Lira ignora acordo e indica que PL não deve comandar a CCJ da Câmara no ano que vem

Deputado indicou que não entregará Comissão de Constituição e Justiça à sigla de Bolsonaro, que poderia usá-la para cacifar nome à presidência da Câmara

Por — Brasília


Arthur Lira, presidente da Câmara Divulgação / Mariana Ramos / Câmara dos Deputados

Rompendo um acordo firmado no início deste ano, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), indicou a interlocutores que o PL, de Jair Bolsonaro, não vai comandar a Comissão de Constituição e Justiça em 2024. Aliado do ex-presidente até o final de 2022, Lira aderiu à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e hoje mantém indicados em postos importantes do governo federal, como a cúpula da Caixa.

Por ter a maior bancada, o PL tinha direito à primeira escolha na divisão das comissões da Casa em 2023, mas abriu mão da CCJ, a mais importante, para ficar com a relatoria do Orçamento. O combinado era que o PT presidiria o colegiado em 2023 e um bolsonarista assumirá no ano seguinte. Na ocasião, o PL também ficou com a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle.

Lira acena com a possibilidade de quebrar este pacto como forma de fortalecer um nome que poderia ser lançado à presidência da Câmara em 2025. Aos parlamentares que lhe perguntaram sobre a ruptura, ele argumentou que “o acordo foi de boca” e, por isto, não teria validade. O nome mais próximo a Lira que tenta se cacifar para sua sucessão é o do líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA). O líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), contudo, disse confiar na palavra de Lira.

— O PL tem o direito à escolha, é a maior bancada e acredito que isto é regimental. O presidente Lira não endossaria um absurdo desses — disse ao GLOBO.

O PL já tem, inclusive, planos para o comando da CCJ no ano que vem: a tarefa deve caber à deputada Caroline De Toni (SC). A escolha por ela se deve ao fato de Alexandre Ramagem, antes favorito, ter sido escolhido para disputar a prefeitura do Rio.

Caroline de Toni — Foto: Jorgem William/Agência O Globo

Nos cálculos do PL para assumir a CCJ no ano que vem, entra outro fator: caciques do partido acreditam que a comissão pode servir de vitrine para candidatos bolsonaristas divulgarem os seus projetos e, com isto, catapultarem as suas candidaturas. O partido trabalha para se tornar a sigla com o maior número de prefeituras no Brasil. O objetivo é triplicar o número, saltando das atuais 343 para pelo menos mil. O próprio Bolsonaro deve se engajar nas campanhas e pedir votos para alguns dos candidatos, durante viagens pelo Brasil.

Quem é Carol de Toni?

De Toni se apresenta como defensora de primeira hora dos valores bolsonaristas e coleciona polêmicas: além de já ter posado com um fuzil nas redes sociais, ela esteve entre os onze parlamentares que tiveram os seus sigilos bancários quebrados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2020, como parte do inquérito que apurava a organização e o financiamento de atos antidemocráticos. Na ocasião, ela afirmou que não havia justificativa para a medida.

Em 2020, durante a pandemia da Covid-19, a deputada precisou ressarcir a Câmara em relação ao valor gasto em passagens para São Paulo, onde participou de passeatas com outros entusiastas do bolsonarismo.

No mesmo ano, ela apresentou um projeto de lei para extinguir a reserva mínima de 30% para candidaturas de mulheres nas disputas por mandatos proporcionais. Neste ano, a deputada chegou a afirmar que, caso o marco temporal para demarcação das terras indígenas fosse aprovado no Congresso, isto poderia acarretar "um banho de sangue" no campo. Por esta frase, o deputado Túlio Gadelha (Rede-PE) acionou a Procuradoria Geral da República (PGR) pedindo investigação. Procurada para comentar os casos citados, a deputada não respondeu.

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