Rio
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A Polícia Federal prendeu, neste domingo, três acusados de envolvimento no assassinato da vereadora Marielle Franco: o deputado federal Chiquinho Brazão e o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Domingos Brazão, estes dois apontados como os supostos mandantes do crime, e o delegado Rivaldo Barbosa, que chefiou a Polícia Civil do Rio e teria atuado para protegê-los. A operação, batizada de Murder Inc., acontece menos de uma semana depois do Supremo Tribunal Federal homologar a deleção premiada de Ronnie Lessa, um dos envolvidos no caso. Como revelou o blog Segredos do Crime, contribuiu para a decisão de Lessa de delatar a preocupação com a família e a delação já firmada por Élcio de Queiroz.

Duas semanas após serem presos no dia12 de março de 2019, o sargento reformado da Polícia Militar, Ronnie Lessa, e o ex-PM Élcio de Queiroz foram transferidos da Penitenciária Laércio da Costa Pellegrino, Bangu1, para a Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Na época, as investigações da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio (MPRJ) apontavam Lessa como autor dos disparos contra a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes, e Élcio, o motorista da emboscada. A decisão de transferi-los tinha como meta desestabilizá-los psicologicamente, além de mantê-los longe dos cúmplices e de sua rede de proteção, para darem os nomes dos mandantes.

Mas isso não bastava, principalmente para fazer com que Lessa admitisse ter assassinado Marielle e Anderson, tampouco, revelasse quem pagou pelo crime por encomenda. Um mercenário que acabou demonstrando ser em sua delação premiada, homologada na última terça-feira (19/03). Antes mesmo de ingressar na Polícia Militar, Lessa pertenceu a Scuderie Le Cocq, grupo de extermínio formado por policiais. Com 18 anos, ele tinha carteirinha da Scuderie. Já na PM, ele entrou nas fileiras do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e, embora não tenha feito o curso de operações especiais, conhecido como "curso de caveira", adquiriu fama de ser destemido e exímio atirador. Do Bope, passou por batalhões em áreas de conflito, como o 9º BPM (Rocha Miranda), nos idos dos anos 1990.

Caso Marielle: Élcio de Queiroz diz que relação de amizade com Ronnie Lessa é 'de irmão'

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Com a característica de quem não teme morrer e detentor de uma frieza ímpar para lidar com os segredos do submundo do crime praticado por policiais com desvio de conduta, Lessa acabou conquistando outra corporação: a Polícia Civil. Ele ficou emprestado às delegacias especializadas a partir de outubro de 2003, função denominada "adido". Era ele, então um sargento da PM, que ficava na linha de frente nas operações policiais com outros colegas da corporação na mesma situação que ele, além de integrantes da Polícia Civil. Foi nas delegacias que ele aprendeu todas as técnicas de apuração de um crime e também a ter talento para extrair dados com informantes ou X-9, como eram chamados na época.

Marielle Franco tem fotobiografia lançada nesta quinta-feira, na Maré — Foto: Divulgação
Marielle Franco tem fotobiografia lançada nesta quinta-feira, na Maré — Foto: Divulgação

Não seria fácil conseguir fazer com que Lessa delatasse por ter fama de "duro na queda". Mas algumas ações precisariam ser feitas pelos investigadores para vencer sua resistência. Após a transferência de presídio, foi a vez de separar Élcio de Lessa. Ainda em 2019, as promotoras do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, Simone Sibílio e Letícia Emile, pediram à Justiça a separação dos dois, ou seja, a mudança de um deles para outra unidade federal de segurança máxima, o que foi deferido. A promotoria percebeu que Lessa exercia poder sobre Élcio.

Apesar do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) imposto aos detentos de presídios federais com restrição de visitas de familiares, celas individuais, horário de banho de sol reduzido em relação às cadeias comuns, ambos continuavam negando o crime e se recusando a fazer uma delação. Foram várias visitas de promotores e delegados da Polícia Civil nas unidades em outros estados.

Além disso, os primeiros quatro anos de prisão da dupla coincidiram com o período em que o governo federal era mais comprometido em apoiar Colecionadores, Atiradores e Caçadores (CACs). Lessa integrava esse grupo. O então sargento da PM ainda se sentia protegido por sua rede de proteção, ainda dos tempos de adido em delegacia.

