A Rússia anunciou, nesta terça-feira, o início de exercícios com armas nucleares táticas perto da Ucrânia, no que disse ser uma resposta às "ameaças do Ocidente" no contexto da guerra travada no Leste Europeu. O exercício vem em um momento em que Kiev pede cada vez mais ajuda dos aliados da Otan, aliança militar liderada pelos EUA, para conter o avanço russo no front.
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O Ministério da Defesa russo anunciou que os exercícios testariam a "prontidão" das suas "armas nucleares não estratégicas" a fim de "garantir a integridade territorial e a soberania do Estado russo" e seriam uma "resposta a declarações provocativas e ameaças de certas autoridades ocidentais".
Os exercícios militares já haviam sido ordenados pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, no começo de maio, mas sem uma data precisa. Na época, o Ministério da Defesa russo disse que a ideia seria praticar o possível uso de armas nucleares no campo de batalha. A pasta também havia anunciado a participação de forças aéreas e navais, bem como tropas próximas da fronteira, incluindo territórios ucranianos ocupados, que Moscou incorporou ao seu território.
O uso de armamentos nucleares — não necessariamente bombas atômicas — são motivo de preocupação desde o início da resistência ucraniana, após a invasão russa em fevereiro de 2022. Ao longo dos mais de dois anos de guerra, houve momentos em que a tensão aumentou. Em junho do ano passado, Putin afirmou que havia enviado armas nucleares táticas à Bielorrússia. Após o primeiro anúncio sobre o treinamento atual, em maio, o presidente do país, Alexander Lukashenko, ordenou a inspeção de lançadores de armas nucleares táticas russas em seu território.
![Silhueta de arma russa, em trecho de vídeo divulgado pela Rússia — Foto: Ministério da Defesa da Rússia/ AFP](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/PXQP1mkg0MWcA1SxcZL_gQDGz_k=/0x0:3000x1688/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/L/0/ny6ABWRbaqB9MRSeYv1A/107011769-this-video-grab-from-a-handout-footage-released-by-the-russian-defence-ministry-on-may-21.jpg)
Agora, o treinamento ocorre em um momento de conquistas para a Rússia no campo de batalha. Autoridades confirmaram que as forças russas avançaram, nesta terça-feira, na parte central de Vovchansk, no nordeste da Ucrânia. O chefe da administração militar de Kharkiv, Roman Semenukha, afirmara um dia antes que as forças ucranianas perderam cerca de 40% da cidade.
Vovchansk, que fica a apenas oito quilômetros da fronteira russa, tem sido o principal alvo da ofensiva de Moscou. Tanto as autoridades dos EUA como o presidente Vladimir Putin disseram que a ofensiva faz parte de um esforço para estabelecer uma zona tampão.
![Na linha de frente da guerra na Ucrânia Na linha de frente da guerra na Ucrânia](https://cdn.statically.io/img/s03.video.glbimg.com/x240/12551122.jpg)
Na linha de frente da guerra na Ucrânia
A intenção, dizem analistas e oficiais militares, é afastar as forças ucranianas da fronteira, para evitar que atinjam cidades russas com artilharia. Nesta terça-feira, ataques aéreos ucranianos mataram uma pessoa na província russa de Belgorod, e outras duas em um território ocupado pelo país, no Leste da Ucrânia.
— As forças do Kremlin tentarão fazer mais avanços nas próximas semanas e tentarão criar uma zona tampão ao longo da fronteira com a Ucrânia — disse o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, na segunda-feira, durante uma reunião com aliados ocidentais de Ucrânia.
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Defesa aérea
Os avanços russos no nordeste ucraniano, e também no sul, forçaram o comando militar em Kiev a mover tropas para reforçar as posições defensivas sob ataque, fragilizando outros pontos da linha de frente — sustentada com tropas cada vez mais exaustas e afetadas pela escassez de equipamentos básicos, como munição. O cenário fez com que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e sua cúpula de governo cobrassem urgência no envio de ajuda ocidental.
Além dos envios, o foco nas últimas conversas tem sido a fortificação das defesas aéreas do país, constantemente sob ataque de drones de fabricação iraniana lançados por Moscou, muito mais baratos do que os projéteis que a Ucrânia utiliza para derrubá-los.
![Os ministros das Relações Exteriores de Alemanha e Ucrânia, Annalena Baerbock e Dmytro Kuleva, em Kiev — Foto: Anatolii Stepanov/ AFP](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/UkYtSyTmiHr887UDoBJhuKPmmP4=/0x0:3959x2681/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/z/m/BfIQJBRJ26eKK9h4KJgg/107011094-ukrainian-foreign-minister-dmytro-kuleba-r-shakes-hands-with-his-german-counterpart-annale.jpg)
Durante uma visita da ministra de Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, a Kiev, o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleba, propôs que os aliados ocidentais derrubassem mísseis russos a partir de seus territórios.
— Não há nenhum argumento legal, de segurança ou moral que impeça os nossos parceiros de abater mísseis russos sobre o território da Ucrânia a partir do seu território — disse Kuleba durante uma coletiva de imprensa ao lado de Annalena.
Kiev já pediu anteriormente que os aliados ajudassem a abater remotamente mísseis russos em território ucraniano, mas os seus aliados responderam que havia risco de escalada do conflito. Kuleba rebateu o argumento nesta terça-feira.
![Avanço russo no front da Ucrânia — Foto: Arte/ O GLOBO](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/qM4sWKS4t2-iagxZxN58IDtJlGQ=/0x0:649x913/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2024/3/r/E6l5hWQ16LR9delySCtg/ofensiva-russa-mapa-2.jpg)
— [Os mísseis são] pedaços de metal que transportam morte, da Rússia para a Ucrânia — disse. — Se você não quiser fazer isso, nos dê os meios necessários. Nós os posicionaremos no território da Ucrânia e interceptaremos nós mesmos esses mísseis.
A ministra alemã, por sua vez, insistiu na necessidade de fornecer rapidamente mais meios de defesa antiaérea a Kiev.
— Cada hesitação e atraso no apoio à Ucrânia custa vidas inocentes. E cada hesitação no apoio à Ucrânia põe igualmente em perigo a nossa própria segurança — afirmou. (Com AFP e NYT)