• Por Clotilde Perez
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ÁREA SOCIAL | Escada pintada com a Puff Laranja SW 6606, porta com Varanda Ensolarada SW 9017, nas paredes o verde menta Aloe Vera SW 6464 e o branco Vila Grega SW 6749, todas tintas da Sherwin-Williams. Apê de Dora Figueiredo, por Doma Arquitetura (Foto: Mariana Orsi / Divulgação)

Apê alugado da influencer Dora Figueiredo é repleto de cores. Projeto assinado pela arquiteta Patricia Pomerantzeff, do escritório Doma Arquitetura (Foto: Mariana Orsi / Divulgação)

As cores estão no centro da nossa vida social atualmente. Parece que tudo precisa ter cor. Movimentos sociais, meses e anos, ideias e projetos, móveis, panelas, objetos diversos. Materiais antes monocromáticos, como o cimento, agora surgem com inúmeras possibilidades de pigmentação.

Além de marcas e instituições, já tradicionais usuárias da cor como caminho promocional e, em certas situações, como identidade – caso do uso da cor laranja construída pelo Itaú ao longo de duas décadas ou da tonalidade turquesa usada pela Tiffany em produtos, lojas físicas, digitais e comunicação marcaria. Notamos um crescimento do manejo das manifestações cromáticas, com uso não apenas de uma cor, mas de várias ao mesmo tempo, que se alternam, separam-se ou se misturam, como aconteceu recentemente na mudança da identidade visual da Globo, onde seis tons diferentes se mesclam e se abrem, provocando transbordamentos para textos, imagens, cenas, pessoas e contextos variados, promovendo o rompimento dos formatos, oferecendo uma experiência imersiva totalmente nova.

Na moda, o movimento global intitulado dopamine dressing é a referência para o uso da multiplicidade e da mistura de cores, em tonalidades vibrantes e contrastantes. O nome busca expressar a sensação de bem-estar causada pela dopamina, um neurotransmissor produzido pelo nosso organismo, assim, o vestir-se com cores intensas passa a ser um caminho para o bem-estar. 

Quartos coloridos ficam acolhedores e impactantes ao mesmo tempo, como este projetado pelo escritório GG Arquitetura (Foto: Raiana Medina Machado / Divulgação )

Quartos projetado pelo escritório GG Arquitetura tem cores nas paredes, nos quadros e nos objetos de decoração (Foto: Raiana Medina Machado / Divulgação)

No final do ano, nas tradicionais inaugurações de vitrinas natalinas nas principais capitais do mundo, o dourado, o vermelho, o verde e o branco (pela associação com a neve no hemisfério Norte), deram espaço para todas as cores possíveis, em diálogos e cruzamentos inusitados, proporcionados também pelas tecnologias digitais, com destaque para o uso de luzes e pela holografia nas vitrines e espaços de venda. Macys e Saks em New York e Galeria Lafayette e Printemps em Paris, são apenas alguns dos exemplos que trouxeram a multiplicidade cromática como protagonista de seus espaços comunicacionais e de interação.

A questão de sempre é: o que isto significa? Convivemos com as cores desde sempre, claro. O ambiente natural foi e é a nossa primeira imersão nas cores, além da imagem dos nossos corpos e de nossos semelhantes. Quanto mais a vida social se desenvolveu e as tecnologias avançaram, mais tons foram e estão sendo incorporados em nosso cotidiano, revelando o crescimento sígnico em que somos imersos, mas também protagonistas. Fenícios foram inovadores na obtenção de pigmentos no mundo antigo; os egípcios se destacaram pela criação de processos variados para obtenção de corantes a partir de matérias-primas naturais destinados ao mundo cultural e artístico, mas desde a pré-história há indícios da utilização de pigmentos naturais, principalmente de origem inorgânica, como os minerais. 

SALA | A cor Trilha Ecológica, da Tintas Coral foi aplicada na parede da TV. A poltrona Leque é de Fernando Jaeger, assim como a caidera Canoa e a mesa lateral Pira. O tapete é da Punto e Filo e a Arandela Vértice da Labluz.  (Foto: Divulgação / Felco )

Sala projetada pelo escritório Uhma possui diversos pontos de cores (Foto: Felco / Divulgação)

Sabemos da potência que as cores têm no caminho de nos proporcionar sensações e emoções diversas, no encontro do fisiológico, com o cultural e o psicológico, por isso, o manejo cromático adequado facilita a comunicação, reforçando os sentidos que queremos.

Assim, a multiplicidade e o uso das cores promovendo encontros, trânsitos, mobilidades de tons, sugerindo texturas e luminosidades, proporcionam sensação de vigor e prazer, por isso, quando falamos “põe um pouco de cor nesta produção” ou ainda “passa um batom para realçar”, estamos manifestando a essência da cor na sua capacidade de aportar vitalidade; as cores são necessárias à vida, o que no contexto atual de incertezas, riscos de natureza diversa e a consequente dificuldade de vislumbrar um mínimo futuro de possibilidades, faz todo o sentido. O espírito do tempo hoje é pura cor.

Clotilde Perez (Foto: Divulgação)

Clotilde Perez (Foto: Divulgação)

Clotilde Perez (cloperez@terra.com.br) é semioticista, professora da USP e da PUC-SP, e fundadora da Casa Semio.x