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Por O Globo com agências internacionais — Paris

Apesar do cortejo fúnebre do presidente Ebrahim Raisi, morto em um acidente aéreo no domingo, ter arrastado dezenas de milhares de iranianos pesarosos nesta terça-feira, muitos desafiaram a ordem e celebraram sua morte nas redes sociais, alguns antes mesmo da confirmação oficial na segunda-feira, com vídeos de fogos de artifício, danças e cantoria. Ao mesmo tempo, ONGs e os opositores iranianos lamentaram que a partida de Raisi o tenha impedido de ser responsabilizado pelos crimes que, afirmam, cometeu durante mais de três décadas.

Nascido em 1960, o presidente iraniano ascendeu rapidamente no organograma da nova potência iraniana após a revolução islâmica de 1979, e foi nomeado procurador-geral de Teerã em 1989. Em 2004 foi promovido a vice-chefe do poder judicial, cargo que ocupou durante um período de dez anos que incluiu as grandes manifestações de 2009 contra a reeleição do Presidente Mahmoud Ahmadinejad, que a oposição alegou ser fraudulenta.

Os defensores dos direitos humanos acusam Raisi de ter supervisionado execuções em massa de prisioneiros já em 1988 — episódio que teria lhe conferido a alcunha de "açougueiro" ou "carniceiro de Teerã", segundo o jornal Eurasia Review.

— Ebrahim Raisi era um símbolo da impunidade judicial dos criminosos e da ausência de responsabilização na República Islâmica — disse à AFP Mahmood-Amiry Moghaddam, diretor da ONG Iran Human Rights (IHR), com sede na Noruega. — Ele deveria ter sido processado por crimes contra a humanidade e respondido, no âmbito de um julgamento justo, pelas inúmeras atrocidades que cometeu ao longo destas quatro décadas.

Crimes contra a humanidade

Outras ONGs, como a Anistia Internacional, há muito acusam Raisi de ter formado um "Comitê da Morte" composto por quatro juízes, que aprovou a execução de milhares de presos políticos em 1988, na sua maioria alegados membros do grupo de oposição de esquerda Mujahedin-e Khalq (MEK), também conhecido como Organização Popular Mujahedin do Irã (PMOI).

Raisi, considerado antes da sua morte como um possível sucessor do guia supremo, o aiatolá Ali Khamenei, negou categoricamente qualquer envolvimento pessoal, mas saudou a decisão de prosseguir com estas execuções. O número exato dos que foram condenados à morte pelos tribunais não é conhecido, mas grupos de direitos humanos afirmaram que cerca de 5 mil homens e mulheres foram executados e enterrados em valas comuns não identificadas.

Em setembro de 2020, um grupo de sete relatores especiais da ONU escreveu ao governo iraniano para pedir-lhe que fosse responsabilizado pelas execuções, considerando que poderiam ser comparadas a “crimes contra a humanidade”. Um ano antes, Raisi foi nomeado chefe do Judiciário e em 2021, eleito presidente.

Em 2022, o seu governo desencadeou uma onda de repressão para impedir os protestos contra a morte na detenção da jovem Mahsa Amini, detida por usar o véu de maneira “inapropriada” e morta durante a custódia policial. Dados da missão de investigação da ONU, citados pela BBC, mostram que cerca de 551 manifestantes foram mortos pelas forças de segurança durante o protesto "Women. Life. Freedom" (Mulheres, vida e liberdade, em tradução livre). Só neste ano, pelo menos 110 pessoas foram executadas, informou a IHR.

Também no início deste ano, uma investigação independente das Nações Unidas indicou que o governo iraniano tinha cometido crimes contra a humanidade pela “repressão violenta” de tais manifestações e pela discriminação contra as mulheres.

Um pilar do sistema

Esta terça-feira deu início ao cortejo fúnebre de Raisi, do ministro das Relações Exteriores iraniano e outros líderes e passageiros mortos no acidente. O rito atraiu dezenas de milhares de pessoas, que seguiram com bandeiras e retratos do líder atrás de um caminhão com os restos mortais dos falecidos. Mas, na visão de Reza Pahlavi, filho do último xá ("rei" em persa) iraniano, deposto pela revolução de 1979, e uma das principais figuras de oposição à República Islâmica, a "simpatia" pelo presidente é "um insulto às suas vítimas e à nação iraniana".

