Rio
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Por Selma Schmidt

Separados por 1,5 quilômetro, os endereços icônicos da orla carioca estão fechados há pelo menos quatro anos. Aquela tela inconfundível, usada nas construções em obras, cobre ambos: no Sofitel Ipanema (antigo Caesar Park), pertencente ao grupo AccorInvest, o trabalho de reforma total foi retomado em 31 de julho e inclui mudanças nas janelas, para ampliar a vista panorâmica. Dona do Marina Leblon, a Brazilian Hospitality Group (BHG) confirma que dará prosseguimento à revitalização, mas ainda faz mistério sobre datas e detalhes. O certo é que os dois hotéis vão reabrir com serviço 5 estrelas.

A volta dos turistas, na pós-pandemia de Covid-19, provoca uma reviravolta no setor hoteleiro do Rio. Animado com a ocupação — alcançou 73% em julho em pleno inverno, superando o mesmo mês de 2019 (56,2%), segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-RJ) — o setor aposta em reformas e até na reabertura de espaços, em especial de cinco estrelas. Tanto entusiasmo para oferecer acomodações de padrão mais elevado aos visitantes vai além do retorno dos estrangeiros, de acordo com o secretário estadual de Turismo, Gustavo Tutuca:

— Temos identificado o perfil de um turista doméstico com alto poder aquisitivo, muitos de São Paulo e da região Centro-Oeste, do agronegócio. São turistas que, durante a pandemia, não podiam viajar para fora do país, escolheram o Rio como destino e têm repetido esse hábito de vir para cá com suas famílias. Além disso, temos recebido muitos argentinos e chilenos. Como a moeda deles está muito desvalorizada em relação ao dólar, o real acaba sendo uma opção mais viável para uma vigam internacional.

A Embratur, com base em registros da Polícia Federal, informa que, de janeiro a junho deste ano, entraram no Rio 600.143 estrangeiros. O número equivale a mais de duas vezes e meia ao contabilizado em igual período do ano passado. Em relação aos primeiros seis meses de 2019, foram apenas 75 mil turistas internacionais a menos.

Quanto a visitantes domésticos, os últimos dados do Ministério do Turismo são de 2021. Mas estimativa da Secretaria municipal de Desenvolvimento Econômico (Smdeis) calcula em 2,39 milhões os turistas brasileiros em 2022, seis vezes mais do que em 2021, embora ainda abaixo da média histórica anterior à pandemia.

Mais luxo, menos quartos

Dos 47 mil quartos de hotel disponíveis na cidade, cerca de quatro mil são de cinco estrelas, informa o Sindicato dos Meios de Hospedagem do município (Hotéis Rio). O managing director (diretor-executivo) da AccorInvest na América Latina, Charles Boissonnet, alerta para a necessidade de melhorias nesse segmento.

— Existe uma demanda enorme e crescente para o luxo, mas a maioria dos hotéis de luxo do Rio são antigos e precisam de reformas — afirma Boissonnet, lembrando que a cidade vai sediar, ano que vem, reunião do G20 (cúpula de chefes de estado das principais economias do mundo, marcada para novembro de 2024): — A delegação americana do G20 terá 700 pessoas. Não temos 700 quartos reformados de luxo. A delegação francesa terá 200 pessoas.

Boissonnet explica que, como 100% do Sofitel Ipanema será revitalizado, a reabertura do hotel não ocorrerá em 2024. O que poderá acontecer no local ano que vem, atendendo a uma sugestão do prefeito Eduardo Paes, é um evento da delegação francesa que participará do encontro do G20.

A AccorInvest, que ainda desenvolve a segunda fase do projeto, não informa o valor do investimento. Inaugurado em 1978 como Caesar Park, ele foi o primeiro hotel cinco estrelas da Praia de Ipanema. Em 2012, integrou o portfólio da Accor, sendo transformado em Sofitel Ipanema em 2013.

Em 2019, o gigante de 25 andares fechou para reforma, que acabou paralisada. Agora, a presidente da Associação de Moradora de Ipanema, Maria Amélia Loureiro, há mais de 30 anos morando no bairro, se anima, diante da possibilidade de poder voltar a frequentar o lugar, embora não como hóspede.

