Um condomínio com 41 prédios, aproximadamente de 300 apartamentos, e 40 lojas, além de um espaço de festas, foi construído com dinheiro do tráfico de drogas. Os imóveis estão sendo vendidos ou alugados e ficam no Parque União, no Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, informou a Polícia Civil. As unidades são vendidas por valores entre R$ 45 mil e R$ 80 mil; e o aluguel fica em torno de R$ 1.200 mensais. Segundo a Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop), essas edificações são irregulares e serão demolidas. A construção teria começado em 2017, e pelo menos uma parte delas já está concluída e habitada. Nesta quarta-feira, a Polícia Civil realizou uma operação na comunidade para combater o crime de lavagem de dinheiro do Comando Vermelho (CV) . Houve troca de tiros na chegada dos policiais, mas ninguém foi ferido ou preso.
— São edificações feitas com o dinheiro do tráfico, para de alguma forma, tentar lavar o dinheiro e introduzir os lucros auferidos com a prática do tráfico de drogas na economia legal. Por intermédio de aluguel e venda daqueles imóveis — disse o secretário estadual de Polícia Civil, delegado Marcus Amim.
Segundo o apurado pela polícia, a região vem sendo utilizada há anos, por meio da construção de imóveis e abertura de diversos empreendimentos, para lavar o dinheiro acumulado com o comércio de drogas. As investigações apontam, também, para a participação de funcionários de órgãos representativos da comunidade — entre eles a própria Associação de Moradores do Parque União — como intermediários de traficantes de drogas.
![Pastas de documento, maconha, cocaína e contabilidade do condomínio — Foto: Marcos Nunes/Agência O Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/wB29CyvTrEqZ9SkFR7LayB2rJDE=/0x0:1280x960/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/K/r/JxawMjQe65BVKjrayqcA/mare.jpg)
A Delegacia de Repressão a Entorpecentes ( DRE) investiga indícios de que o condomínio Novo Horizonte, que fica em uma área do Parque União, teria sido construído com o dinheiro obtido pelo traficante por Jorge Luís Moura Barbosa, o Alvarenga. Acusado de ser o responsável pelo comando do comércio de drogas na comunidade, ele tem em seu nome nove mandados de prisão expedidos pelo Tribunal de Justiça. O bandido, no entanto, nunca foi preso. Segundo o delegado Pedro Cassundé, da DRE, a investigação revela uma ligação da associação de moradores com o empreendimento explorado pelo tráfico.
— A linha de investigação revela um aporte do tráfico para a construção (do condomínio) que tem alto padrão de qualidade. Quem atua regularizando na comunidade é a própria associação de moradores. É ela quem entrega as escrituras de propriedade — disse o delegado.
Entre as lojas localizadas no condomínio estão uma fábrica de bolo, um restaurante e um comércio de material de construção. Durante ação, foram apreendidos documentos e recibos de cobranças. Segundo a polícia, nove pessoas suspeitas de ligação com o esquema imobiliário explorado pelo tráfico já foram identificadas. Elas estão sendo investigadas e seus nomes são mantidos em sigilo. Já em outra parte da comunidade, os policiais apreenderam cocaína e maconha.
A operação na Maré é da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), contou com o apoio de unidades do Departamento Geral Polícia Especializada (DGPE) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). Os agentes foram mobilizados para cumprir oito mandados de busca e apreensão, em endereços dentro e fora da comunidade. Eles também tentaram buscar 16 criminosos contra os quais há mandados de prisão expedidos pela Justiça tanto no Parque União como na Nova Holanda, também no Complexo da Maré. Não houve prisões.
Além dos policiais, homens da Secretaria de Ordem Pública (Seop) também estiveram na Maré. Segundo a Seop, 41 imóveis foram construídos irregularmente. Todos os moradores foram notificados. A previsão é a de que eles sejam demolidos em uma ação futura, com apoio de forças de segurança.
Associação de moradores na mira
As investigações indicam a participação de funcionários de órgãos representativos da comunidade — entre eles a própria Associação de Moradores do Parque União — como intermediários de traficantes de drogas.
O Globo ainda não conseguiu contato com a Associação de Moradores.
Na redes sociais, moradores relataram um intenso tiroteio na região:
"Parque União se acabando em tiros".
"Muitos tiros, não saiam de casa".
Quem é o chefe do tráfico
O chefe do tráfico no Parque União, de acordo com a Polícia Civil, é Jorge Luís Moura Barbosa, o Alvarenga. Contra ele, há mandados de prisão em aberto. Saiba quem é:
- 86 anotações criminais
- figura como autor em 175 inquéritos policiais
- é integrante do denominado conselho da organização criminosa Comando Vermelho (CV);
- participa ativamente das decisões que determinam o rumo da facção, como invasões de territórios rivais para expansão dos domínios e exploração ilegal econômica
Escolas e clínica fechadas
Por causa da operação, 24 escolas — 22 da rede municipal e duas da rede estadual — fecharam as portas nesta quarta-feira. A Clínica da Família (CF) Jeremias Moraes da Silva também interrompeu o funcionamento. Já a CF Diniz Batista dos Santos suspendeu as atividades externas, como as visitas domiciliares.
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