Os banqueiros estavam certos de que a Golden Goose, fabricante dos tênis de aparência desgastada vendidos por 500 euros e os preferidos de Taylor Swift, estava pronta para se tornar uma companhia de capital aberto. Após mais de 10 meses de preparação, a marca italiana de calçados buscava cerca de 600 milhões de euros em seu IPO na Bolsa de Milão agendado para sexta-feira. A empresa havia divulgado fortes vendas no primeiro trimestre e nada menos que sete bancos vinham assessorando a oferta pública inicial.
No início da terça-feira, o bookbuilding registrava uma procura dos investidores maior que a oferta. A gestora de fundos Invesco havia concordado em ser um investidor-âncora. Mas Francesco Pascalizi, gestor do private equity Permira, controlador da Golden Goose, subitamente amarelou. A decisão da firma, na noite de terça-feira, de cancelar a tão esperada listagem chocou os bancos e investidores que haviam se comprometido com a operação. "De que diabos você está falando?", respondeu um banker ao receber o telefonema sobre o cancelamento.
As negociações que levaram à decisão foram turbulentas, segundo várias fontes envolvidas. A divergência de pontos de vista entre os bancos coordenadores e seu cliente de private equity provocou “discussões longas e acaloradas”. Foi um golpe na tentativa de recuperação do mercado europeu de IPOs e mais empresas que vinham planejando listagens este ano poderão agora pecar por excesso de cautela e adiar seus planos, na esteira da abertura de capital abortada.
O colapso de última hora mostra o nervosismo da Permira depois de uma série de listagens insatisfatórias de seu portfólio, como a da empresa Dr Martens, em 2021. Desde então, a fabricante de botas emitiu cinco alertas de lucro e suas ações caíram 80%. “A Permira não pode se permitir outro constrangimento depois da Dr Martens”, disse um banqueiro.
Investidores importantes como BlackRock e GIC decidiram ficar de fora da Golden Goose e Permira temia uma grande queda da ação no mercado secundário. Os bancos coordenadores, no entanto, resistiram até o fim: o mix de investidores era forte o suficiente para o prosseguimento da oferta, diziam eles. Mas o IPO sairia próximo do piso da faixa indicativa, de 9,75 euros por ação, avaliando a companhia em menos de 2 bilhões de euros – bem menos que o total anteriormente especulado, de 3 bilhões de euros. A demanda era de 4x a oferta a esse preço.
No entanto, o histórico da Permira foi uma questão delicada. Além da Dr Martens, aExclusive Networks, companhia francesa de segurança cibernética, que foi listada em 2021 a 20 euros por ação, está sendo agora negociada a apenas 19 euros. A TeamViewer e a Allegro, que a firma abriu o capital em 2019 e 2020, respectivamente, estão sendo negociadas abaixo de seus preços de IPO.
Inicialmente, a Permira tentou atrair grandes investidores institucionais asiáticos, mas falhou. “O risco de a operação se transformar em uma IPO medíocre era maior que a vantagem de seguir em frente”, disse um participante do processo.
A Permira pode tentar reativar a listagem nas próximas semanas, disseram bancos. Mas sua decisão de não prosseguir pode ter tirado o ímpeto de todo o mercado de IPOs da Europa. (Traduzido por Mario Zamarian, versão reduzida)