• Por Leo Romano
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(Foto: Divulgação)

Tenho pensado muito sobre a nossa maneira de projetar residências. Depois de 21 anos de formado, e já tendo espalhado desenhos de casas Brasil afora, sinto que, de modo geral, as pessoas ainda nos procuram para projetar com formatos bastante tradicionais diante das infinitas possibilidades que o “arquitetar” possibilita.

Faz parte do ideal imaginário casas concebidas muito mais pelos desejos de materializações, como retratos de condições sociais, do que casas que oferecem um jeito descomplicado e prazeroso de viver. É comum o pedido por uma porta grande de entrada, uma sala com pé-direito duplo ou um cinema bem escurinho. Surgem ainda ambientes de difícil tradução como “livings gourmet”, “adegas bar” e “varandas garden”. Em casos mais extremos “hobbies room” ou ainda “pet’s care”. Se observarmos a grande maioria das casas projetadas na atualidade para uma classe social estabelecida, será muito comum a percepção de tais elementos, que podem fazer sentido sim, mas que na maioria das vezes acompanham o modismo. A reflexão que fazemos não é no sentido de desprezar ou desclassificar estas soluções em projetos. Cabe a mim, como aos demais colegas arquitetos, a busca por alternativas mais coerentes e instigantes, capazes de estabelecer relações mais próprias entre o edifício e o morador. É essa resposta personalizada que possibilita a descoberta de novos caminhos e a quebra de paradigmas.

Recentemente, tive a oportunidade e o privilégio de projetar uma casa em um condomínio horizontal em Goiânia no qual o perfil do casal colaborou muito para uma arquitetura com traços e soluções pouco usuais, mas em mesma proporção, muito condizente com os anseios deles: ele, biólogo e praticante de escalada; ela, empresária no ramo da construção civil. Eles compraram um lote com considerável aclive em uma rua sem saída, com vista frontal para mata e um confortável sol da manhã. Eles são jovens, pais de uma menina. Gente livre, pessoas soltas. Pediram uma casa com personalidade e apenas ambientes usáveis. A expectativa e o briefing passado foi suficiente para que o projeto acontecesse dentro de uma lógica própria, "de trás para frente".

Como resposta ao programa de necessidades, o acesso social vence o desnível saindo da calçada e forma uma rampa que vai até o deque da piscina. Deste deque, acessamos a varanda, e, por fim, acessamos as salas e demais ambientes da casa. Em um primeiro momento, este percurso pode parecer estranho. Mas o jeito de morar destes clientes e a localização do terreno conduziu para que o projeto se caracterizasse desta forma. O caminho da calçada até a casa configura-se como um passeio, um momento de descompressão entre a rua e a casa.

A entrada de veículos também reserva outra surpresa: na parede do fundo da garagem e no teto, distribuímos uma pista de escalada, local de exercícios diários do morador. Apesar de parecer estranho, a solução resguarda a casa e a piscina dos colegas praticantes. É importante salientar que a arquitetura se desenha de um modo bastante autônomo e que faz muito sentido se considerarmos as condicionantes do projeto. A vida cotidiana conta muito mais do que a planta arquitetônica. É como se a casa, em sua plenitude, pudesse revelar muito mais do que todos os processos de engenharia e arquitetura utilizados da concepção até a finalização da obra.

Projetar este lar foi um novo exercício. Construímos um edifício de partido arquitetônico expressivo. Fomos felizes e permitimos a felicidade. É a poesia da arquitetura que pede espaço para se manifestar em um número maior de consumidores.

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leo-romano-colunista (Foto: Casa e Jardim)

Até o próximo mês,
Leo Romano
@leoromanoarquitetura