— Ali tinha uma feijoada aos sábados muito boa. Não era só no carnaval — recorda.

As janelas da fachada e da lateral do hotel que dá para a Rua Maria Quitéria, em formatos curvo e reto, eram separadas por alvenaria não estrutural, que será removida para ampliar a vista. Na outra fachada lateral, o projeto prevê juntar janelas e a retirada daquelas localizadas no 5º andar.

A remodelação do Sofitel, que tem área construída de 16.727 metros quadrados, contempla a redução do número de apartamentos, a fim de transformar o 5º pavimento em área administrativa para suprir as necessidades do novo hotel. Serão 203 quartos, em vez dos antigos 210. No térreo, a recepção contará com um lobby bar, e no segundo andar haverá um restaurante — ambos abertos ao público.

Em cinco pisos ficarão áreas de serviços, cozinhas, centro de convenções e spa. No quarto andar, spa e academia receberão um novo conceito de design.

— O spa será aberto, com janelas voltadas para o mar — explica Boissonnet.

Do sexto ao 22º andar, ficarão os quartos, e no 23º andar estarão a piscina — com borda infinita — , bar e lounge, que serão reorganizados para oferecer espaços para eventos privados. O 24º e o 25º andares contarão com mais um bar e um rooftop, de onde se terá uma visão 360° do Cristo Redentor, do Morro Dois Irmãos e das praias de Ipanema, Arpoador e Leblon.

Segundo a AccorInvest, o conceito por trás do projeto de renovação do Sofitel Ipanema é a junção da “art-de-vivre” francesa com o vibrante estilo de vida carioca. O objetivo, diz a empresa, é criar um “link cultural” entre as duas vivências. “O hotel será uma homenagem à essência do Rio, integrada com a sofisticação e elegância associadas ao luxo francês”, sintetiza.

“Vai valorizar o bairro”

Já o Hotel Marina, na esquina da Avenida Delfim Moreira com Rua João Lira, inaugurado na década de 1980, tem muita história para contar. Ele foi imortalizado na música “Virgem”, de Marina Lima, e sua fachada foi palco de gravação da novela "Mulheres apaixonadas", da TV Globo. Em 2014, o arranha-céu, com 19 andares e 150 apartamentos, foi comprado pela BHG.

Hotel Marina, no Leblon: será transformado num espaço de alto padrão, mas obras ainda não retomaram — Foto: Ana Branco
Hotel Marina, no Leblon: será transformado num espaço de alto padrão, mas obras ainda não retomaram — Foto: Ana Branco

Desde novembro de 2017, entrou em reforma, que, como o Sofitel, foi interrompida. Mas deverá voltar a "acender", como está na música de Marina.

— Soube que as obras recomeçam ano que vem — conta um dos seguranças.

A Secretaria municipal de Desenvolvimento Econômico informa que a licença concedida para as intervenções expira em 2024, mas poderá ser renovada.

— Tomara que esse hotel reviva. O movimento de turistas dará mais segurança. Além disso, vai valorizar meu bairro — afirma a engenheira Patrícia de Araújo.

Ainda no padrão alto luxo, o Fairmont — ex-Sofitel —, na orla de Copacabana, está recebendo uma repaginada, que inclui a mudança de lugar do Coa&Co, um espaço para os amantes do café, e a instalação de um bar na piscina detrás. Um investimento de cerca de R$ 30 milhões, com o hotel em funcionamento.

— São obras de adaptação de espaços para poder melhor atender nossos clientes, ainda mais de neste momento em que o número de turistas vem crescendo no Rio — afirma Michael Nagy, diretor comercial do Cluester Luxe Rio de Janeiro (inclui Fairmont, Sofitel, Santa Teresa MGallery e os beach clubs Sel D’Ipanema e Tropik).

Na vibe da reforma

Hotéis quatro e três estrelas entraram na mesma vibe da reforma. O Sol Ipanema, que comemora cinco décadas em 2023, investiu mais de R$ 3 milhões em melhorias no último ano.

O quatro estrelas trocou toda a mobília do lobby e hall dos quartos. Também substituiu os armários e as TVs por aparelhos smart. Recentemente, repaginou a academia. Para o ano que vem, há um projeto de investir mais R$ 1 milhão só na área da piscina.

