• Texto Maria Beatriz Gonçalves | Produção Bruna Pereira
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A atmosfera cromática do jogo de luzes enfatiza tons de magenta, violeta e verde (Foto: Tomas Arthuzzi / Editora Globo)

A atmosfera cromática do jogo de luzes enfatiza tons de magenta, violeta e verde. “Cria uma atmosfera de transcendência e mistério”, diz Ana Kreutzer. Da esq. para a dir., vasos de vidro de Guto Requena para Dpot Objeto, de Jaqueline Terpins, da Ovo e de Carol Gay (Foto Tomas Arthuzzi / Editora Globo)

Pode ser irresistível para a maioria das pessoas se esgueirar em uma janela qualquer ao menor sinal dos raios de luz âmbar, nem sempre visíveis, que marcam o início do pôr do sol. Há quem se encante mais com os amarelos pálidos e azuis suaves específicos da manhã. A fugacidade é o elemento comum em ambos os momentos.

Em Londres, um estúdio de ioga decidiu “eternizar” o potencial desse contato e passou a associar os exercícios posturais e de alongamento a cenas criadas com luz artificial. Ao reproduzir o que seria a iluminação do começo e do final do dia em uma única aula, tornaram possível potencializar a imersão sensorial que vem de cada momento, induzindo o corpo, por exemplo, a ir do estágio de alerta máximo à hora em que costuma atingir altas temperaturas – se preparando para o cair da noite, que é quando começam a surgir no céu as nuances do violeta.

A vontade de integrar elementos naturais ao ambiente doméstico é algo que ganhou força ultimamente. As abordagens são muitas, indo desde o cultivo de plantas em casa para equilibrar a temperatura até uma vida simplificada por um certo minimalismo associado ao bem-estar. A ideia é que “hackear” as nuances do violeta e do magenta do cair da noite em casa pode, por exemplo, ajudar a impulsionar um estado de relaxamento. “Vamos ver cada vez mais o efeito da cor no ambiente e no organismo”, conta Ana Kreutzer, designer de cores do estúdio Prisma.

Mas essa imersão no universo das tonalidades tem algo diferente do que geralmente observamos: passamos a explorar as cores através da luz, a cor que vai além da visão. “Isso tem a ver com experimentar os extremos dentro do espectro de luz visível que é o ultravioleta e o infravermelho. Quando paramos de enxergar o ultravioleta, ele continua vibrando. Elas revelam os objetos de uma outra forma”, explica Ana.

Mergulho digital
Quando pensamos em cores com alto índice de cromaticidade, é impossível dissociá-las do mundo das telas. “São cores muito puras, quase acesas, em tons de magenta e violeta, chegando até o verde”, explica Ana. No mundo da arte, nomes de peso como Renan Cepeda e James Turrell exploraram essa relação criada pela intensa saturação usando lentes que proporcionam a visão noturna e apostando em performances que induziam a um estado meditativo, respectivamente. Assim, a tendência atrela ao aspecto mais espiritual uma dose de autoexpressão e revela um estilo magnético. “No mundo digital a cor se manifesta através de microlâmpadas; é cor-luz. O olho reconhece isso de um jeito diferente. É uma experiência vibrante e luminosa”, reflete a especialista.

Para aderir em casa, seja qual for seu estilo, vale tanto apostar na estética do néon, como instalar lâmpadas coloridas no projeto de iluminação. Ana sugere a busca pelas que são pensadas para funções terapêuticas e sugere que vale, inclusive, sobrepor tonalidades. “Dá para conseguir um efeito lindo usando vidros coloridos. Aplicados sobre outras superfícies, cria-se uma cor nova”, finaliza.

Interação. Em museu na Austrália, obra Chromosaturation, de James Turrell, demonstrava relação de impermanência com a cor de acordo com o espaço e a percepção individual (Foto: Divulgação)

Interação
Em museu na Austrália, obra Chromosaturation, de James Turrell, demonstrava relação de impermanência com a cor de acordo com o espaço e a percepção individual (Foto: Divulgação)

No alto. Série Skyspace, de James Turrell, traz estruturas autônomas ou integradas a elementos existentes que propõem uma conexão com o céu (Foto: Divulgação)

No alto
Série Skyspace, de James Turrell, traz estruturas autônomas ou integradas a elementos existentes que propõem uma conexão com o céu (Foto: Divulgação)

Reflexo. The tetrahedral night, de Olafur Eliasson, evoca o mistério da noite e o poder transformador da cor usando luzes e espelho (Foto: Divulgação)

Reflexo
The tetrahedral night, de Olafur Eliasson, evoca o mistério da noite e o poder transformador da cor usando luzes e espelho (Foto: Divulgação)