Luiz Sobral Fernandes

Por Luiz Sobral Fernandes

Colunista | Arquiteto sócio da Meridional Arquitetura, escritório que atua em projetos de diferentes escalas e Doutorando pela ETSAB/UPC Barcelona, na Espanha

Oscar Niemeyer (1907-2012) se tornou, ao longo de sua atuação profissional, uma verdadeira lenda da arquitetura latino-americana. Graduado pela Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1934, participou, ainda nos anos 1930, do projeto para o Ministério da Educação e Saúde Pública de Getúlio Vargas.

Este trabalho, feito sob liderança do arquiteto Lucio Costa e com consultoria de Le Corbusier, é o cartão de visita da arquitetura moderna brasileira e pontapé inicial da carreira de Niemeyer.

A participação do profissional, nas décadas seguintes, em projetos como o conjunto da Pampulha (1942 a 1944), a sede da ONU em Nova York (1948 a 1952) e o Pavilhão brasileiro na feira Mundial de Nova York (1939) deram ao arquiteto repercussão nacional e internacional e um trânsito importante entre pessoas do poder.

Este holofote apontou para encomendas de projetos cada vez maiores, que culminariam nos edifícios principais da cidade de Brasília, tornando-o conhecido pela realização de locais públicos e cívicos de grande escala. No entanto, Niemeyer projetou muitas residências ao logo de sua vida para amigos, família e clientes.

Uma das casas mais conhecidas projetada pelo arquiteto foi também sua residência por muitos anos. A Casa das Canoas, feita entre 1950 e 1954, é uma das residências modernas mais importantes feita ao longo do século 20 em uma seleção que inclui a Ville Savoye (1929) de Le Corbusier, a Falling Water House (1935-37) de Frank Lloyd Wright, a Glass House (1945-49) de Philip Johnson e a Farnsworth House (1945-51) de Mies van der Rohe.

A casa de Niemeyer está implantada em um terreno em decline rodeado da Mata Atlântica local. A cobertura orgânica, de formas sinuosas, sombreia toda a parte social do projeto, que trabalha com salas e áreas de lazer envidraçadas.

O arquiteto projetou muitas outras casas em sua carreira que merecem reconhecimento pelas soluções ousadas e criatividade. A residência Cavanelas é um exemplo disso. O imóvel, que tem cerca de 150 m², está todo abaixo de uma espécie de tenda concava, que se sustenta somente com o apoio de quatro pilares de pedra. Os fechamentos de vidro permitem que seja visível do interior o paisagismo exuberante de Roberto Burle Marx.

Para restaurar o jardim, o morador precisou buscar espécies em outros estados do país — Foto: Gustavo Theme / Divulgação
Para restaurar o jardim, o morador precisou buscar espécies em outros estados do país — Foto: Gustavo Theme / Divulgação

Mesmo sendo estas as casas mais famosas de Niemeyer, o arquiteto projetou, ao longo de quase 80 anos de carreira, muitas outras residências. Ainda que elas apresentem elementos marcantes do trabalho do arquiteto – como o uso de formas orgânicas –, elas contêm experiências com outros materiais e possibilidades de projeto.

Projetada nos anos 1960, a casa do Alto de Pinheiros é a única residência de Niemeyer em São Paulo — Foto: Agulha no Celeiro / Reprodução
Projetada nos anos 1960, a casa do Alto de Pinheiros é a única residência de Niemeyer em São Paulo — Foto: Agulha no Celeiro / Reprodução

Quase 10 anos antes do projeto da Casa das Canoas, Niemeyer havia projetado outra residência para si. Esta morada, feita na região alta da Lagoa Rodrigo de Freitas, é feita com elementos de técnica construtiva tradicional – por exemplo, o pavimento superior tem telhado de uma água, inclinado, de madeira e com telhas de barro.

Ainda que seja uma construção moderna, é também uma casa tropical e carioca, e lembra, em muito, alguns dos projetos residenciais de Lucio Costa no período. Um imóvel projetado por Niemeyer também com este perfil é a residência Francisco Peixoto, de 1941, construída na cidade de Cataguases. Mais um exemplo de uma casa moderna, que faz uso de alguns elementos construtivos locais.

Ainda outro exemplo é a casa que o arquiteto projetou para Darcy Ribeiro na praia de Maricá em 1983. Niemeyer desenha uma residência com planta circular, que abraça uma pequena piscina e enquadra a vista para a praia. Diferentemente dos projetos que o arquiteto fez para Brasília, onde o espírito monumental prevalece, aqui, ele desenha uma morada de pequenas dimensões, com telhado de madeira, telhas de barro e técnica construtiva simplificada – aliás, a casa deve ter sido construída por mão de obra local.

Para os interessados nas casas projetadas pelo arquiteto, recomendo uma busca no site da Fundação Oscar Niemeyer, que disponibilizou parte do acervo do arquiteto em versão digital. No portal, estão muitas outras residências – a maioria delas não construída –, onde é possível perceber como, ao longo de sua trajetória profissional, além dos projetos de grande escala, realizou também trabalhos residenciais, onde foi possível explorar técnicas construtivas e outras arquiteturas.

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