— Estamos vivenciando um crescimento em torno de 20% de demanda e receita se comparado ao ano de 2022, e nossa expectativa é alta para o próximo ano. Entendemos que o processo de revitalização contribui diretamente para a retenção e a aquisição de novos hóspedes. Estamos em um ponto nobre do Rio de Janeiro, onde o turismo é mais aquecido, mas só isso não mantém nossos clientes — observa Danilo Chami, diretor do Sol Ipanema.

O vaivém de obras também é notado no três estrelas Mar Ipanema. E de dois em dois andares, para que possa operar simultaneamente. Em Copacabana, no Posto Seis o quatro estrelas Grand Mercure está com um dos três blocos — o voltado para a Avenida Atlântica, com dez andares, térreo e cobertura — totalmente em obras. Com isso, a piscina do Mercure está desativada temporariamente.

Grand Mercure: todo o bloco do hotel que com frente para a Avenida Atlântica está sendo reformado — Foto: Ana Branco
Grand Mercure: todo o bloco do hotel que com frente para a Avenida Atlântica está sendo reformado — Foto: Ana Branco

No Palladium Leblon, da Promenade, estão sendo investidos R$ 3 milhões em reformas e modernizações a serem concluídas ao longo de 2024. O Windsor Leme foi mais um quatro estrelas que passou por retrofit, terminado no último semestre.

Presidente do Hotéis Rio, Alfredo Lopes, lembra que, desde o ano passado o Rio vem em ritmo ascendentes de ocupação, o que tem levado os hoteleiros a investir:

— Estamos tendo o melhor inverno dos últimos anos. O Rio não tinha essa pegada de inverno e, agora, passou a ter, fruto de festivais gastronômicos, da diversidade de ofertas na cidade. Isso sinaliza que a gente tem um calendário muito forte no segundo semestre. Então, foi acesa uma luzinha para os hotéis começarem a reabrir, reformar e se revitalizar.

Superintendente da rede Promenade, Giselle Lima comemora o bom primeiro semestre deste ano, que superou as iniciativas iniciais:

— Eventos culturais e esportivos desempenharam um papel importante no aumento significativo de visitantes. Essa demanda crescente reforça nosso compromisso em oferecer acomodações de classe mundial que atendam às necessidades e expectativas de viajantes que buscam uma experiência memorável.

Intercontinental: residencial de alto luxo

Mais um hotel emblemático, inaugurado em 1972 e fechado desde 2018, o ex-Intercontinental, em São Conrado, deve ter futuro diferente. Tramita na prefeitura um projeto da BHG — dona do imóvel, desde 2011, quando o adquiriu da Brascan Imobiliária — e da Sig Engenharia. A intenção é fazer ali um empreendimento residencial, com o retrofit do atual prédio, de 17 andares e 55 metros de altura, e a construção de outros sete edifícios mais baixos (com cerca de 21 metros de altura) no trecho do terreno onde estão jardins e a piscina.

— Queremos fazer ali um residencial de alto luxo. Mas antes estamos negociando acordo para resolver um conflito judicial. A Brascan desmembrou o terreno quando o vendeu, e condomínios entraram na Justiça para que ali não sejam construídos prédios altos, mesmo o gabarito permitindo. Propomos fazer prédio serão menores, de cinco, seis andares. A área está abandonada, o que não é bom para o bairro — conta Otávio Grinberg, um dos sócios da Sig Engenharia.

Intercontinental: gigante em São Conrado deve se transformar em residencial da alto luxo — Foto: Ana Branco
Intercontinental: gigante em São Conrado deve se transformar em residencial da alto luxo — Foto: Ana Branco

Segundo Grinberg, o projeto para o ex-Intercontinental — que já operou sob as bandeiras Royal Tullip, a partir de 2011, e Pullman, desde 2017 — poderá sofrer adaptações. Inicialmente, ele prevê a implantação de cerca de 400 apartamentos.

— São Conrado é um bairro residencial, não é turístico. Não comporta mais um hotel. O Nacional, que reabriu, não lota — explica Grinberg.

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