaço priorizando a saúde mental? Para a arquiteta Gabi Sartori, também fundadora da NEUROARQ® Academy, não há uma regra geral, mas ela traz alguns exemplos. "Aproveitar a luz natural pode melhorar o humor e a produtividade, enquanto incorporar plantas, água e elementos naturais nos espaços internos e externos pode reduzir o estresse e aumentar a sensação de bem-estar", diz.
![Cores e texturas distintas podem influenciar o humor e a cognição dos moradores. Na foto, projeto do designer de interiores Thiago Herrera. Acima, o vitral colorido original do apartamento. Abaixo, poltrona de tronco que Zezé Motta, a moradora, ganhou de presente de um amigo. Bufê Cerchio D’Oro e pendentes da Westwing. Peças decorativas da Dracena Home — Foto: Maura Mello / Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casaejardim.glbimg.com/g131b167Gc8PCUruUTnWldIu7TE=/0x0:1400x2098/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_a0b7e59562ef42049f4e191fe476fe7d/internal_photos/bs/2022/7/a/ZAKS3cQ1Wz9yNpxNOvPw/zeze-motta-apartamento-rj-imovel-clarice-lispector-decoracao-projeto-casa-jardim-8-.jpg)
Por sua vez, diferentes cores e texturas podem ter efeitos variados no humor e na cognição, e projetar espaços com boa acústica pode reduzir o estresse causado por ruídos indesejados, explica a profissional.
Por outro lado, há aquilo que devemos evitar para não criar um ambiente estressante. Segundo Gabi e Priscilla, essa lista inclui luz inadequada, ruído constante, falta de espaço pessoal, ausência de elementos naturais, má qualidade do ar e a falta de consideração pelas necessidades de todos os usuários.
Emily Gomes de Souza, psiquiatra da clínica Revitalis, acrescenta importantes dicas: "A nossa casa, na maior parte das vezes, é o nosso refúgio. Acredito que manter um ambiente organizado, limpo, com espaço adequado para descansar, cozinhar, ler e se exercitar seja algo necessário", diz.
![Um ambiente inundado de luz natural pode nos inspirar à meditação, enquanto cômodos com luminosidade confortável nos estimula a preparar o corpo para o sono. Na foto, sala de TV projetada por a designer de interiores Lívia Boechat, do escritório LB Interiores. Sofá da Vivence. Tapete da Mão do Oriente. Luminárias da Dimlux. Objetos decorativos da Casa Ocre e Nara Maitre — Foto: Renata Freitas / Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casaejardim.glbimg.com/bBp4wNVkAUrpxaiXP37Zn2en7HE=/0x0:1400x933/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_a0b7e59562ef42049f4e191fe476fe7d/internal_photos/bs/2024/K/Z/Z8e20rSBmkg3PsgGlbxg/lb-interiores.jpg)
Como as arquitetas, Emily defende a incorporação de elementos da natureza no projeto, como plantas e luz solar. "Além disso, cada ambiente da casa deve ser pensado para nos estimular a fazer determinada atividade. Um cômodo com mais claridade e luz solar, por exemplo, pode nos estimular a meditar em casa. Já um quarto com iluminação baixa e confortável nos estimula a preparar o corpo para iniciar o sono", explica.
Pets, grandes aliados da saúde mental
![A companhia dos pets é capaz de aumentar os nossos indicadores neuroquímicos de comportamentos afiliativos — Foto: Unsplash / Chewy / Creative Commons](https://cdn.statically.io/img/s2-casaejardim.glbimg.com/Xbwhcevd8I_1_pAIW99vAnQsH6I=/0x0:1400x946/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_a0b7e59562ef42049f4e191fe476fe7d/internal_photos/bs/2024/n/u/mo1kErSEOhOeQQpg90vw/1-janeiro-branco-saiba-como-cuidar-da-saude-mental-em-casa.jpg)
Há, ainda, outros aliados da saúde mental quando o assunto é cuidado em casa: os pets. Tê-los ao seu lado pode ser a chave para uma rotina mais feliz e tranquila.
"Diversos estudos têm sido realizados a fim de provar cientificamente que a companhia dos pets pode aumentar nossos indicadores neuroquímicos de comportamentos afiliativos, como endorfina, prolactina e dopamina", diz Emily.
Para citar uma dessas investigações, em 2023 foi publicado um estudo na revista científica Frontiers in Public Health sobre a influência dos bichos na vida diária física e mental dos seres humanos.
"Os resultados mostraram que as pessoas que possuíam pets acabam por fazer mais exercício físico e possuíam maiores níveis suporte social, felicidade, satisfação com a vida, autorregulação e menores níveis de solidão do que aquelas que não possuíam", comenta a psiquiatra, que acrescenta que a sua maior alegria ao fim de um dia de trabalho é chegar em casa e ser recebida por seu cachorro com aquela alegria inesgotável.