Flavio Dino, durante sessão no Senado — Foto: Cristiano Mariz/O Globo
Flavio Dino, durante sessão no Senado — Foto: Cristiano Mariz/O Globo

No entanto, em 2023, com a posse do novo governo em Brasília, o então ministro da Justiça Flávio Dino disse que descobrir quem mandou matar Marielle e Anderson era uma prioridade em sua gestão. O ambiente parecia propício para uma colaboração. Numa conversa com o governador do estado, Cláudio Castro, Dino propôs um acordo em que a Polícia Federal entrasse no caso, trabalhando em conjunto com o Ministério Público, o que foi prontamente aceito. Não foi necessário federalizar as investigações.

Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski faz pronunciamento sobre caso Marielle Franco. — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo
Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski faz pronunciamento sobre caso Marielle Franco. — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Em 22 de fevereiro do ano passado, o delegado federal Guilhermo Catramby foi designado para o caso e, com uma equipe de oito agentes, conseguiu a primeira vitória cerca de quatro meses depois: fazer com que Élcio aceitasse fazer delação. O peso de quatro anos em prisão federal, o isolamento e o tempo longe da família, que já atravessava sérios problemas financeiros, fizeram com que o ex-PM rompesse o silêncio. Os investigadores da PF deram a ele a certeza de fazer uma delação segura, principalmente oferecendo proteção a mulher e aos filhos.

A Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro — Foto: Agência O Globo/Arquivo
A Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro — Foto: Agência O Globo/Arquivo

O sigilo foi fundamental para o sucesso da colaboração. Até os advogados constituídos desde à época da prisão, em 2019, foram surpreendidos com o acordo. Uma advogada, totalmente independente, foi contratada para levar o processo de delação adiante. Os antigos defensores pediram para sair.

Foi um baque para Lessa. Em agosto, se sentido fragilizado, ele teria percebido que não tinha mais como amargar 30 anos de prisão, por mais que lesse livros para reduzir sua pena. São 12 processos aos quais responde. Pesou o fato de ser excluído da corporação em fevereiro de 2023. Não tinha mais o soldo de sargento reformado. A preocupação com a família também bateu forte, porque percebeu que estavam vulneráveis. Não havia mais ninguém que os protegesse. Era hora de apontar quem o contratou, segundo fontes ouvidas pelo blog Segredos do Crime.

Ao contrário de Élcio, que está numa unidade prisional em sigilo, Lessa quer voltar para uma cadeia do Rio. No entanto, como fez o compadre, ele também não contou ao advogado, atualmente ex, que faria a delação. Bruno Castro, desde 2019 defendendo Lessa, soube oficialmente pela imprensa, mas desconfiou que o mesmo ocorresse.

— Nesses cinco anos que o defendo, ele nunca me contou que havia cometido o crime. Logicamente, nunca falou sobre delação, mas sigo com os meus princípios: não trabalho com colaboração premiada — explicou o advogado. — Imagina, eu nunca estive com ele sem ser monitorado. Os presídios federais não são como aqueles que conhecemos em filmes americanos. Não há privacidade com o cliente. Sempre há alguém vigiando, telefone grampeado. Respeito a decisão dele, por isso, saí do caso — concluiu Bruno.

A delação premiada de Lessa, homologada pelo ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal (STF) está em segredo de Justiça. Como as informações no mundo da pistolagem são compartimentadas, ou seja, nem todos os integrantes do crime sabem dos detalhes, mas sim, em parte, o assassino confesso de Marielle e Anderson teve muito que contar. Primeiramente, que há dois mandantes, como o blog Segredos do Crime publicou com exclusividade em janeiro deste ano. A PF, por sua vez, para que o acordo fosse homologado, confirmou o que Lessa relatou, apesar de todas as dificuldades de um crime que ocorreu há seis anos. Como o ministro Ricardo Lewandowski anunciou na terça-feira (19/03), o caso "brevemente" será elucidado totalmente.

Mais recente Próxima Caso Marielle: Mortes, destruição de provas e falsas denúncias marcaram os seis anos de investigação do crime

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