Entrevistas
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Por Anna Luiza Santiago

Maeve Jinkings se define como uma pessoa fascinada pelo comportamento humano. Por isso, a atriz está sempre em busca de diferentes personagens que a ajudam a adentrar uma gama mais diversa de possibilidades de representação. Em cartaz nos cinemas com o filme "Sem coração", ela interpreta Fátima, mãe de Tamara (Maya de Vicq), que vive seus últimos momentos com os amigos em uma vila no litoral de Alagoas antes de se mudar para Brasília. É quando passa a explorar sua sexualidade e se interessa por uma menina, apelidada de "Sem coração" (Eduarda Samara), por causa de uma cicatriz no peito.

— Tem o tema da iniciação sexual, de tabus, de limite, de abuso, de coisas não ditas. Foi um trabalho muito sensível e delicado. Gosto da ideia de as pessoas terem esse ponto de vista, de um grupo de amigos no Nordeste brasileiro. Foi filmado de uma maneira que não é muito frequente no cinema nacional. Tem um lado doce, mas também muito duro da vida, que faz parte do processo de amadurecimento. É um recorte muito específico, mas que também é muito universal, porque de alguma maneira todos nós já vivemos despedidas, paixões medos, esse processo de você entender quem você é e o que quer — analisa a atriz.

Na televisão, Maeve está no ar em "Os outros", exibido semanalmente na Globo. Ela interpreta Mila, mãe do adolescente Rogério (Paulo Mendes) e casada com o abusivo Wando (Milhem Cortaz). A atriz inicialmente hesitou em interpretar uma personagem abordando essa temática após ter vivido Domingas na novela "A regra do jogo", de 2015:

— A Domingas era mais evidentemente submissa, muito frágil, com uma baixa autoestima. A Mila é uma personagem com uma outra complexidade que me interessava. Ela tem essa falsa altivez, que eu acho que é muito comum. Traz a questão da dominação e da toxicidade da relação de uma maneira mais traiçoeira, quando você acha que está no comando e revidando, mas no máximo está entrando em uma relação tóxica sem perceber. Ela tem essa outra camada, de uma mulher bonita, atraente. Ela respondia ao marido, mas no final das contas estava completamente paralisada por essa relação. E pela própria condição dela, de uma performance de modelo de mulher, de cuidar da casa e dos filhos, de abrir mão do trabalho e da vida, e estar sempre disponível por outros. E é nesse momento que ela começa a perceber que o filho passa a desprezá-la e reproduz essa lógica misógina.

Na trama, Mila é vítima de um estupro marital, quando Wando a força a ter uma relação sexual. Em outro momento da história, a personagem vive um relacionamento com Amâncio (Thomás Aquino), e os dois têm uma relação sexual consensual. Maeve fala sobre a diferença da carga emocional nos dois momentos:

— Historicamente, como a sexualidade feminina é mais explorada do que a masculina, acaba que a gente fala mais das atrizes. Mas ao mesmo tempo estamos problematizando o comportamento masculino. Então, quando a gente foi filmar o estupro, o Milhem estava supernervoso. Foi curioso, porque eu me dei conta do que estava em jogo para ele como homem naquele momento. Ele ficou tão preocupado comigo, pela violência da cena, que ficou nervoso. E aí eu fiquei tranquila para acalmá-lo, falando que estava tudo bem. Foi uma cena extremamente coreografada e muito plástica. A Luísa (Lima, diretora) deixou muito claro o que ela queria — relembra a atriz. — Já na cena com o Thomás a gente conversou muito sobre referências. Mesmo falando sobre tudo isso, filmar uma cena de sexo é sempre algo delicado, é uma exposição de corpos. Mas confesso que pela cena do pré-sexo eu tenho um carinho maior, quando a Mila está cortando o cabelo do Amâncio na frente do espelho. A gente conseguiu construir um jogo de erotismo, mesmo sem mostrar muita coisa. A câmera encontrou esses focos de erotismo, como a maneira como a Mila toca a nuca do Amâncio. Acho uma cena muito bonita, e a Luísa deixou a gente improvisar bastante.

