Arte
Por , com Alex Alcantara

No sul de Burkina Faso, às margens da fronteira com o norte de Gana, encontra-se a vila de Tiébélé, lar da tribo kassena, uma das mais antigas da África ocidental. As casas da comunidade chamam atenção pelas belas pinturas em suas paredes, com formas que remetem a aspectos da natureza e das diversas linhagens familiares, sendo uma expressão da herança cultural e artística deste povo.

Para além de suas funções residenciais, as casas de Tiébélé são verdadeiras obras de arte. Segundo Renato Araújo da Silva, curador e consultor em arte, os padrões e símbolos presentes nas estruturas da tribo kassena têm uma forte ligação com a continuidade das linhagens familiares.

O especialista explica que a tribo kassena se organiza pelo conceito de família estendida, ou seja, são considerados “irmãos” os filhos dos mesmos pais, os filhos de mãe ou pai diferentes e também os primos, o que torna comum pais, filhos, tios, primos e avós viverem em uma mesma casa ou em um mesmo conjunto de casas.

Cada símbolo, forma geométrica e desenho pintado pelas mulheres da tribo kassena tem um significado diferente, geralmente relacionado à ancestralidade ou  natureza — Foto: Wikimedia Commons / Alexander Leisser / Creative Commons
Cada símbolo, forma geométrica e desenho pintado pelas mulheres da tribo kassena tem um significado diferente, geralmente relacionado à ancestralidade ou natureza — Foto: Wikimedia Commons / Alexander Leisser / Creative Commons

“Segundo essa organização, a posse da terra não pode ser individual e, sim, familiar. Você, seus irmãos e primos herdam juntos a mesma terra, os campos e as casas antes pertencentes à família dos seus ancestrais em comum. Daí o cuidado com elas, embelezando-as com formas artísticas que lembrem a todos o quanto essa ligação ancestral é importante. Essa tradição de embelezamento e memória é feita por todas as mulheres dessa linhagem”, explica Renato.

A edificação das residências de Tiébélé é feita durante a estação seca e a pintura e decoração pouco antes do período de chuvas. Os materiais usados para a estrutura das residências variam entre terra, madeira e palha misturados a esterco de vaca.

Os moradores da vila de Tiébélé usam terra, madeira e palha misturados a esterco de vaca para construir suas casas — Foto: Flickr / Guillaume Colin & Pauline Penot / Creative Commons
Os moradores da vila de Tiébélé usam terra, madeira e palha misturados a esterco de vaca para construir suas casas — Foto: Flickr / Guillaume Colin & Pauline Penot / Creative Commons

Apesar da construção e do cuidado das casas ser feito por todos, o trabalho construtivo mais pesado é responsabilidade dos homens e a pintura externa fica a cargo das mulheres. Após a estação chuvosa, são elas que realizam reformas nas construções: reforçam as pinturas que se desgastaram e os alicerces, como forma de proteção contra o processo erosivo.

Segundo Renato, as mulheres são responsáveis pela pintura das casas, pois têm um papel crucial em diversos aspectos da tribo kassena, como no casamento e na continuidade da linhagem familiar. “Embora o sistema de parentesco dos kassena seja patrilinear (isto é, as heranças são transmitidas por via paterna), as mulheres desempenham papéis significativos na vida comunitária e familiar, na economia doméstica, desde agricultura, cestaria, cerâmica até as artes em geral”, afirma.

As casas da tribo kassena têm formas circulares ou quadradas e as pinturas que as decoram têm uma rica pluralidade de formas geométricas, sempre ligadas à ancestralidade ou natureza.

“Em um repertório básico transmitido de geração em geração, cada mulher, cabeça de família, pode executar suas próprias formas artísticas que decidir. Talvez aquela estação das chuvas foi rica e ela queira agradecer aos seus ancestrais, fazendo decorações fluviais ou pastos simbólicos e geometrizantes, indicando que a colheita daquele ano terá abundância. Ou, talvez este ano, ela procure uma proteção especial a alguém doente e utilize as formas de gaviões, já que, na crença kassena, esses pássaros podem evitar doenças graves,”, conclui Renato.

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