Day Off
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Por Fabricio Vieira — São Paulo


Não é raro os fãs de jazz se depararem com a notícia da descoberta de uma gravação engavetada ou perdida há décadas. Agora é a vez de John Coltrane (1926-1967) voltar aos holofotes. O saxofonista americano, que morreu no auge da carreira, aos 40 anos de idade, vítima de um câncer no fígado, é um dos nomes mais idolatrados do gênero. E a novidade em torno dele desta vez é um registro de sua banda realizado no clube nova-iorquino Village Gate, em agosto de 1961. O material inédito, que a gravadora Impulse acaba de lançar sob o título “Evenings at the Village Gate”, estava esquecido nos arquivos da Biblioteca Pública de Nova York.

A história desta gravação finalmente editada tem certo acaso por trás. Coltrane fazia uma temporada com seu grupo no Village Gate. O responsável pelo som da casa, Richard Alderson, resolveu gravar algumas apresentações para testar o equipamento novo que haviam instalado por lá. E, sem avisar os músicos, captou a banda do saxofonista em ação.

As fitas com esse material, do qual não se tinha notícia, acabaram indo parar em algum momento, sem a devida catalogação, na Biblioteca Pública de Nova York. Passadas décadas, um pesquisador musical acabou descobrindo essa preciosidade. Curiosamente, o tal pesquisador nem estava interessado em jazz. Ele buscava antigos registros de Bob Dylan, com quem Alderson trabalhou nos anos 60, e acabou se deparando com esse Coltrane perdido.

Um pesquisador interessado em Bob Dylan encontrou Coltrane — Foto: Reprodução
Um pesquisador interessado em Bob Dylan encontrou Coltrane — Foto: Reprodução

“Evenings at the Village Gate” traz quase 80 minutos de música. O som, considerando que não se trata de uma gravação profissional realizada para ser editada comercialmente, até que tem uma boa qualidade. São apenas cinco longas faixas, que mostram Coltrane à frente de um grupo de ponta, formado pelo pianista McCoy Tyner, o baterista Elvin Jones e dois contrabaixistas, Reggie Workman e Art Davis. A eles se junta o incrível saxofonista e clarinetista Eric Dolphy – que tragicamente também morreria cedo, aos 36 anos, em 1964, de complicações do diabetes.

O disco abre com uma das peças mais tocadas por Coltrane em sua carreira, “My Favorite Things”. Essa desconstruída releitura instrumental de um tema tirado do musical da Broadway “The Sound of Music” (mais conhecido no Brasil em sua versão cinematográfica, A Noviça Rebelde), composto pela lendária dupla Richard Rodgers e Oscar Hammerstein, se tornou um hit improvável. Coltrane a tocava na maioria dos concertos que fez, em versões cada vez mais radicais, que chegavam a durar 40, 50 minutos em seus últimos anos de vida, quando havia se tornado um ícone do free jazz.

Mesmo para quem conhece a peça de tantas outras gravações, esta versão de My Favorite Things tem um apelo particular, com uma saborosa introdução conduzida por Dolphy à flauta, antes de Coltrane assumir o protagonismo tocando o tema principal no sax soprano.

Outro clássico do músico marca presença no álbum: “Impressions”. Coltrane, mais uma vez ao sax soprano, apresenta aqui um incandescente solo, que rasga o ar logo após o tema de abertura, em um dos momentos mais fortes do disco. Dolphy o segue empunhando o clarinete-baixo, instrumento de particular som anasalado no qual era verdadeiro mestre (como bem demonstra em outra peça, “When Lights Are Low”, com um solo de tirar o fôlego).

Mas o grande atrativo deste lançamento é “Africa”, que fecha em grande estilo Evenings at the Village Gate. Faixa-título do primeiro álbum de Coltrane lançado pela Impulse, em 1961, Africa é uma composição que ele não tocava ao vivo, sendo, assim, um deleite para os fãs poder ouvi-la em uma versão desconhecida até aqui. São 22 minutos de música, marcados pelo diálogo desconcertante de Coltrane e Dolphy, em arrepiantes momentos de embate entre os saxes tenor e alto, enquanto Jones faz da bateria uma máquina rítmica de robustez única.

“Evenings at the Village Gate” está sendo editado nos Estados Unidos, Europa e Japão, em CD e LP duplo – e já disponível nas principais plataformas de streaming.

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