Maeve também está envolvida em outro projeto, desta vez no streaming. Atualmente, ela está em fase de ensaios para começar a gravação da segunda temporada da série "DNA do crime", da Netflix, em que interpreta a policial federal Suellen. A atriz conta que se surpreendeu com as descobertas que fez com o papel:

— É importante como ator ir de um polo ao outro, fazer papéis diferentes. Nunca imaginei fazer uma policial, nunca desejei particularmente fazer uma policial, sempre tive horror a armas. O que eu acho fascinante é ter a chance de explorar personagens que me levam para comportamentos humanos muito distantes da minha realidade, que me ajudam a compreender dimensões do comportamento humano que na minha vida eu jamais teria acesso. Muitas vezes, inclusive, de personagens sociais que eu tenho dificuldade de lidar, como eu tinha com policial. Eu sou uma mulher progressista. Estatisticamente, a polícia tem esse viés mais conservador. No entanto, me colocar nesse lugar, conversar com essas pessoas e compreender a maneira como elas percebem o mundo foi tão rico para mim.

Nos últimos anos, o audiovisual brasileiro passou por momentos de dificuldade, com cortes de incentivo a produções e esvaziamento de políticas públicas — tudo agravado pela pandemia do Covid-19. Para Maeve, este ciclo está diretamente ligado às mudanças sociais, políticas e econômicas pelas quais o país e o mundo têm passado:

— Depois da pandemia, sinto que o público ficou viciado na relação mais cômoda do acesso ao streaming, junto com esse momento de precarização da indústria. O meio artístico está em um momento muito delicado, está difícil fechar as contas, levar as pessoas ao cinema. Desde 2013, nosso país vive uma instabilidade política sem parar. Desde o que eu considero um golpe (o impeachment sofrido por Dilma Rousseff em 2016), já que depois a presidenta Dilma foi inocentada, e principalmente depois da eleição do Bolsonaro, o país e o mundo estão mais conservadores. Neste momento de instabilidade política e econômica, o conservadorismo tem como uma de suas maiores armas o medo. No medo você consegue paralisar as pessoas. Nesses momentos, os artistas são sempre demonizados, e isso aconteceu nos governos Bolsonaro e Temer. O conservadorismo trabalha nesta chave: você desumaniza aquele que não parece com você. Ou você odeia, ou tem medo, ou as duas coisas. Isso já cria uma dificuldade de diálogo, e hoje os algoritmos já nos levam para esse lugar. O conservadorismo ainda piora as coisas. Os artistas, por natureza, não estão ligados ao moralismo ou ao tempo de agora. Os grandes artistas e as grandes obras não estão falando só com o nosso tempo, estão tentando furar a bolha da moral e das nossas crenças viciadas em um modo de ver muito imediatista. O que para muitas pessoas é assustador e ameaçador. A arte é naturalmente crítica, é para isso que ela serve. Ela não é para deixar no conforto, é para desestabilizar. A arte vem para deixar perguntas.

Um dos elementos do conservadorismo que preocupa a atriz é o avanço das pautas que miram os direitos da comunidade LGBQTIAPN+. Maeve se identifica como bissexual e atualmente está em um relacionamento com a diretora Carolina Markowicz, que a dirigiu nos filmes "Carvão" (2021) e "Pedágio" (2023):

— Tento ter cuidado com os trabalhos que eu escolho que tangenciam esse tema e na maneira como eu falo sobre ser bissexual e fazer parte da comunidade. Acho que a gente não precisa de rótulos, mas ao mesmo tempo é importante para agir politicamente. Quando eu tinha relações heterossexuais, a minha vida era a mesma. Eu trabalhava, estudava, encontrava meus amigos, via a minha família. Então. como eu me comunico com as pessoas diante da normalidade disso? Como eu falo disso com pessoas que tiveram outra formação, que têm dificuldade de enxergar a normalidade que é? Eu vivo a minha relação normalmente e falo dela como qualquer pessoa. Não quero hiperexpor, porque, se fosse um relacionamento hétero, eu não estaria fazendo isso. Ao mesmo tempo, é importante falar sobre isso, escolher trabalhos que falem sobre isso. Acima de tudo, acho importante que a gente exista, tenha trabalhos, seja vista e tenha um tratamento igual. Então, é sempre uma equação para mim: como eu não mercantilizo esse tema em um momento da história em que essas bandeiras viraram mercadoria? É uma pergunta que eu me faço constantemente.

Carolina Markowicz (esq.) e Maeve Jinkings — Foto: Reprodução/Redes sociais
Carolina Markowicz (esq.) e Maeve Jinkings — Foto: Reprodução/Redes sociais
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