Política
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A Polícia Federal investiga se a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), sob a gestão de Alexandre Ramagem, hoje deputado federal pelo PL, levantou informações de inquéritos sigilosos envolvendo políticos do Rio e se ampliou o volume de consultas ao sistema de espionagem FirstMile durante as eleições municipais em 2020. A ferramenta israelense monitorou durante o governo de Jair Bolsonaro a localização de parlamentares, ambientalistas, jornalistas, professores e advogados, conforme revelou O GLOBO.

Investigadores descobriram indícios de que, em fevereiro de 2020, Ramagem imprimiu na sede da Abin, em Brasília, uma lista com os números dos inquéritos relacionados a 66 políticos que foram candidatos nas eleições de 2018, mas não se elegeram. As informações foram extraídas de um sistema da superintendência da PF no Rio de Janeiro — e apontam ainda dados sobre “valores em apuração”.

“A impressão de relatório de informações com referências à data 28/02/2020, a priori sigilosas, relacionadas a Inquéritos Policiais Federais da DELINST, unidade responsável pelas apurações eleitorais, da Superintendência da Polícia Federal, demonstra o interesse ‘eleitoral’ no ano de 2020”, aponta o relatório da PF em referência à atuação paralela da Abin sob a gestão de Ramagem.

A maioria dos nomes relacionados na planilha da Abin pertencia às siglas hoje extintas, como PMB e Patriota. As duas legendas chegaram a ser cotadas para abrigar o então presidente Jair Bolsonaro, que na época estava sem partido após deixar o PSL, em 2019. O documento também destaca integrantes do PSL, PP, MDB , DEM e PDT, todos do Rio, reduto eleitoral de Ramagem.

Na lista constam ainda uma ativista de movimentos culturais do PCdoB, uma socióloga do PDT, um ex-policial militar do extinto DEM (atual União Brasil) e um ex- bombeiro do Patriota detido na Operação Lesa Pátria por envolvimento com os atos de 8 de janeiro.

Acesso restrito

A planilha envolvendo inquéritos de políticos do Rio foi recuperada pela Controladoria-Geral da União (CGU), que teve acesso ao login utilizado por Ramagem para enviar arquivos à impressora da Abin. Ao restaurar o documento, integrantes do órgão descobriram que se tratavam de informações sensíveis.

Apesar de ser delegado federal, Ramagem estava afastado da corporação desde julho de 2019, quando assumiu o comando da Abin após ter se destacado como coordenador da segurança de Jair Bolsonaro na campanha a presidente em 2018. Procurada, a PF afirmou que "o acesso de dados de inquéritos policiais é restrito" e que "investiga o eventual vazamento de informações".

Ramagem não quis se pronunciar. Anteriormente, ele já havia negado irregularidades em sua gestão na agência de inteligência. Já a Abin disse, em nota, que "continua à disposição das autoridades no âmbito das investigações" e que atos praticados por Ramagem estão "sendo investigados pelos órgãos competentes".

De olho nas eleições

No mesmo período em que levantou informações sobre inquéritos envolvendo políticos no Rio de Janeiro, a Abin comandada por Ramagem aumentou o volume de consultas ao sistema FirstMile, que monitorava os passos de alvos selecionados por meio da conexão de rede do celular. As buscas pela localização de alvos selecionados aumentaram 2.500% em outubro de 2020, período das campanhas para as eleições para prefeito e vereador em todo o país.

“O uso do sistema FirstMIle em outubro de 2020, período eleitoral, apresentou discrepância na distribuição das consultas posto que das 60.734 (sessenta mil, setecentos e trinta e quatro) consultas constantes na tabela target, 30.344 (trinta mil, trezentos e quarenta e quatro consultas) foram realizadas no período eleitoral de 2020”, diz relatório da PF.

Consultas por mês no FirstMile, sistema da Abin — Foto: Editoria de arte
Consultas por mês no FirstMile, sistema da Abin — Foto: Editoria de arte

Os dados apontam que o sistema foi utilizado pela Abin entre fevereiro de 2019 e abril de 2021. Nos demais meses, fora do pico eleitoral, a média mensal foi de 1.168 buscas.

Em manifestação feita no âmbito do inquérito que investiga o uso do sistema espião, a Procuradoria- Geral da República (PGR) classificou o pico de buscas no período eleitoral como “concentração desarrazoada”, “corroborando a suspeita de instrumentalização da Abin para fins políticos”. O uso do FirstMile foi revelado pelo GLOBO em março de 2023.

A ferramenta de espionagem foi adquirida pela Abin com a justificativa de ser utilizada no "Plano Rio". No entanto, o programa israelense passou a ser usado como principal foco em Brasília. Foram monitoradas regiões próximas ao Supremo Tribunal Federal (STF), Superior Tribunal de Justiça (STJ), Tribunal de Contas da União (TCU) e ao aeroporto internacional, segundo a investigação da PF. O Rio concentrou apenas 7% das buscas.

Acessos ao FirstMile por estado — Foto: Editoria de arte
Acessos ao FirstMile por estado — Foto: Editoria de arte

Em Brasília, de acordo com a PGR, o uso do FirstMile “alcançou as Asas Sul e Norte, o Lago Sul e a região central da capital federal, notadamente na sensível região da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes”.

