Arquitetura
Casa de fazenda esbanja do uso da madeira e valoriza a paisagem natural
Quase toda de madeira, a casa de 550 m², projetada pelo arquiteto Carlos Motta, foi executada com o mesmo esmero que ele dedica aos móveis. Elevada no terreno, pouco toca o chão e se harmoniza com a paisagem da fazenda na Serra de Botucatu, SP
3 min de leituraJunto ao pomar da fazenda no alto da Serra de Botucatu, interior de São Paulo, o arquiteto Carlos Motta decidiu projetar a casa de 550 m², um sonho antigo dos donos. O casal queria uma sede maior para reunir a família, que cresceu com a chegada dos netos. Em visita a Serra da Mantiqueira, eles se encantaram com as construções de madeira, feitas artesanalmente pelas equipes de carpinteiros treinadas por Carlos, e encomendaram o projeto. “Pedimos para ele escolher o local mais adequado na fazenda que acabou sendo ao lado das árvores frutíferas e frondosas”, conta a proprietária.
O projeto respeita o desnível do lote, que em nada foi alterado. Suspensa por troncos de aroeira, a casa é um pouco solta do chão. “Deixei a passagem livre embaixo para não perder a leitura do terreno”, explica o arquiteto. Em busca da horizontalidade, ele instalou a maioria dos ambientes no mesmo plano. Apenas a biblioteca fica em pavimento superior, em cima do hall de entrada. “É mais reservado para a leitura, assistir a TV e trabalhar”, diz Carlos.
Uma escada de pedras leva à porta principal e ao hall de entrada, que fica no meio da construção, em volume mais alto. De um lado, estão as cinco suítes e, do outro, o living e a cozinha. Na ponta, ele instalou a área de lazer com deque e varanda generosos. Ainda há um pavilhão com sauna junto à piscina de formato orgânico, construída no nível do terreno.
A circulação é fluída entre todos os cômodos e a área externa graças às portas de correr. O corredor para as suítes é largo e recebe iluminação zenital a partir do vão fechado com vidro entre as duas águas do telhado. A entrada de luz solar e a ventilação permanente são privilegiadas também no living com pé-direito alto que acompanha a inclinação do teto. Entre as salas de estar e de jantar e a cozinha, Carlos instalou o fogão a lenha. “É um lugar estratégico porque nele pode ser servida a comida para mantê-la quente e quem está cozinhando fica em contato com os outros”, diz o arquiteto.
"O projeto é bem brasileiro, com conceito simples, no estilo das antigas sedes de fazenda. A sofisticação está nas técnicas construtivas com madeira". Carlos Motta
Nas noites frias da serra, o fogão a lenha ajuda a aquecer o centro do living que, na lateral, possui lareira com estrutura de pedras. A maioria da construção é de madeira, com exceção das paredes hidráulicas, da cozinha e dos banheiros, que são de alvenaria de tijolos. “Temos igual cuidado na marcenaria e na arquitetura em relação ao acabamento e à escolha das madeiras de acordo com suas características”, afirma Carlos, que usou cinco tipos de madeiras, provenientes de áreas de manejo sustentável. Os pilares são troncos de aroeira bruta, que resiste à compressão. A itaúba, que suporta as intempéries, está nos vigamentos e nos fechamentos. O forro é de angelim, e o assoalho, de cumaru. Na marcenaria e nos caixilhos, ele utilizou cedro.
Antes do fim da obra, o arquiteto René Fernandes cuidou do design de interiores. “Coloquei as peças claras que contrastam com as madeiras escuras da arquitetura”, explica ele. Sua maior interferência foi no banheiro do casal que ficou mais sofisticado com o mármore carrara na bancada e na área molhada. O melhor, no entanto, é o conforto dos espaços amplos, iluminados e integrados ao exterior. “Não importa se faz calor ou frio lá fora, é sempre agradável dentro porque a casa é térmica. E, como quis Carlos Motta, de todos os ambientes se vê as copas das árvores do pomar”, diz a proprietária, que, assim como o autor, é apaixonada pela construção.