Day Off
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Por Fabricio Vieira — São Paulo


Se existe alguém que ainda pode ser chamado de lenda viva do jazz é Sonny Rollins. O saxofonista, que completa no próximo mês 93 anos de idade, atravessou muitas décadas se mantendo em destaque, sendo indiscutivelmente um dos pilares do gênero. Ele se aposentou dos palcos há alguns anos, mas o interesse por sua música se mantém intocável. E isso só tende a aumentar com a edição de “Saxophone Colossus: The Life and Music of Sonny Rollins” (Hachette Books), nova biografia lançada nos Estados Unidos que explora sua vida e obra com uma profundidade nunca vista antes.

O livro escrito por Aidan Levy oferece uma ampla viagem, sem pressa, pela longa trajetória de Rollins, se estendendo por mais de 700 páginas. Levy, em um trabalho que se arrastou por sete anos, fez dezenas de entrevistas com amigos e músicos que tocaram com ele; ouviu também muitas vezes as histórias que o próprio saxofonista tinha para contar. Além disso, se debruçou sobre arquivos públicos (reportagens, críticas, entrevistas antigas) e pessoais (diários, cartas e anotações do saxofonista), compondo o retrato mais amplo já feito de Rollins.

Nascido em 7 de setembro de 1930, em Nova York, e batizado como Walter Theodore Rollins, o saxofonista ganhou seu primeiro instrumento ainda na infância. E antes de a década de 1940 acabar já estreava profissionalmente. Os anos 50 e 60 representaram seu esplendor. Foi quando o mundo do jazz se dobrou àquele novo saxofonista, que improvisava de uma forma única.

Um álbum seu editado em 1956 se tornou um clássico instantâneo: “Saxophone Colossus” – não por acaso, o título desta biografia. Rollins não foi um daqueles artistas que têm sucesso em certo tempo e passa o resto da carreira revisitando insistentemente sua época dourada. Ele sempre buscou trazer algo fresco a seus ouvintes, sem medo de adicionar elementos diferentes à sua arte, o que ajudou a manter o interesse por sua música sempre renovado.

Sonny Rollins, lenda viva do jazz, ganha nova biografia — Foto: Mamadi Doumbouya/Divulgação
Sonny Rollins, lenda viva do jazz, ganha nova biografia — Foto: Mamadi Doumbouya/Divulgação

Quem acompanha Sonny Rollins há mais tempo vai se deparar no livro com histórias já conhecidas, mas com detalhados e originais enfoques. Na década de 1950, as coisas aconteceram de forma intensa e acelerada para ele: foi do anonimato a figura destacada na cena em pouco tempo; se envolveu com drogas, passando um período viciado em heroína, o que inclusive o levou à prisão; e tocou com muitos dos maiores jazzistas da época, de Miles Davis e John Coltrane a Thelonious Monk, Max Roach e Elvin Jones.

E, o mais importante, lançou uma sequência incrível de discos que se tornariam obrigatórios em qualquer boa discoteca: “Tenor Madness” (1956), “Way Out West” (1957), “A Night at the Village Vanguard” (1957) e “Freedom Suite” (1958) são algumas das pérolas que o colocam no centro do jazz feito naquele tempo. Depois desses anos frenéticos, antes de 1959 chegar ao fim, ele resolveu dar uma pausa.

Por quase dois anos, o saxofonista desapareceu da cena. Em busca de outros rumos sonoros, resolveu se isolar e passar um período apenas estudando, praticando, tocando sozinho. Nasceria aí uma das lendas em torno dele: sua temporada na ponte. Nesse período sabático, quem queria encontrá-lo deveria ir à Williamsburg Bridge. Rollins passava os dias (ou melhor, as noites) nessa ponte, que liga Manhattan ao Brooklyn, de um lado para o outro, tocando, solitário, seu saxofone tenor. Uma das explicações de Levy para a escolha desse inusitado novo palco é mais ligada à vida cotidiana do que a qualquer outra coisa: Rollins não queria incomodar os vizinhos com suas improvisações noite adentro; assim, resolveu ir para a ponte.

O retorno à cena aconteceria no fim de 1961, quando deu início, de forma inesperada, a uma temporada no clube Jazz Gallery. Não tardaria para a gravadora RCA Victor o procurar e, aproveitando o hype que se formara em torno de seu “sabático na ponte”, lançar seu próximo disco com o nome... “The Bridge”. O autor, ao repassar esse período de forma minuciosa, reforça algumas histórias conhecidas, contesta outras, sempre buscando mostrar que Rollins era, mesmo em seu auge, um artista cheio de dúvidas, insatisfeito com sua música e à procura de algo que ainda não havia descoberto.

Independentemente de suas inseguranças, Rollins atravessou as décadas tocando, gravando e mantendo um público fiel. E chegou ao século XXI ainda mostrando sua força. Ele iniciou os anos 2000 com um muito elogiado álbum, vencedor do prêmio Grammy, “This Is What I Do”, em um momento em que completava cinco décadas de carreira. Em 2011, voltaria a vencer a votação dos críticos (o “Critics Pool”) da icônica revista DownBeat como melhor sax-tenorista do ano. Mesmo no Brasil, onde o jazz tem um público mais esparso, ele levou estimadas 10 mil pessoas ao Ibirapuera quando tocou no país pela última vez, em 2008.

“Saxophone Colossus: The Life and Music of Sonny Rollins” é uma leitura fascinante tanto para quem conhece bem o saxofonista quanto para aqueles que estão descobrindo sua arte. E após a travessia dessas centenas de páginas, talvez o mais importante que fique seja um chamado irresistível para voltar a ouvir a música sempre viva de Sonny Rollins.

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