Em diferentes estados, como Mato Grosso, São Paulo e Ceará, a ferramenta foi utilizada pela Abin para monitorar caminhoneiros e representantes da categoria envolvidos em manifestações. No entanto, a PF descobriu que nessas operações também era vigiados professores, sindicalistas e jornalistas.

Uma análise feita pela PF do perfil dos alvos do programa espião revela que a maior parcela de monitorados, 31%, é composta por empresários. Servidores públicos, professores, pesquisadores e militares representam 14% das buscas feitas no sistema.

Além disso, 8% dos monitoramentos foram contra alvos ligados a associações e empresas privadas. Um exemplo é o da pesquisadora Luiza Alves Bandeira, responsável por um estudo que mapeou páginas bolsonaristas que difundiam notícias falsas e realizavam ataques coordenados nas redes sociais. Outros 3% dos alvos eram advogados, mesmo patamar dos políticos.

Um deles, conforme O GLOBO mostrou, foi o ex-deputado federal Jean Wyllys. No início de 2019, ele optou por não assumir o novo mandato como parlamentar para o qual havia sido eleito. Ele fez oposição pública ao clã Bolsonaro, colecionou embates judiciais com os filhos do ex-presidente e decidiu morar no exterior. Foi substituído na Câmara por David Miranda, morto em maio de 2023.

Investigação da Abin — Foto: Reprodução
Investigação da Abin — Foto: Reprodução

Inicialmente, as buscas no FirstMile eram feitas a partir de sete computadores com acessos restritos. Com o passar do tempo, a ferramenta foi compartilhada entre diferentes áreas — via acesso remoto e com pedidos de consultas feitas até por WhatsApp, sem registro formal de plano de operação.

Somente a conta de um integrante da Abin realizou 33.225 consultas no FirstMile. Outro membro da agência fez 11.763 pesquisas na ferramenta de espionagem. Há indícios de que as suas senhas de acesso eram compartilhadas, o que contraria as regras de segurança de informação do próprio órgão de inteligência.

Das 60.733 linhas consultadas, 21.309 apresentaram campos de latitude e longitude preenchidos, o que significa que a agência registrou a localização dos alvos, que era o objetivo da espionagem. De volume total, cerca de 10 mil buscas foram feitas de maneira informal, sem qualquer missão registrada no sistema da Abin.

Vigilância de parlamentares

A investigação da Polícia Federal também encontrou indícios de que a estrutura paralela que vigorou na Abin durante o governo de Jair Bolsonaro monitorou um encontro de parlamentares em Brasília.

Em março de 2020, Ramagem encaminhou a um subordinado uma mensagem informando sobre um jantar entre Rodrigo Maia, à época presidente da Câmara, a ex-deputada federal Joice Hasselmann e Antônio Rueda, atual presidente do União Brasil. “Jantar no Rueda ontem entre o Próprio, Joice e Rod Maia (…) Chegou com um cidadão com pasta de documento na mão…ficou 29min e saiu”, diz o texto enviado por Ramagem via WhatsApp, pedindo para checar a placa de um carro.

Após analisar dados do automóvel, um integrante da Abin informou que o veículo pertencia à Polícia Federal e era usado pelo então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres. O carro chegou a ser fotografado pelo integrante da agência. Naquela época, Maia e Joice eram inimigos declarados do presidente Jair Bolsonaro — e faziam duras críticas ao então presidente pela condução do combate à Covid-19.

Reprodução de relatório informal da Abin sobre veículo usado por Anderson Torres em jantar com presidente da Câmara — Foto: Reprodução
Reprodução de relatório informal da Abin sobre veículo usado por Anderson Torres em jantar com presidente da Câmara — Foto: Reprodução

Relatório informal

A investigação da PF indica ainda que havia preocupação dos integrantes da Abin ligados a Ramagem de não haver registro de algumas operações no sistema interno da agência. Uma delas envolveu Jair Renan Bolsonaro, filho mais novo do ex-presidente.

À época, a PF investigava suspeitas de tráfico de influência após a revelação pela revista Veja de que Jair Renan e seu personal trainer intermediaram uma reunião de negócios entre empresários e integrantes do governo Bolsonaro.

Naquela época, sob o comando de Ramagem, a Abin passou a seguir os passos do ex-personal trainer, numa tentativa de tirar o filho do então presidente do foco da investigação da PF, que posteriormente foi arquivada. Um integrante da agência chegou a tirar fotos do estacionamento do prédio onde morava o ex-parceiro de negócios de Jair Renan. A ação de espionagem foi flagrada pela Polícia Militar do Distrito Federal.

Relatório da Abin sobre o ex-parceiro comercial de Jair Renan Bolsonaro — Foto: Reprodução
Relatório da Abin sobre o ex-parceiro comercial de Jair Renan Bolsonaro — Foto: Reprodução

Em vez de repassar o relatório da operação diretamente para Ramagem, o agente da PF cedido para Abin incluiu a descrição da vigilância no sistema da agência. Por um descuido, o arquivo, registrado em 17 de março de 2021, ficou disponível para outros servidores do órgão.

Em depoimento, uma oficial da Abin contou que recebeu uma ligação de uma pessoa do gabinete da diretoria-geral da agência, sob o comando de Ramagem, pedindo para que “dessem um jeito”de “retirar o documento” ou “limitar o seu acesso” no sistema interno do órgão. A servidora disse que não tinha o que fazer, porque outras pessoas já tinham tido acesso ao relatório.

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