O general da reserva Mauro Lourena Cid, pai do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, relatou em depoimento à Polícia Federal (PF) ter entregue ao ex-presidente Jair Bolsonaro(PL) US$ 68 mil que foram adquiridos com a venda de relógios recebidos pela Presidência. Segundo Lourena Cid, os repasses a Bolsonaro foram feitos "de forma fracionada".
O relato foi confirmado pelo próprio Mauro Cid, que fechou um acordo de delação premiada. "O colaborador ajustou com seu pai, general Mauro Cesar Lourena Cid, que o saque dos U$ 68 mil ocorreria de forma fracionada e entregue à medida que alguém conhecido viajasse dos Estados Unidos ao Brasil; que o dinheiro seria entregue sempre em espécie de forma a evitar que circulasse no sistema bancário normal", diz trecho do depoimento do tenente-coronel.
De acordo com relatos de pai e filho, houve ao menos dois momentos de entrega. A primeira ocorreu em setembro de 2022, quando Bolsonaro ainda era presidente e esteve em Nova York para participar da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
O general declarou que "se recorda de ter repassado ao ex-Presidente Jair Bolsonaro uma parte do valor, quando de sua ida à cidade de Nova York para um evento da ONU" e "que repassou os valores quando visitou o ex-presidente no hotel".
Já Mauro Cid disse que, nessa ocasião, atuou como intermediário para o repasse de US$ 30 mil. "O pai do colaborador, Mauro Cesar Lourena Cid, viajou para a cidade de Nova York, pois também fazia parte da comitiva Presidencial; que na cidade de Nova York, LOURENA CID entregou cerca de U$ 30 mil (trinta mil dólares) em espécie, a Jair Bolsonaro, por meio do colaborador", diz seu depoimento.
Em 2023, quando o ex-presidente tinha saído do cargo no Brasil e estava nos Estados Unidos, houve duas novas entregas, em fevereiro e março, na casa de Lourena Cid.
O general afirmou que "o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu assessor Osmar Crivelatti foram até a residência do declarante na cidade de Miami; que o declarante repassou os valores para o assessor Osmar Crivelatti". Depois, "na outra oportunidade o assessor Osmar Crivelatti foi sozinho até a residência do declarante e pegou parte dos valores decorrentes da venda dos relógios".
Cid afirmou que, no primeiro encontro, foram entregues R$ 20 mil. "No final fevereiro de 2023, o ex-presidente Jairu Bolsonaro visitou Lourena CID em sua residência na cidade de Miami/FL, nos Estados Unidos, oportunidade em que o pai do colaborador entregou a Jair Bolsonaro a quantia de U$ 20 mil (vinte mil dólares), em espécie; QUE o dinheiro foi entregue em mãos a Osmar Crivelatti, assessor que acompanhava Jair Bolsonaro", diz seu depoimento.
Crivelatti confirmou ter recebido um "envelope", que deveria ser entregue a Bolsonaro, mas disse que não sabia o conteúdo.
"Esteve na casa de Mauro Cid na região de Miami, nos EUA, no final de fevereiro de 2023, provavelmente no dia 28, e lá recebeu um envelope de MAURO CID, oportunidade em que o mesmo lhe disse para entregar esse envelope a Jair Bolsonaro; que não sabe dizer o que havia no interior desse envelope", diz a transcrição do seu depoimento.
A defesa de Bolsonaro não comentou o relatório. Entretanto, ao longo da apuração da PF, os advogados do ex-presidente afirmaram que ele agiu dentro da lei" e "declarou oficialmente os bens de caráter personalíssimo recebidos em viagens”. Esses itens, na visão dos advogados, deveriam compor seu acervo privado, sendo levados por ele ao fim de seu mandato.