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GERADO EM: 11/07/2024 - 15:16

Devolução do Manto Tupinambá ao Brasil

O manto Tupinambá, devolvido pela Dinamarca, voltou ao Brasil após séculos e será exposto no Museu Nacional. A peça é considerada sagrada pelos indígenas e faz parte da reconstrução do acervo após o incêndio de 2018. Diversas medidas de conservação estão sendo tomadas para garantir a integridade do artefato, que representa a ancestralidade dos povos originários brasileiros. A devolução do manto é vista como um marco histórico e inédito, marcando um renascimento para o museu e para a preservação da cultura indígena.

A diretoria do Museu Nacional confirmou nesta quinta-feira que o manto Tupinambá — peça dos povos originários brasileiros, devolvido pela Dinamarca, onde estava desde 1689 — já está em solo brasileiro. Conforme O GLOBO apurou, a previsão é de que a peça seja exposta ao público já no próximo mês, quando deve ser realizado um evento, com a presença dos Tupinambá (localizados principalmente na Bahia), e autoridades.

"Nas próximas semanas, em data ainda a ser confirmada, após a adoção de todos os procedimentos necessários para a perfeita conservação dessa peça tão importante, e sagrada para nossos povos originários, apresentaremos o manto a sociedade", diz o comunicado oficial sobre a peça de 1,2 metro de altura, por 0,5 metros de largura.

O local em que o manto está guardado neste momento é mantido em segredo, assim como outros detalhes sobre a mais nova peça do Museu Nacional. O próprio deslocamento para o Rio de Janeiro foi feito com o máximo de discrição, por questões de segurança. O antropólogo João Pacheco de Oliveira, curador das coleções Etnográficas do Museu Nacional, comemorou o feito de a peça ter retornado ao seu país de origem.

— É muito importante falar da importância desse manto: esse é o primeiro artefato indígena brasileiro de grande significação que retorna de um museu europeu. É um fato inédito — afirmou João, que coordenou o Grupo de Trabalho Acolhimento ao Manto Tupinambá, criado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) após o anúncio de que a peça seria devolvida ao Brasil.

Em 2000, o manto já tinha visitado o Brasil, quando foi exposto na "Mostra do Redescobrimento", exposição sobre os 500 anos de história do país, em São Paulo.

Manto Tupinambá foi exposto em São Paulo, em 2000, e voltou para a Dinamarca depois — Foto: José Luís da Conceição / 30-04-2000
Manto Tupinambá foi exposto em São Paulo, em 2000, e voltou para a Dinamarca depois — Foto: José Luís da Conceição / 30-04-2000

A antropóloga Glicéria Tupinambá, também conhecida como Célia Tupinambá, diz que o manto se manifesta como uma entidade ancestral para integrantes das tribos Tupis. Esta é uma das explicações para que os outros mantos, que simbolizam entidades encantadas, tenham permanecido na Europa:

— O manto Tupinambá não está no lugar de um objeto, e sim de um ancestral, tem espiritualidade. Antes de ele retornar, em 2022, houve uma consulta aos encantados. Em seguida, o Cacique Babau (Rosivaldo Ferreira da Silva) fez a escuta. Ele (o ancião multicentenário simbolizado pelo manto) manifestou que estava pronto para voltar ao Brasil, que deveríamos fazer uma carta ao Museu de Copenhague. Então, não é só ir lá e pedir os mantos de volta. Tem que ter a escuta ritual, o entendimento da história e das possibilidades para os museus nos receberem.

Após um período de descanso depois da viagem para o Brasil, a peça será colocada em contato com os indígenas, que poderão fazer rituais de acolhimento e limpeza, por exemplo. Dias depois, ainda no fim de agosto, deve ser realizado um evento com ampla participação indígena, assim como autoridades brasileiras e figuras consideradas importantes no processo de transferência da peça para o Brasil, como o então embaixador brasileiro na Dinamarca, Rodrigo de Azeredo Santos. A cerimônia será como um "renascimento", já que estará às vésperas de se completar seis anos desde o incêndio que destruiu o museu, ocorrido em 2 de setembro de 2018.

Só então o manto será exposto ao público, numa sala de aproximadamente 100 m² do Prédio da Biblioteca Central do Museu Nacional, também localizada na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão. O manto deve ficar no local até que as obras do palácio — como é chamado o prédio principal — sejam concluídas, o que está previsto para 2026. Uma preocupação é de que o manto seja exposto na vertical: há o entendimento de que ele não deve se curvar a ninguém, mas que, na verdade, as pessoas devem se curvar a ele.

Museu Nacional foi consumido por um incêndio em 2018 — Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Globo / 02-09-2018
Museu Nacional foi consumido por um incêndio em 2018 — Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Globo / 02-09-2018

Ar condicionado e desumidificador para preservar o manto

Documentos obtidos pelo GLOBO mostram que houve uma preocupação do Museu Nacional contra fatores de degradação do manto Tupinambá. Com penas consideradas "muito sensíveis a flutuações de umidade e temperatura", foram pontuadas a necessidade de se ter um aparelho de ar condicionado e um desumidificador no ambiente.

