O ex-ajudante de ordens Mauro Cid enviou ao ex-presidente Jair Bolsonaro o link de um leilão online de um kit de joias recebidos pela Presidência da República. Em resposta, Bolsonaro escreveu "selva", jargão militar. A PF apontou a troca de mensagens como uma das evidências de que Bolsonaro sabia do suposto esquema de venda de presentes do acervo presidencial.
No celular de Bolsonaro, a PF também encontrou registros de navegação, os chamados "cookies", que mostram que o ex-presidente de fato abriu o link do leilão, 21 minutos depois de ter sido enviado por Cid. Já a mensagem "selva" foi enviada após a abertura do link.
![Troca de mensagens entre Jair Bolsonaro e Mauro Cid sobre leilão de joias — Foto: Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/Hhn44zkU7uVYSiPrBM3mlXW8qSE=/0x0:675x273/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/J/z/Y9GKVJShSCGb30kTyx5w/selva.jpg)
O diálogo ocorreu em 4 de fevereiro de 2023. Quatro dias depois, Cid envia o link de uma transmissão de um leilão no Facebook e escreve: "daqui a pouco é o kit". Entretanto, o item não foi comprado.
Houve uma tentativa de agendar um novo leilão, mas depois Cid afirma que não quer mais vender as peças e pedem para elas serem enviadas para o endereço que Bolsonaro estava morando, na Flórida.
Para a PF, a sequência de fatos confirma a "ciência" de Bolsonaro sobre o leilão. "Esta sequência apresentada: primeiro, o envio de link do leilão por Mauro Cid; segundo, o registro de acesso à página por meio de histórico e cookies por Jair Bolsonaro em seu aparelho telefônico; e terceiro, a utilização da expressão 'Selva' reforçam a utilização deste jargão para confirmar a ciência, do ex-presidente, de que o KIT ouro rosé fora exposto a leilão", diz o relatório.
A investigação foi concluída na semana passada, e a PF indiciou Bolsonaro por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro. Outras 11 pessoas também foram indiciadas.
A defesa de Bolsonaro não comentou o relatório. Entretanto, ao longo da apuração da PF, os advogados do ex-presidente afirmaram que ele agiu dentro da lei" e "declarou oficialmente os bens de caráter personalíssimo recebidos em viagens”. Esses itens, na visão dos advogados, deveriam compor seu acervo privado, sendo levados por ele ao fim de seu mandato.