Luiz Sobral Fernandes

Por Luiz Sobral Fernandes

Colunista | Arquiteto sócio da Meridional Arquitetura, escritório que atua em projetos de diferentes escalas e Doutorando pela ETSAB/UPC Barcelona, na Espanha

Luis Ramiro Barragán Morfin nasceu em 1902, no berço de uma família endinheirada de Guadalajara. Concluiu o curso de engenharia na Escola Livre de Engenharia de Guadalajara em 1923, e iniciou a atuação profissional em sua cidade natal, além de uma série de viagens para a Europa e os Estados Unidos – o que os críticos de arquitetura definem como crucial para sua formação.

Em um primeiro período, Barragán projetou residências tradicionais, como a Casa Aguilar, de 1928, e a Casa Cristo, de 1929. Ainda que sejam trabalhos interessantes, com soluções e acabamentos refinados, essa obras estão plasticamente distante dos trabalhos que ele realizaria posteriormente.

As cores marcantes começam a se destacar nos projetos de Luis Barragán em sua própria casa — Foto: Barragán Foundation / Divulgação
As cores marcantes começam a se destacar nos projetos de Luis Barragán em sua própria casa — Foto: Barragán Foundation / Divulgação

Uma segunda fase se inicia com a transferência de sua oficina para a Cidade do México. Na maior cidade do país, ele encontrou terreno fértil para experimentações. Afinal, a capital se encontrava em crescimento, com novos bairros e prédios surgindo.

Barragán aproveitou este momento para investir, projetando edifícios para aumentar sua renda e criando novos loteamentos. Em paralelo, desenvolveu alguns prédios que o transformaram em um dos mais importantes arquitetos do século 20.

Em 1936, projetou um conjunto de sobrados geminados na Avenida Parque México. Essas casas, hoje muito bem preservadas, foram fortemente influenciadas pela arquitetura moderna que se desenvolveu, nas primeiras décadas do século 20 na Europa.

São residências com garagem no térreo, um pequeno pátio ao fundo, sala e cozinha no primeiro pavimento, dormitórios no pavimento superior e uma área de solário no último piso, feito acima da laje. Com pintura branca e caixilhos metálicos de canto, são uma obra-prima de execução e concepção – mas ainda não denunciam muitas outras facetas deste arquiteto.

A casa de Luis Barragán na Cidade do México foi construída nos anos 1940 — Foto: Wikimedia / Creative Commons
A casa de Luis Barragán na Cidade do México foi construída nos anos 1940 — Foto: Wikimedia / Creative Commons

É na Casa Jardim Ortega, projetada para si nos anos 1940, que algumas nuances de seu trabalho começam a aparecer. É uma morada com cores, tons de rosa, laranja e amarelo; e proporções inusitadas, com portas largas e baixas, volumes, salas e ambientes acessados por pequenas escadas e ambientes rebaixados em relação ao jardim externo.

Vendida alguns anos depois, Barragán construiu sua residência definitiva no terreno ao lado, um espaço para a criação, de onde surgiram as espacialidades que tornaram este arquiteto tão conhecido mundo afora. Ali estão, de forma potencializada, as cores, os ambientes com proporções pouco comuns, jogos de cor e sombra e pátios desenhados com maestria.

A partir do final dos anos 1940, Barragán realizou, em paralelo a projetos de menor envergadura, obras como a Casa Prieto López (1948-1951), o Convento e a Capela das Capuchinas (1954-1963), e a Casa Gálvez (1955). Estes trabalhos reforçam as experiências estéticas feitas pelo arquiteto em sua residência pessoal. Talvez o maior projeto desta fase sejam as Quadras São Cristóbal, já nos anos 1960.

Quadras São Cristobal é uma propriedade com casa, piscina, área de lazer e espaço para cavalos — Foto: Barragán Foundation / Divulgação
Quadras São Cristobal é uma propriedade com casa, piscina, área de lazer e espaço para cavalos — Foto: Barragán Foundation / Divulgação

As quadras são um local cênico, de alto potencial estético, onde os elementos e as cores são posicionadas para garantir as melhores perspectivas e a apreensão estética do lugar. Este projeto também marca uma repercussão internacional dos trabalhos de Luis Barragán.

No mundo da arquitetura, o profissional se consolida internacionalmente em meados dos anos 1970, com uma exposição realizada no MoMA, em Nova York. A presença de Barragán nos Estados Unidos termina com algumas encomendas feitas ao arquiteto no exterior e com o prêmio Pritzker, o mais importante da área, recebido no ano de 1980.

Barragán viveu até 1988, falecendo na Cidade do México após ter vivenciado a repercussão positiva que seu trabalho recebe até hoje de profissionais e interessados em arquitetura.

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