Também é necessário controlar a luz, para evitar que as penas desbotem e fiquem mais frágeis. Cuidados com a poeira e com insetos, como traças, também são listados como essenciais. Os parâmetros ideais são de que a temperatura ambiente fique entre 18 e 23 graus, preocupação principalmente no verão carioca. A umidade relativa do ar também precisa ficar entre 40% e 60%, com variação diária de no máximo 2,5%.

Projeção de como é a sala de 100m² em que o manto Tupinambá ficará exposta na Biblioteca do Museu Nacional, até reabertura do prédio principal, em 2026 — Foto: Reprodução
Projeção de como é a sala de 100m² em que o manto Tupinambá ficará exposta na Biblioteca do Museu Nacional, até reabertura do prédio principal, em 2026 — Foto: Reprodução

Uma mapoteca — mobiliário adequado para guardar plumárias em museus — sob medida também precisou ser confeccionada. A estimativa inicial era de que os gastos para montar esse ambiente ideal para o manto sejam da ordem dos R$ 100 mil.

O que é o manto Tupinambá?

O manto Tupinambá é considerado um patrimônio dos povos indígenas do Brasil. Os Tupinambás foram as primeiras pessoas encontradas pelos europeus ao desembarcarem por aqui, e atualmente estão localizadas principalmente na Bahia.

Feito com penas de guará — ave com plumagem na coloração vermelha — amarradas e entrelaçadas pelo cálamo (uma espécie de "caule" das penas) através da tecelagem de uma trama de fios vegetais. As peças eram usadas por pajés durante alguns rituais. Ao todo, outros 10 mantos retirados do Brasil estão localizados em museus europeus: há peças na Itália, na Suíça, na Bélgica e na própria Dinamarca.

Peça devolvida

A Dinamarca anunciou em 2023 que entregaria um manto tupinambá do século XVII, que estava em Copenhague desde 1689. O manto, que os indígenas consideram sagrado, era uma das apenas 11 peças semelhantes remanescentes pelo mundo. Além da que retornou ao Brasil, todas as outras peças estão em instituições na Europa — cinco sob a guarda da associação nacional de museus dinamarquesa.

Na época, o Museu Nacional da Dinamarca (Nationalmuseet) destacou que a doação do manto era uma “contribuição única e significativa” para a recuperação do acervo brasileiro. “As heranças culturais têm um papel decisivo nas narrativas das nações sobre si mesmas. É assim no mundo inteiro. Por isso, é importante para nós ajudar a reconstruir o Museu Nacional do Brasil depois do incêndio devastador de alguns anos atrás”, afirmou em nota enviada à revista Piauí, o antropólogo Rane Willerslev, diretor do Museu Nacional da Dinamarca.

Novo arquivo do Museu Nacional

O Museu Nacional tinha acabado de completar 200 anos de existência (foi criado por decreto de Dom João VI em 6 de junho de 1818), quando um incêndio destruiu não só a estrutura do prédio em que ficava instalado, na Quinta da Boa Vista, como perdeu 85% dos 20 milhões de itens do seu acervo.

Desde então, foi preciso apelar para uma campanha de doações, para recompor o acervo do museu. Uma coleção de arte greco-romana, cerâmicas africanas de diversas origens e um tigre morto num safári por um caçador brasileiro, preservado com técnicas de taxidermia, são alguns dos itens que farão companhia ao Meteorito Bendegó, um dos poucos sobreviventes do antigo acervo.

O museu também contará com a ossada de uma baleia cachalote, maior animal com dentes encontrado hoje no mundo (pode chegar a 20 metros), o cetáceo encalhou no Ceará, em 2014. O cantor Nando Reis e o policial federal Ivan Ferreira Pinto, que participou da perícia feita para investigar as causas do incêndio, também aparecem entre os doadores: o músico e seu pai doaram coleções de conchas, enquanto o policial cedeu 1.042 borboletas e mariposas capturadas por três gerações de sua família no Parque Nacional da Tijuca.

Há um ano, O GLOBO noticiou que mais de 8,5 mil itens já haviam sido recebidos, número que já deve ser maior: só entre as coleções etnográficas, que envolvem populações indígenas e afro-brasileiras, a quantidade de objetos é da ordem dos 3 mil, de acordo com João Pacheco de Oliveira.

— No nosso caso, o número não é tão importante, mas, sim, a qualidade. Todas as peças estão sendo fornecidas pelos próprios indígenas e pessoas muito conhecedoras dos indígenas. É um processo de reconstrução radicalmente participativo. Não colocamos nenhuma peça que não saibamos a procedência — detalha o antropólogo.

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