Anunciado no dia 20 de junho do ano passado, o projeto de naturalização da Lagoa Rodrigo de Freitas completa um ano com resultados significativos. Um deles é visível para quem passa na altura do Parque do Cantagalo, onde é possível observar uma área de 1.500 metros quadrados que foi recuperada. O espaço costumava alagar e era cruzado pela pista da ciclovia, que teve seu percurso alterado.
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— O projeto mostra em sua exuberância vegetal e animal o quanto os processos naturais, quando não contrariados, podem colaborar decisivamente para a qualidade ambiental das demais espécies e até do ser humano. Comprova também não existir a necessidade de megainvestimento. Quando unimos a colaboração do poder público e da iniciativa privada, podemos criar o bom, bonito, barato e eficiente em termos ambientais. Esse é o caminho— avalia Mário Moscatelli, biólogo e coordenador técnico da iniciativa.
O projeto de naturalização, que consiste em buscar soluções baseadas na natureza para minimizar áreas que foram degradadas e modificadas pelo ser humano, é uma parceria da Subprefeitura da Zona Sul com a Fundação Rio-Águas e tem coordenação técnica de Moscatelli e da paisagista Carolina Moscatelli. Carolina detalha a evolução da área naturalizada durante este um ano do projeto:
— A área de naturalização da lagoa, antes um gramado e um trecho de ciclovia que ficavam periodicamente inundados, hoje abriga espécies de brejo, transição e restinga que se comunicam com a franja de manguezal preexistente. Em um ano notamos que o local foi bem recebido e se tornou mais um abrigo para a fauna. Passando pela área, mesmo em dias de grande movimento, o local nos remete aos sons de áreas verdes isoladas da malha urbana. Escutamos grilos, gafanhotos, insetos polinizadores e insetos que promovem o controle biológico, tal como as libélulas. É a comprovação de que essa pequena franja de área naturalizada no coração da Zona Sul virou lar para inúmeras espécies.
A paisagista acrescenta que este modelo já é utilizado em países como a Alemanha, em plenas áreas urbanas, para aumentar a permeabilidade do solo e incrementar a população de insetos polinizadores, que são essenciais para a reprodução vegetal.
O subprefeito da Zona Sul, Bernardo Rubião, comemora o fato que o projeto tenha solucionado o problema dos constantes alagamentos no entorno da Lagoa.
— O projeto é um sucesso, e em breve vamos iniciar a naturalização do segundo trecho, na altura do Parque dos Patins, perto do heliponto — adianta.
A celebração de um ano do projeto será na quinta-feira, às 10h, e contará com a presença de estudantes da rede municipal de ensino, que vão participar de uma visita guiada com Moscatelli e depois de uma roda de conversa sobre o projeto. Além disso, os estudantes da Escola Municipal Edna Poncioni Ferreira vão plantar novas 30 mudas de restinga, que serão introduzidas no local.
Ricardo Cesar, professor do Departamento de Geografia da UFRJ, estuda a Lagoa há dez anos e acompanha o projeto de naturalização desde o início. Ele ressalta a importância da iniciativa:
— O manguezal é o ecossistema que mais sequestra carbono, mais do que as florestas tropicais. Além disso são como berçários para a reprodução dos peixes e funcionam como filtro de poluição. Minhas aulas práticas acontecem na Lagoa, e agora posso mostrar para os alunos como funciona o processo de naturalização e acompanhar os desdobramentos.
Fauna local de volta
A naturalização da área de 1.500 metros quadrados próxima ao Parque do Cantagalo contou com a introdução de novas espécies de flora. Alguns exemplos são as mudas de grama de mangue, samambaia-do-brejo, algodoeiro-da-praia e mangue-vermelho. Com isso, o local se tornou até mesmo mais atrativo para a fauna. A área passou a receber visitas de colhereiros, capivaras, guaiamuns e saracura. Uma novidade é que um frango-d’água escolheu a parte naturalizada para chocar três ovos. Os filhotes da ave aquática já nasceram e circulam tranquilamente pelo local.
Também foram registrados novos frequentadores, como o bate-bico (Phleocryptes melanops), que só havia sido visto na década de 1980 em Guaratiba; o mergulhão-caçador (Podilymbus podiceps), que gosta de fazer ninho em áreas alagadas; e o casaca-de-couro-da-lama, uma ave endêmica do Brasil.
— É muito bom ver que depois de anos sendo aterrada, a Lagoa voltou a crescer — diz a jornalista Fernanda Cubiaco, frequentadora da Lagoa.
A área naturalizada ganhou também um boneco, inspirado no biológo Moscatelli. Chamada de Protetor Ambiental, a instalação tem o intuito de coibir a presença a entrada de pessoas e cães no local. O espaço está cercado.
A área foi naturalizada por meio de ações de plantio coletivo. Participaram crianças de escolas públicas do entorno e voluntários.
A grama de mangue é diferente do mato alto. A vegetação tem uma funcionalidade importante para a preservação do ecossistema, como a de antierosão. A área naturalizada também funciona como abrigo para a fauna e tem capacidade de remediar elementos tóxicos que estejam no solo ou na água. Estas e outras informações podem ser lidas nas placas que foram instaladas no local.
Projeto beneficiará nova área
No fim deste mês, no dia 26, será realizada a licitação para a naturalização do segundo trecho da Lagoa Rodrigo de Freitas previsto no projeto, na altura do Parque dos Patins, uma área de 485 metros quadrados perto do heliponto onde os alagamentos também são constantes. Parte da ciclovia também deverá ser desviada, e o trecho por onde ela passa será integrado ao corpo hídrico, habitat para animais e berçário para plantas nativas.
As obras incluem a retirada da pavimentação para aumentar a área permeável da margem, recolocação de cerca protetora e construção do passeio em contrato.
— A ideia é que as áreas alagadas sejam reintegradas à Lagoa. O ganho ambiental é perceptível pelas espécies que já habitam no primeiro trecho. Cabe a cada um de nós preservar estes novos espaços — diz Wanderson Santos, presidente da Fundação Rio-Águas.
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