— O único arrependimento é que ele não tenha vivido o suficiente para testemunhar a queda da República Islâmica e que não tenha sido julgado por seus crimes — atestou Pahlavi.

Funeral de presidente do Irã morto após queda de helicóptero começa nesta terça

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O diretor executivo do Centro de Direitos Humanos no Irã, uma organização com sede em Nova York, explicou que Raisi era o "pilar de um sistema que prende, tortura e mata pessoas que ousam criticar as políticas do Estado", acrescentando que "sua morte permitiu que ele escapasse da responsabilização pelos muitos crimes e atrocidades cometidos pelo Estado sob seu poder."

— O que é crucial agora é que a comunidade internacional não permita que a República Islâmica se aproveite deste momento para reprimir e brutalizar ainda mais o povo iraniano — advertiu.

Celebrações nas redes

Apesar da sensação de impotência e impunidade por parte de muitos opositores, alguns iranianos comemoraram a partida precoce e que embaralha a sucessão até então tranquila do líder supremo. Ainda no domingo, quando a notícias da queda da aeronave e da possibilidade de Ebrahim não ter sobrevivido começaram a circular, fogos de artifícios começaram a ser lançados no país. Pessoas na capital de Teerã afirmaram ao jornal britânico The Telegraph que forças de segurança foram destacas em vários bairros, a fim de evitar protestos e celebrações.

— Subi no telhado ontem à noite [domingo] e houve fogos de artifício em várias partes da cidade — contou um morador de Karaj, próximo à Teerã, ao The Telegraph. — Também ouvi pessoas gritando 'morte ao ditador' em algum lugar próximo.

Em alguns registros que circulam pela internet, é possível ver e ouvir fogos de artifício coloridos sendo lançados. Em um deles, citado pelo jornal britânico, é possível ouvir ao fundo uma mulher dizendo: "As pessoas estão se regozijando com a queda de Raisi". Em outro, um homem afirmou que "saúda a morte do presidente e acrescentou: "Espero que o resto deles morra também."

Iranianos mais discretos disseram que celebraram em segredo, e outros ficaram acordados à espera de que "boas notícias viessem das montanhas", em referência à região da queda da aeronave, próxima à fronteira com o Azerbaijão. Um deles contou ao The Telegraph que ficou no telefone "a noite toda" e que "pulou da cama e começou a dançar" quando a morte de Raisi foi confirmada pelo Ministério das Relações Exteriores iraniano.

— Fui a uma loja próxima e foi incrível. O lojista, que conheço, me deu um cigarro de graça e disse: "Vamos torcer por mais acidentes como esse" — contou, enquanto, entre outras celebrações discretas, um outro lojista disse ao jornal que experimentou um aumento na venda de doces na segunda-feira.

'Triste porque regime não mudará'

A morte de Raisi também foi celebrada por mulheres, principais alvos da polícia da moralidade. Em setembro passado, o Parlamento iraniano aprovou um projeto de lei que endurece as penas para quem não usar o véu obrigatório em locais públicos, com sentenças que podem varias entre cinco e dez anos de prisão e multas de até US$ 7,3 mil. O texto foi aprovado quatro dias após o primeiro aniversário da morte de Mahsa Amini.

Frente à confirmação da morte de Raisi, a mãe de um prisioneiro curdo, executado no início do ano, também gravou um vídeo dançando, informou o The Telegraph. Duas mulheres, identificadas pelo Daily Mail como filhas de Minoo Majidi, uma idosa de 62 anos que teria sido morta pelas forças de segurança durante os protestos pela morte de Amini, compartilharam um vídeo levantando uma taça em um brinde silencioso à morte do presidente.

Também há registros, embora os vídeos ainda não tenham sido verificados, de iranianos residentes em outros países celebrando a notícia. Um deles mostra pessoas balançando bandeiras do país persa e dançando em frente à Embaixada do Irã em Londres. Uma jovem de 21 anos, que se identificou apenas como Laila à Reuters, disse que não ficou triste com a morte de Raisi "porque ele ordenou a repressão às mulheres por causa do hijab", o véu islâmico. Mas também descreveu um sentimento conflitante:

— Estou triste porque mesmo com a morte de Raisi este regime não mudará — observou à agência britânica. (Com AFP)

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