Uma ligação recebida em 2020, durante a pandemia, pegou Claudia Raia de surpresa. Do outro lado da linha, estava Tarsilinha, sobrinha-neta de Tarsila do Amaral (1886-1973), com uma proposta irresistível: a museóloga e os outros herdeiros da pintora, um dos maiores nomes do Modernismo na América Latina, desejavam que a atriz, e somente ela, levasse a vida e a obra de Tarsila aos palcos. O desafio? Um lado B da artista jamais divulgado, além da imagem de “musa do Modernismo, da mulher acima do bem e do mal, chiquérrima e riquíssima”. Assim nascia “Tarsila, a brasileira”, que faz curtíssima temporada no Vivo Rio, de sexta (31) a domingo (2), após ficar em cartaz em São Paulo por quatro meses.
![Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello com o filho Luca, após uma sessão da peça — Foto: Reprodução/Instagram](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/TnMgqcLd8hGWQM5GUavqEyx-2jE=/0x0:1051x850/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/P/W/ORBcMXTq2AMSE6FHGAAQ/claudia.jpg)
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— Tarsilinha disse que achava que eu tinha a força da Tarsila — relembra Claudia, também produtora do espetáculo.
Claudia Raia protagoniza e produz 'Tarsila, a brasileira', espetáculo sobre a vida e obra de Tarsila do Amaral
![Quadros como ‘Abaporu’ servem de pano de fundo para musical com 23 atores, entre eles Jarbas Homem de Mello (no canto direito) — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/PNwFzlv7IkLY5dt8W-H0Y8EC3bQ=/0x0:4160x2774/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/n/s/1xsf9uQsWZNOaCbuMM3Q/whatsapp-image-2024-05-29-at-18.34.55.jpeg)
![Quadros como ‘Abaporu’ servem de pano de fundo para musical com 23 atores, entre eles Jarbas Homem de Mello (no canto direito) — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/jO9VbEl8VZtMDLnJEqCsJKs64zY=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/n/s/1xsf9uQsWZNOaCbuMM3Q/whatsapp-image-2024-05-29-at-18.34.55.jpeg)
Quadros como ‘Abaporu’ servem de pano de fundo para musical com 23 atores, entre eles Jarbas Homem de Mello (no canto direito) — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez
![Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello dão vida aos ícones da moda nacional, Tasila e Oswald de Andrade — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/28P5nAfwwsS1jzHPO4MwE-ioaqM=/0x0:2774x4160/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/j/H/optPHWRnGBMShg1N7lpQ/whatsapp-image-2024-05-29-at-18.36.46-1-.jpeg)
![Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello dão vida aos ícones da moda nacional, Tasila e Oswald de Andrade — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/_q4Lroxr7J6APfvRvVtr0SlMqP4=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/j/H/optPHWRnGBMShg1N7lpQ/whatsapp-image-2024-05-29-at-18.36.46-1-.jpeg)
Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello dão vida aos ícones da moda nacional, Tasila e Oswald de Andrade — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez
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![Para a atriz e produtora do musical, figurinos desenvolvidos por Fábio Namatame são ponto alto do espetáculo — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/zrf1yGDpU5nZae9QnXzcweQ3KMg=/0x0:2774x4160/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/r/W/BhhW4iTleMzPkeEC4vLw/whatsapp-image-2024-05-29-at-18.38.16-1-.jpeg)
![Para a atriz e produtora do musical, figurinos desenvolvidos por Fábio Namatame são ponto alto do espetáculo — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/N1jc-toy9iaEEb6Dxuy5soIMyK8=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/r/W/BhhW4iTleMzPkeEC4vLw/whatsapp-image-2024-05-29-at-18.38.16-1-.jpeg)
Para a atriz e produtora do musical, figurinos desenvolvidos por Fábio Namatame são ponto alto do espetáculo — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez
![Com elenco numeroso, custos da peça ficam em R$ 500 mil a cada mês em cartaz — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/jsAQs1YWE4w78NT53HQh8_kYPWA=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/E/E/2XnAiySiGreCHmzwhXuQ/whatsapp-image-2024-05-29-at-18.54.13.jpeg)
Com elenco numeroso, custos da peça ficam em R$ 500 mil a cada mês em cartaz — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez
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![Trama dirigida por José Possi Neto narra a criação do Grupo dos Cinco (com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia) — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/Ek274ayV8kci2de57t0UqpADhhI=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/0/e/uzopp5TjAWOpXoJZiZXw/whatsapp-image-2024-05-29-at-18.55.43.jpeg)
Trama dirigida por José Possi Neto narra a criação do Grupo dos Cinco (com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia) — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez
![Convite veio de Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da pintora, que detém os direitos de imagem da artista plástica junto a outros herdeiros — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/t5508Xvr2qBd_qz2RkslkvIc-Oc=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/2/X/7ac4yNQUmhoykj0POENw/whatsapp-image-2024-05-29-at-19.00.05.jpeg)
Convite veio de Tarsilinha do Amaral, sobrinha-neta da pintora, que detém os direitos de imagem da artista plástica junto a outros herdeiros — Foto: Divulgação/Paschoal Rodriguez
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Na trama, um elenco de 23 atores, incluindo Jarbas Homem de Mello, marido da atriz, conta a história de Tarsila desde momentos emblemáticos de sua trajetória profissional — como a criação do Grupo dos Cinco (com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti del Picchia), do movimento antropofágico e de “Abaporu” (1928) — à vida pessoal, como o conturbado casamento com Oswald (1890-1954) e as cartas trocadas com o médium Chico Xavier (1910- 2002) após a morte da única filha, Dulce, em 1966.
