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Ucrânia anuncia captura de Viktor Medvedchuk, político de oposição e aliado próximo de Vladimir Putin

Deputado apontado como financiador de milícias pró-Moscou no Leste ucraniano e alvo de sanções de Kiev estava foragido desde o início da invasão russa, em fevereiro, quando escapou de prisão domiciliar
Viktor Medvedchuk depois de ser preso pelo Serviço de Segurança da Ucrânia Foto: Divulgação / Presidência da Ucrânia
Viktor Medvedchuk depois de ser preso pelo Serviço de Segurança da Ucrânia Foto: Divulgação / Presidência da Ucrânia

KIEV E MOSCOU — O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou a prisão de um dos principais nomes da oposição e apontado como o maior aliado do presidente Vladimir Putin no país, Viktor Medvedchuk. Ele estava foragido desde meados de fevereiro, quando escapou da prisão domiciliar na capital, Kiev.

"O Serviço de Segurança da Ucrânia prendeu Viktor Medvedchuk, o maior aliado de Putin na Ucrânia", escreveu Zelensky em publicação no Telegram. De acordo com autoridades em Kiev, a captura ocorreu após uma "operação de risco".

Após o anúncio, o presidente sugeriu, em uma declaração por vídeo, que Medvedchuk fosse envolvido em uma troca por soldados ucranianos capturados pelas forças russas.

— Bem, se Medvedchuk escolheu um uniforme militar para si, ele se enquadra nas leis da guerra — disse Zelensky, se referindo às roupas usadas pelo político no momento de sua captura. — Proponho à Federação Russa que troque esse seu "cara" por nossos homens e mulheres [mantidos] em cativeiro russo. Portanto, é importante que nossos policiais e militares também considerem essa possibilidade.

Moscou ainda não respondeu à oferta.

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Viktor Medvedchuk é há anos alvo de críticas por sua proximidade de Putin, e é considerado o principal representante dos interesses de Moscou na Ucrânia,. Em 2014, ele chegou a ser incluído em uma lista de sanções do governo dos EUA por seu suposto envolvimento com a anexação russa da Crimeia, um movimento condenado internacionalmente.

Isso não impediu que, em 2018, ele retornasse ao Parlamento como líder da Plataforma de Oposição - Pela Vida, a principal força contrária a Volodymyr Zelensky no Legislativo. Em 2021, ele e sua mulher, Oksana, foram acusados de financiar milícias separatistas em Donestk e Luhansk, no Leste ucraniano, o que levou à abertura de um processo pelo crime de traição e a uma ordem para que fosse colocado em prisão domiciliar.

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Tal decisão, segundo analistas, enfureceu Vladimir Putin em Moscou, e pode ter contribuído para a decisão de intensificar a pressão militar sobre os ucranianos — os dois se conhecem desde 2003, em uma relação que mescla aspectos familiares e políticos.

Com o início da invasão, Medvedchuk chegou a ser apontado como um nome para suceder Volodymyr Zelensky caso o atual governo de Kiev fosse derrubado — a realidade no campo de batalha se mostrou bem complexa do que nas previsões iniciais, e Medvedchuk aproveitou o caos na capital ucraniana para escapar da prisão domiciliar, por "razões de segurança", como afirmou seu advogado no fim de fevereiro. A mulher dele, Oksana, fugiu para a Rússia através da Bielorrússia também em fevereiro.

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Sem o posto de líder da Plataforma de Oposição - Pela Vida, retirado dele no dia 8 de março, muitos especulavam que o opositor estaria fora da Ucrânia, provavelmente sob proteção do Estado russo, mas ele acabou capturado nesta terça-feira em solo ucraniano.

— Soube de Medvedchuk. Não posso dizer até que ponto isso é verdade, porque seria errado dizer algo agora — afirmou o secretário de Imprensa do Kremlib, Dmitry Peskov, citado pela RIA Novosti.