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Rio Show

Leia crítica de ‘Parasita’, vencedor do Oscar 2020

Bonequinho aplaude de pé: sobre sutis diferenças
RS - cena do filme "Parasita" Foto: Divulgação
RS - cena do filme "Parasita" Foto: Divulgação

Uma família pobre, com pai, mãe e dois filhos, que vive numa casa subterrânea, mínima, e depende de bicos como dobrar caixas de pizza para restaurantes.

Outra família também com pai, mãe e dois filhos, mas esta riquíssima, vivendo numa mansão moderna de dois andares (mais porão), cheia de cantos vazios, atendida por empregados e com tempo a perder.

Ricos têm escadas que sobem, enquanto pobres só descem. Ricos têm espaço de sobra, enquanto pobres se apertam. Ricos têm peles lisas que brilham no sol, enquanto pobres têm peles frias, marcadas, enrugadas. Ricos, como mostram as sutis diferenciações propostas pelo talentosíssimo diretor sul-coreano Bong Joon-ho em "Parasita", se incomodam com o cheiro dos pobres.

Joon-ho, com seu cinema social fantástico (são dele, entre outros, "Mother -- A busca pela verdade", "Expresso do amanhã" e "Okja"), intriga o espectador ao embaralhar quem seriam de verdade os parasitas que seu título propõe. A trama do longa-metragem, que saiu vencedor do Festival de Cannes em 2019, mostra como a família pobre engana a família rica para conseguir empregos, bons salários e condições um pouco melhor de vida. Para isso, eles fingem ser quem não são, conquistando a confiança dos ricos.

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A convivência é amistosa por um tempo, até que alguns mistérios são revelados e os personagens percebem que a distância entre eles é grande demais para ser contornada. Os pobres têm sua parcela de culpa por mentirem em busca de alguma dignidade? Sim, claro. Mas e a culpa dos ricos em deixar tudo como está? É apenas um cheiro que os incomoda?

Em outra metáfora, comum aos filmes de Joon-ho, esse estranhamento é invariavelmente resolvido com violência -- e o final de "Parasita" é de tirar o fôlego num clímax instigante como raramente o cinema consegue oferecer.