• Texto Thaís Lauton | Foto Gui Morelli
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“Todos os nossos produtos, por mais design e tecnologia que possuam, sempre têm algo feito à mão.

“Todos os nossos produtos, por mais design e tecnologia
que possuam, sempre têm algo feito à mão." João Saccaro
(Foto: Gui Morelli/ Editora Globo)

Casa e Jardim - A história da Saccaro começa com a fabricação de cestas de vime?
João Saccaro -
Sim. Meu pai (Sr. Albino Saccaro) é o filho mais novo de uma família de 12 irmãos. Meus avós, imigrantes, eram agricultores. Conforme os filhos cresciam, eles davam um pedaço de terra para cada um. O problema é que quando chegou a vez do meu pai, possivelmente por um erro de cálculo, quase não havia terra disponível. Foi então que meu avô incentivou o meu pai a ter outra atividade. Na época, em 1946, o vilarejo onde nós morávamos, Ana Rech, era bastante turístico. Ele estava para Caxias do Sul como Campos do Jordão está para São Paulo. Daí surgiu a ideia de fazer artesanato a partir do vime, cestaria. Alguns anos depois, ele chegou a produzir móveis de vime, mas com o crescimento das vinícolas na região, voltou-se para o revestimento dos garrafões de vinho. Porém, entre 1972 e 1974, o uso do plástico para o mesmo fim começou a prejudicar os negócios. E foi aí que meu pai resolveu voltara produzir móveis de vime. Nessa época, os meus irmãos mais velhos (são oito filhos, dos quais João é o caçula) começaram a ajudar, e o negócio ganhou formato mais 'industrial'. Até que, por volta de 1982 ou 1983, a empresa vendia móveis populares, com pouco valor agregado, e se deparou com uma crise no país. Foi aí que surgiu a ideia de partir para uma produção mais elaborada, com peças diferenciadas, acrescentando à fibra elementos como tecidos, tingimento, mármore e madeira.

CJ - E como foi essa evolução ?
JS -
Entre os anos de 1984 e 1986, nós fomos para o Salão do Móvel de Milão pela primeira vez, para ver o que o mercado internacional estava produzindo em fibra, e ficamos surpresos com a gama de possibilidades em torno do tema. A partir desse momento, começamos a investir em marca e a nos posicionar como uma empresa que investia em design, com produtos assinados, primeiro pelo arquiteto Renato Solio e, mais tarde, pela arquiteta Ana Vazquez. Aliás, no próximo ano, nós vamos comemorar 30 anos dessa mudança de postura.

CJ - Como foi a trajetória da marca com relação à produção de móveis?
JS -
Nós iniciamos produzindo peças de vime, depois de junco e, mais tarde, de cana-da-índia. Quando passamos a desenvolver pontos de venda exclusivos, percebemos que o mercado pedia variedade. Foi aí que começamos a trabalhar os estofados, a madeira e, nesse meio tempo, os móveis de jardim.

CJ - Quais são os materiais que atualmente a Saccaro utiliza em suas peças?
JS -
Hoje nós trabalhamos com a málaca e o ratã, que só existem no Extremo Oriente. Importamos a matéria-prima e o móvel inacabado. Também utilizamos vários tipos de madeira e de alumínio. Já no caso da fibra sintética, nós desenvolvemos um modelo mais resistente aos impactos causados pelo cloro, pelo protetor solar, pela luz e pelos raios ultravioleta e fabricamos sob a marca X-Fiber. Isso faz com que possamos assegurar ao cliente um produto de qualidade, com três anos de garantia.

CJ - E com relação à madeira, vocês trabalham com quais tipos?
JS -
Utilizamos basicamente o jequitibá e a garapeira, que é uma madeira semelhante à teca, porém mais pesada, ideal para móveis de madeira. E importamos um tipo argentino chamado paraíso (como um plátano). Todas as madeiras têm o selo verde e obedecem rigorosamente às regras dos órgãos ambientais. Aliás, nós entendemos que devemos dar continuidade ao negócio respeitando as regras sociais e ambientais.

CJ - Hoje são quantos pontos de venda?
JS -
São 25 lojas exclusivas no Brasil e 15 galerias, que são como multimarcas. A diferença é que o lojista tem de criar uma separação e uma diferenciação dentro de sua loja, com a formatação da Saccaro. Temos 16 pontos de venda fora do Brasil, entre eles uma loja e outras seis galerias na El Palacio de Hierro, no México. E devemos finalizar, neste semestre, uma segunda loja no sul da Cidade do México. Em Miami, temos uma loja de 1 mil m² e estamos prestes a inaugurar mais uma galeria. Além disso, abriremos outros pontos no Panamá, em Porto Rico, na Venezuela, isso só para citar alguns.

CJ - Qual é a atuação da Saccaro no mercado corporativo?
JS -
Nós adquirimos know-how e criamos uma linha específica para o mercado corporativo, mas nada impede que sejam desenvolvidas peças personalizadas para hotéis, restaurantes etc.

CJ - O que é feito para aproximar profissional e consumidor da marca?
JS -
Há três anos, nós desenvolvemos um aplicativo que exibe todos os produtos e suas especificações técnicas. É possível tanto 'favoritar' as peças e depois mostrá-las para o cliente, como ambientá-las a partir de uma foto que tenha sido tirada do ambiente. O aplicativo surgiu para evitar inconvenientes como a desatualização do catálogo impresso e é constantemente atualizado.

CJ - O que diferencia a Saccaro de outras marcas de mobiliário?
JS -
Acredito que seja um conjunto de fatores. Isso inclui as pessoas, os serviços, os pontos de venda, a experiência de compra, o design, além da credibilidade e confiabilidade que regem a marca.