• Por Diego Revollo
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É normal e compreensível, a cada virada, todos nós, nos perguntarmos sobre o que surgirá no próximo ano. Farejamos aos poucos comportamentos e pistas daquilo que já vem surgindo e que provavelmente estará mais presente no próximo ano. Eu mesmo, na minha coluna de outubro, dividi meus palpites com meus leitores de Casa e Jardim de algumas apostas para 2018. Entendo a relevância do tema e a curiosidade que não é só de quem trabalha na área, mas de quase todos que se interessam por arquitetura e decoração.

Nesses dias, de férias, é normal desacelerando, pensarmos em alguns temas de forma mais livre ou até mais profunda também. Todo começo de ano sempre envolve reflexões e particularmente eu, que tenho espírito crítico, estou sempre observando e questionando meu universo de trabalho.

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Vivemos tempos acelerados onde a tecnologia nos bombardeia com informações a todo momento. Como conseqüência nada consegue ser tão duradouro e tampouco verdadeiro ou definitivo. A velocidade com que tudo chega aos nossos olhos nunca foi tão rápida e talvez nossas mentes ainda não estejam aptas ou capacitadas para acompanhar o novo ritmo de que tudo é criado, divulgado, digerido e rejeitado. O número de pessoas que produziam conteúdo em outras épocas e agora também aumentou porque as oportunidades nesse sentido cresceram. Hoje, por meio das mídias sociais, quase que todo mundo passa a gerar conteúdo e divulgar, seja ele profissional ou não. São épocas mais democráticas e que, por hora, abrem muito a nossa fonte de informação e não há mais a certeza de apenas um “dono da verdade”.

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Observando meus projetos em andamento, os que estão começando e mesmo os finalizados, fica claro, ao menos para mim, que as tendências não são tão relevantes. Se elas existem elas são um pano de fundo ou mesmo mero reflexos de uma lente distorcida que absorve quase tudo o que observa, mas que tenta se manter acima de tudo isso. Tenho a sensação de que o excesso de informação talvez tenha a vantagem de não estabelecer uma “verdade” tão absoluta ou sequer um “estilo” a ser seguido. Não vejo mais um mundo com movimentos estéticos ou correntes arquitetônicas como tivemos em outras épocas na arte e na arquitetura. Talvez em épocas aonde a informação chegasse mais devagar tivéssemos tendências ou movimentos mais fortes, sólidos e marcantes.

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Não se trata de dizer que as tendências acabaram ou irão desaparecer, mas existe uma pluralidade maior. A grande maioria parece perdida em meio à avalanche de imagens e fluxo de conteúdo buscando justamente uma uniformidade ou alguma fonte mais precisa para encontrar e mapear algo mais concreto ou mesmo a tendência em si. Por outro lado, basta acessar o Instagram e muitas delas estão lá escancaradas e até repetitivas como o retorno das formas curvas, a busca da leveza, algumas tonalidades (rosa ou o violeta?) e principalmente uma ênfase no uso consciente dos espaços, seja na integração ou no aproveitamento melhor já que caminhamos para um mundo com recursos limitados e escassez de metros quadrados.

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Igual acontece na moda, estamos em um período em que não temos mais a necessidade de seguir apenas um estilo e também não queremos ser rotulados já que estilos, rótulos e tendências são frágeis, questionáveis e podem mudar a qualquer instante. Talvez o mais interessantes seja pairar acima de tudo isso buscando seguir o universo particular de cada um a partir do que é observado, mas sem um comprometimento com cores, formas, estilos. Na nossa época, estar acima das tendências e rótulos talvez seja o lugar onde a maioria queira estar.

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Eu, no meu trabalho como arquiteto, tento a todo custo criar algo mais definitivo. Mesmo contaminado pelas tendências procuro e torço para que o que eu projeto tenha uma durabilidade maior que todo e qualquer modismo. Ainda assim tenho consciência de que uma vez finalizado já existe algo mais novo e atual. O desafio sempre é tentar ir mais à essência e ser atemporal.

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Sem dúvida, estamos vivendo uma época de transição e que a resposta a tudo isso talvez esteja mais clara alguns anos mais adiante. Por enquanto não há um diagnóstico ou um manual de como prosseguir. Talvez tenhamos que buscar internamente a resposta ao invés de nos abrirmos a toda e qualquer informação. São tempos de verdades frágeis. Talvez seja hora de filtrar acima de tudo, de selecionar e de nos tornarmos mais introspectivos e menos expostos. Eu sei que não é fácil e considero missão praticamente impossível. Ainda assim é um caminho para criarmos algo novo, realmente singular e ainda assim em sintonia com o mundo no qual vivemos.

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Diego Revollo
Arquiteto, formado na Universidade Mackenzie, é amante do universo da arquitetura e decoração, coleciona prêmios e publicações ao redor do mundo. Tem seu escritório há mais de 10 anos. 
@diegorevollo