Day Off
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Por Manuela Tecchio — São Paulo


Desde que a crise econômica na Argentina derrubou o preço do vinho no país, que já tem longa tradição na bebida, não é difícil encontrar um rótulo premiado de vinícolas como Catena Zapata ou El Enemigo por R$ 100 ou menos em marketplaces no Brasil. Mas o que muito consumidor tem descoberto é que a aparente pechincha pode ser, na verdade, um engodo. Aumentou, no último ano, o volume de falsificação desse tipo de rótulo.

"Nós temos um problema sério com o mercado ilegal", diz Cristiane Foja, presidente-executiva da Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe). "Os vinhos finos são os mais visados pelos falsificadores e também são os que mais têm sofrido com o contrabando, na verdade, o descaminho." O descaminho é o crime de entrada ou saída de mercadoria de um país sem o pagamento do respectivo imposto, enquanto o contrabando está ligado ao transporte e venda de mercadoria proibida entre fronteiras.

Mesmo contando com a queda no período de lockdown, os casos de falsificação de bebidas alcoólicas saltaram 138% de 2018 para 2022 e os de descaminho, 436%, desde 2019. Das mais de 329,7 mil garrafas de bebidas alcoólicas apreendidas em 2022, 44% eram casos de falsificação. A associação ressalta que nos outros 56% podem ainda estar contidos mais casos não identificados.

Pela proximidade com a Argentina e o Paraguai, os três estados do Sul são os que registram os maiores números de operações de apreensão de bebidas em descaminho. Desde 2019, foram 173 em Santa Catarina, 196 no Rio Grande do Sul e 208 no Paraná. Mas a região com mais registros de casos de falsificação de bebidas alcoólicas, ainda de acordo com os dados da entidade, foi o estado de São Paulo.

Os vinhos, em especial, têm se tornado alvo dos falsificadores. “Os falsificadores encontraram um nicho de mercado pra conseguir fazer a falsificação. Com o aumento do contrabando, em especial vindo da Argentina, as pessoas estão começando a se acostumar a não verificar padrões de qualidade, ler o rótulo”, diz o especialista Bruno Porto, fundador do Instituto Sommelièr. “Isso cria uma brecha.”

Vinhos finos têm se tornado alvo de falsificadores no Brasil — Foto: Unsplash
Vinhos finos têm se tornado alvo de falsificadores no Brasil — Foto: Unsplash

Levando em conta os dados da Receita Federal só sobre a apreensão de vinhos desde 2018, o ano de 2023 tem tudo para ser o recordista. Os registros, que não discriminam o que é descaminho ou falsificação, apontam que só entre janeiro e junho foram apreendidas 27,5 mil garrafas no país, contra 49,6 mil em 2018, o maior número da série, ou frente às 43,8 mil de 2022.

A Catena Zapata, vinícola reconhecida como a melhor do mundo em 2023 pelo World's 50 Best Vineyards, prêmio de referência do segmento, tomou medidas para controlar o problema no país vizinho. Junto à Mistral, distribuidora que tem exclusividade de seus rótulos no país e 3,5 mil rótulos no portfólio, a casa desenvolveu um selo de difícil imitação que é colado na garrafa ainda na Argentina, para mostrar ao consumidor que a importação foi dentro da legalidade e cumpriu com a tributação.

“Num primeiro momento, a ideia era proteger da importação irregular. Todas as vezes que o vinho sai de lá de maneira ilegal ele sofre com a temperatura, a garrafa chacoalha, pega luminosidade e tudo isso altera a bebida. Chegava aqui, o consumidor experimentava e não achava tão bom”, explica Rodrigo Mainardi, da Mistral. "Com o tempo passamos a receber mais consultas sobre falsificação, algumas grosseiras, com rolha sintética.”

No caso dos vinhos europeus, explica o executivo, o problema é ainda maior e em nível global. Nos EUA e em países europeus, a chance de estar comprando um Château Margaux, um Château Lafite, Petrus ou o Romanée-Conti falsificados são altos. Mas esse tipo de rótulo super premium sempre esteve no alvo dos falsificadores, dados os preços que começam em quatro dígitos - a "novidade" está em rótulos premiados mas mais acessíveis à classe média/alta, segundo comerciantes.

Se engana quem pensa que uma bebida falsa pode trazer apenas uma dor de cabeça no dia seguinte. Já houve casos fatais. Porto explica que a principal causadora da intoxicação nesses casos é o metanol, que pode causar falência dos órgãos e hemorragias internas.

No ano passado, 39 pessoas morreram na Índia num caso de ingestão de bebida adulterada. Em 2019, três turistas americanos também faleceram depois de consumir drinks com bebida falsa num resort na República Dominicana. Não tão distante, em Curitiba, 26 mulheres precisaram de atendimento médico depois de beberem gim adulterado em uma festa open bar em 2021.

Garrafas e rótulos podem apresentar indicativos da autenticidade da bebida — Foto: Hermes Rivera/Unsplash
Garrafas e rótulos podem apresentar indicativos da autenticidade da bebida — Foto: Hermes Rivera/Unsplash

Tim-tim

As dicas do sommelier Bruno Porto para escapar da arapuca do vinho falso.

Garrafa: fique atento ao peso e ao formato das garrafas, que é mais fácil identificar quando o consumidor é familiarizado com a marca; a cor também é um indicativo: se for muito clara, desconfie, os bons vinhos vêm em vidro escuro para proteger a bebida dos efeitos da luz (isso vale só para os tintos)

Rótulo: se mal impressos, com erros de grafia ou facilmente removíveis, é um indicativo de que a bebida pode ser falsa; se não houver informações em português, provavelmente chegou por descaminho

Rolha: as melhores vinícolas geralmente imprimem seu brasão; materiais sintéticos são mau sinal; a história do vácuo é mito: um bom sommelier vai saber abrir o vinho sem fazer o barulho de "ploc!"

Preço: quando um negócio parece bom demais para ser verdade... provavelmente é cilada mesmo. Rótulos premiados e vinhos finos têm um valor mais elevado por conta da tradição, tecnologia e expertise que há em seu processo de fabricação.

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