No condomínio de 41 prédios, 300 apartamentos e 40 lojas, suspeito de ter sido construído irregularmente com dinheiro do tráfico, na Favela Parque União, na Zona Norte do Rio, o aluguel mensal dos imóveis, que gira em torno de R$ 1,2 mil, era habitualmente quitado em dinheiro. É o que revela a investigação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), que nesta quarta-feira, deflagrou uma operação na comunidade, para cumprir alguns dos oito mandados de busca e apreensão, referentes a endereços ligados ao empreendimento imobiliário.
Já as vendas dos imóveis teriam preços variando entre R$ 45 mil e R$ 80 mil, dependendo do número de quartos, segundo a polícia. A suspeita é a de que o condomínio Novo Horizonte tenha sido construído para lavar dinheiro do Comando Vermelho. O tráfico na comunidade é comando por Jorge Luís Moura Barbosa, o Alvarenga, que integra a facção criminosa e tem em seu nome nove mandados de prisão expedidos pela Justiça. Durante a operação, desta quarta-feira, um dos oito mandados de busca e apreensão foi cumprido pelos policiais da DRE na Associação de Moradores do Parque União. A especializada investiga uma suposta ligação da associação com o negócio imobiliário irregular.
— Encontramos diversos documentos, recibos e contabilidade do empreendimento. A gente percebe de início que é uma construção de alto padrão, não é qualquer material que está sendo empregado nessas construções. Esses imóveis acabam, por intermédio da associação ( de moradores) recebendo escrituras para que eles possam ser regularizados e vendidos a outras pessoas. O aluguel, por exemplo, só era pago em dinheiro. Isso possivelmente para o dinheiro não ser rastreado. Além disto, também já detectamos uma remessa de dinheiro, no valor aproximado de R$ 70 mil, feita há tempos atrás, por pessoas ligadas à associação para o falecido traficante Mario Bigode ( Mario Silva Ribeiro Leite, morto em novembro de 2022, após trocar tiros com a polícia, quando era o segundo na hierarquia do tráfico do Parque União) — disse o delegado Pedro Cassundé, da DRE.
As investigações indicam a participação de funcionários de órgãos representativos da comunidade — entre eles, a própria associação de moradores do Parque União — como intermediários de traficantes de drogas.
— Estamos tendo todo o zelo para não misturar as coisas. Obviamente, a associação exercia o papel típico de associação. Mas alguns integrantes, ou todos, nós não sabemos ainda, participavam desta engrenagem criminosa, desse esquema criminoso que auxiliava o narcotráfico na lavagem de dinheiro — disse o secretário estadual de Polícia Civil, delegado Marcus Amim.
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Polícia interditou condomínio construído por traficantes no Parque União, na Maré
Na sede da associação, policiais encontraram várias planilhas com cobranças feitas a comerciantes e até a ambulantes. Ao RJTV2, no entanto, a advogada Valéria Desidério negou que haja qualquer cobrança obrigatória na comunidade:
— Não é obrigatório, não é compulsório. Aqui se associa quem quer, vem buscar atendimento na associação quem quer, e quem não se associa também é atendido.
Nove pessoas suspeitas de envolvimento no esquema que usava o complexo imobiliário para lavar dinheiro do tráfico já foram identificadas. Elas estão sendo investigadas e não tiveram os nomes revelados pela polícia.
A operação na Maré foi deflagrada pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes e contou com o apoio de unidades do Departamento Geral Polícia Especializada (DGPE) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). Os agentes foram mobilizados para cumprir oito mandados de busca e apreensão, em endereços dentro e fora da comunidade. Eles também tentaram buscar 16 criminosos contra os quais há mandados de prisão expedidos pela Justiça tanto no Parque União como na Nova Holanda, também no Complexo da Maré. Não houve prisões. A polícia apreendeu na comunidade cocaína e maconha.
Além dos policiais, homens da Secretaria de Ordem Pública (Seop) também estiveram na Maré. Segundo a Seop, 41 imóveis foram construídos irregularmente. Todos os moradores foram notificados. A previsão é a de que eles sejam demolidos em uma ação futura, com apoio de forças de segurança, prevista para ocorrer em uma semana.
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