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Por , O Globo

Uma densa fumaça colorida tomou conta do porto de Xangai em janeiro deste ano quando a Marinha chinesa apresentou ao mundo o moderno sistema de catapultas eletromagnéticas de seu terceiro navio-aeródromo, enfeitado para a ocasião com uma miríade de fitinhas de variadas cores. Apesar do contraste com a retidão militar, a cerimônia espalhafatosa era justificada: o gigante Fujian, desenhado do zero por Pequim, pode fazer da China o segundo país no mundo a operar um superporta-aviões (com mais de 80 mil toneladas) e a possuir um navio equipado com as tecnologias existentes mais ágeis e mais precisas de lançamento de aeronaves no mar — o que lhe daria uma vantagem significativa em potenciais conflitos armados no Pacífico. Hoje, apenas os Estados Unidos detêm tais capacidades.

A iniciativa chinesa não chamou a atenção apenas de Washington, com quem o gigante asiático vive uma de suas piores fases do ponto de vista diplomático. Países da região do Indo-Pacífico têm investido cada vez mais no fortalecimento de suas marinhas como meio de projeção de poder regional e de dissuasão. Em fevereiro, a Austrália anunciou um plano bilionário de expansão da sua frota, que aumentará de 11 para 26 o número de grandes navios de guerra, alocando mais de US$ 35 bilhões (R$ 178,7 bilhões) nos próximos dez anos. É o maior investimento do país desde a Segunda Guerra Mundial.

Em paralelo, a Índia, uma potência militar em ascensão, que durante décadas defendeu orgulhosamente sua “autonomia estratégica”, tem dado sinais de alinhamento mais estreito com os EUA em questões militares e econômicas, em grande parte devido às preocupações comuns com a China, dizem especialistas. A cooperação é limitada, mas não passou despercebido o envio de uma fragata indiana para o Mar da Arábia, em abril, em uma missão para fornecer apoio direto a uma coalizão marítima liderada por Washington — até então, Nova Délhi só se juntou a missões militares internacionais sob a bandeira das Nações Unidas.

Crescimento ambicioso

Desde o século XV a China não era considerada um poder naval expressivo, lembra Maurício Santoro, professor de Relações Internacionais da Uerj e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil. O ponto de virada foi 2002, quando Pequim adquiriu seu primeiro porta-aviões (navio de guerra que serve de base aérea móvel), um modelo soviético da Guerra Fria vendido anos antes para a Ucrânia. Desde então, o país tem se mostrado “cada vez mais ambicioso” em assuntos de Defesa, dando sinais de que seu perfil defensivo talvez tenha ficado para trás, afirma o especialista.

Marinha dos EUA x Marinha da China — Foto: Editoria de Arte
Marinha dos EUA x Marinha da China — Foto: Editoria de Arte

A mudança mais expressiva aconteceu na última década. Visando aumentar sua presença no Pacífico e desafiar as alianças militares dos EUA com Japão, Coreia do Sul, Austrália, Filipinas e Tailândia, a China substituiu gradativamente sua frota de mais de 2 mil barcos de pequeno porte por um conjunto mais robusto de 426 navios de guerra, cuja capacidade de transporte chega a 2,4 milhões de toneladas em comparação às cerca de 460 mil estimadas em 2010. Em um contexto de crescente tensão geopolítica, a Marinha de guerra chinesa se tornou a maior do mundo e, na opinião de analistas, a segunda mais forte, atrás apenas dos EUA.

Na prática, a capacidade marítima combinada dos americanos ainda é significativamente superior: 4,6 milhões de toneladas, alavancadas por seus 11 porta-aviões, sete dos quais estão alocados na Frota do Pacífico — e que comportam centenas de aeronaves e milhares de militares. Mas a frota marítima chinesa está crescendo rápido: Pequim comissionou o Liaoning, seu primeiro porta-aviões, em 2012; sete anos depois, o Shandong também entrou em operação. E antes mesmo que o Fujian realizasse seus primeiros testes, o governo anunciou, em março, a construção de um quarto navio-aeródromo. Seu objetivo é ter seis até 2035, o que faria da China a segunda maior “marinha de águas azuis” — capaz de operar em águas internacionais — do mundo, depois dos EUA.

Observadores do setor militar e da construção naval também especulam sobre o uso de energia nuclear — atualmente, apenas EUA e França possuem navios-aeródromos com esse tipo de propulsão, enquanto Pequim não tem nem mesmo navios de superfície do tipo.

O próprio Pentágono reconheceu recentemente que é preciso reforçar os investimentos na Marinha americana, sob o risco de os EUA perderem protagonismo nas próximas décadas. Em 2023, um relatório do Departamento de Defesa americano alertou o Congresso que a Marinha chinesa continua “desenvolvendo suas capacidades de implantação em águas azuis, inclusive com formações mais robustas”, mesmo que “ainda não em pé de igualdade” com as forças marítimas dos EUA na região do Indo-Pacífico.

Manobras com a Rússia

O relatório cita incursões chinesas no Pacífico Ocidental, próximo ao Japão, lideradas por navios de assalto anfíbio, e um exercício de porta-aviões na mesma região em setembro. Pequim também teria realizado manobras conjuntas com a Rússia, incluindo uma ao largo do Alasca, Irã e África do Sul, além de visitas portuárias nos Emirados Árabes Unidos e no Paquistão, “e uma rara incursão à costa atlântica da África”, na Nigéria.

As tensões têm sido especialmente evidentes no Mar do Sul da China, que Pequim reivindica quase em sua totalidade, e em Taiwan, a ilha autônoma que a China considera parte de seu território.

— As ambições marítimas da China são principalmente em torno do que os chineses chamam de “primeira cadeia de ilhas”, que inclui Taiwan, os arquipélagos do Mar do Sul da China e as Filipinas — explica Santoro. — Embora a China tenha um litoral muito grande, é relativamente fácil bloquear seu acesso ao Oceano Pacífico e, num contexto de guerra, essas ilhas poderiam ser usadas para bombardear o território chinês, por isso há hoje essa grande preocupação militar em termos navais.

Ronaldo Carmona, professor de geopolítica da Escola Superior de Guerra, fala em “uma ressignificação do poder naval no mundo”, capitaneada pela região do Indo-Pacífico “como um dos pontos centrais de tensão geoestratégica, sobretudo num quadro em que a polarização sino-americana se torna o centro de gravidade do grande confronto pelo poder mundial”.

— Isso se dá pela importância das linhas de navegação, por onde é transportada grande parte do comércio mundial, inclusive do petróleo que sustenta a pujança da economia chinesa, e pelas inovações tecnológicas [como drones] que tornam as embarcações cada vez mais vulneráveis, mesmo os gigantes porta-aviões nucleares. Embarcações autônomas, conduzidas por IA ou híbridas, mostram grande capacidade de causar danos a uma esquadra adversária — diz.

Santoro pontua ainda que um conflito de grandes proporções no Pacífico hoje é uma incógnita:

— Desde 1945, as guerras foram majoritariamente terrestres, então ninguém sabe que impactos teriam as novas tecnologias em uma potencial guerra naval.

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