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Em entrevista à rádio CBN na véspera de mais uma decisão sobre juros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a atacar o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Não é papel do presidente da República interferir nas deliberações da autoridade monetária. Lula teria feito melhor se explicasse como pretende ajustar as contas públicas para resgatar a credibilidade de seu governo diante do mercado, em plena deterioração.

Em desafio aos fatos, ele afirmou que o comportamento do BC é a única “coisa desajustada” na economia brasileira. Campos Neto, disse Lula, não tem autonomia, “tem lado político” e “trabalha mais para prejudicar o país do que ajudar”. Comparou-o ao ex-juiz Sergio Moro e criticou o jantar que lhe ofereceu o governador paulista Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP): “Como ele vai para uma festa quase que assumindo cargo no governo de São Paulo?”.

Lula tem razão num ponto: enquanto é presidente da autoridade monetária, Campos Neto não deveria comparecer a homenagens com evidente fundo político. Pior ainda foi ter dito, segundo relatos, que aceitaria o cargo de ministro da Fazenda num eventual governo Tarcísio. Autonomia e independência devem ser exercidas em decisões, mas também demonstradas publicamente. Se Campos Neto tivesse esse cuidado, não teria aberto o flanco que permitiu a Lula atacá-lo.

No que diz respeito a seu papel como presidente do BC, contudo, a acusação de “bolsonarista” não tem cabimento. Quando Jair Bolsonaro tentava a reeleição, os juros subiram para 13,75%. Desde que Lula assumiu, não houve aumento. Na presidência do BC, Campos Neto mostrou independência e foco no combate à inflação. No Conselho de Política Monetária (Copom), seu voto vale tanto quanto os demais.

De forma pertinente, o Copom tem alertado o governo sobre os riscos do descontrole fiscal. Antes mesmo de assumir, Lula fez opção por aumentar despesas, com a PEC da Transição. No primeiro ano, aprovou novas regras fiscais que dependem essencialmente do aumento de arrecadação para compensar os gastos, mas a estratégia chegou ao limite. A Bolsa em queda e a desvalorização do real traduzem a incredulidade dos agentes econômicos. Para tentar salvar a credibilidade do arcabouço fiscal, os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, discutiram com Lula nesta semana alternativas para controlar gastos. Era com isso que o presidente deveria se preocupar.

Os termos do ajuste ainda não estão claros, mas as prioridades deveriam ser duas: 1) desvincular das receitas os pisos de gastos em Saúde e Educação; 2) desvincular do salário mínimo os benefícios previdenciários. Ao contrário do que dizem os críticos, não se trata de corte ou congelamento, apenas de calibrar o ritmo de crescimento das despesas para que, paulatinamente, caibam no Orçamento. Outras ideias oportunas são a redução das emendas parlamentares e uma reforma administrativa que melhore a gestão e diminua o peso das despesas com pessoal.

As reações de partidários do governo são preocupantes. O PT divulgou comunicado em tom conspiratório, afirmando, contra todas as evidências e contra atos da própria equipe econômica, que inexiste crise fiscal. Nada mais distante da realidade. Lula tem o dever de transmitir sinais firmes de compromisso com o controle de gastos, do contrário a crise só se agravará.

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