Coube a Claudia a missão de encontrar diretor, atores, compositores e amarrar o projeto — tarefa que a atriz, produtora desde os 19 anos, está habituada.
— Gosto tanto de produzir quanto gosto de atuar. Me dá mais liberdade e tenho controle da qualidade artística — pondera.
Gestação dupla
Foram necessários quase três anos para colocar a peça de pé e desenvolver texto e músicas, junto a Anna Toledo e José Possi Neto, que assina a direção. No meio do caminho, veio a gravidez do terceiro filho, aos 55 anos. Luca nasceu em fevereiro de 2023, e Claudia subiu ao palco 11 meses depois. Por trás das cortinas, a atriz divide com o marido os cuidados com o bebê, de 1 ano e 3 meses.
— A gente equilibra 11 pratinhos. Mas o Luca é uma criança facinha. Ele vai ao teatro, fica quietinho, toma banho lá e até janta com a gente. Acabamos fazendo um espaço de brinquedos no meu camarim. Filho de artista é criado em coxia. Foi assim com o Enzo e a Sofia, e será com ele também — garante.
No tablado, Jarbas é Oswald, o que, para ela, permite um gracejo que confunde o público.
— Eles ficam sem saber o que é verdade e o que é mentira, por sermos um casal na vida real. A gente se diverte. Nisso, acho que somos parecidos com a Tarsila e o Oswald, pois um potencializava o trabalho do outro. É o que acontece com a gente — opina Claudia, que pretende voltar com o espetáculo para o Rio, onde, em dezembro, reestreia “Concerto para dois”, comédia musical em que ela e Jarbas interpretam 12 personagens.
Nua em cena
Em certo momento do espetáculo, a atriz fica nua em cena, o que, segundo ela, causa espanto em certas pessoas porque “o corpo da mulher ainda é um problema para os machistas”:
— Não é um “nu pelo nu”. Isso aconteceu quando Tarsila estava criando o “Abaporu”. Ela estava em casa, procurando inspiração para fazer o presente de aniversário do Oswald. Nessa busca, tirou a roupa, sentou no chão em frente a um espelho inclinado e, por conta do ângulo, ficou com as extremidades deformadas, com os pés maiores. No fundo, é um autorretrato. Dizem que o cacto é o fálico da relação dos dois, e o sol, a íris do olho amarelado dele.
Machismo, aliás, também é abordado no musical que narra, entre outras coisas, como a pintora lutou para, em 1923, anular o casamento com um primo que a agredia.
— A gente está falando de uma mulher feminista, libertária, que já era o futuro há 100 anos. Ela não tinha pudores, era livre. Tarsila viveu coisas muitos pesadas pela sua liberdade. Não é em um musical que vamos esconder isso — argumenta a protagonista.
Amarrada no poste
O processo para se transformar em Tarsila, porém, “foi bem complicado”.
— Foi um trabalho de pesquisa minucioso, já que não tínhamos vídeos dela jovem. Ela tinha os ombros para frente e uma cifose (curvatura anormal da coluna), que fazia com que o pescoço ficasse caído para frente, além de ser extremamente tímida — destaca, acrescentando que seu temperamento e características físicas são bem diferentes. — Eu sou o oposto dela. Sou alegre, minha postura é erguida... Tive que criar essa persona, lenta, que falava e andava pausadamente.
A parte mais difícil ainda estava por vir para a bailarina Claudia Raia: dançar com o corpo de sua Tarsila.
— O Jarbas costuma dizer que ela é um vulcão em contenção. É de uma força impressionante, mas contida. Tive que colocar a Claudia Raia amarrada em um poste, precisava me retirar — analisa.
Ícone da moda
Conhecida como “o olho que tudo vê” por colegas de profissão, a exigente atriz e produtora se diz satisfeita com o resultado da superprodução, que custa R$ 500 mil por mês e conta com equipe de 65 pessoas, além de sete caminhões para transportar o cenário, tomado por enormes reproduções de obras de Tarsila.
— Para mim, um dos destaques é o figurino do Fábio Namatame. A Tarsila e o Oswald eram ícones da moda, paravam Paris, e isso é uma coisa que pouca gente sabe. Eles tinham muito dinheiro e, com isso, modernizaram a moda.
Aos 57 anos, Claudia não tem dúvidas de que a maturidade foi fundamental para encarar um personagem como Tarsila.
— É um trabalho bem diferente de tudo que já fiz. Quando você tem muitos anos de carreira, procura alguma coisa para se reinventar. E ganhei uma que era o oposto de mim. Foi uma escola — reflete a atriz, que se diz surpresa com a repercussão do musical. — No intervalo, as pessoas pesquisam as obras de Tarsila e Anitta Malfatti, sobre o que o Oswald de Andrade escreveu... É muito bonito a plateia envolvida numa história que fala sobre parte da identidade artística do país.
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