Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão de combate à lavagem de dinheiro, apontou que uma conta bancária do ex-presidente Jair Bolsonaro recebeu R$ 17,2 milhões por meio de transações de Pix. As operações foram realizadas entre 1 de janeiro a 4 de julho deste ano.
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O documento do Coaf, ao qual O GLOBO teve acesso, diz que os valores são "atípicos" e se referem "provavelmente" à campanha de arrecadação feita por Bolsonaro para pagar as multas que recebeu durante o seu governo, como a de circular na rua sem máscaras durante a pandemia de Covid-19.
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No início do ano, a chave Pix de Bolsonaro foi divulgada nas redes sociais de ex-ministros do seu governo e parlamentares do PL para impulsionar a campanha de arrecadação. A Justiça de São Paulo determinou o bloqueio de R$ 87.000 nas contas do ex-mandatário pelo não pagamento de multas aplicadas durante pandemia. As autuações se referem a três visitas que ele fez ao Estado em 2021.
O órgão de inteligência financeira rastreou, ao todo, 769.717 operações de Pix efetuadas em seis meses. A assessoria de comunicação e a defesa de Bolsonaro foram procuradas, mas não se manifestaram.
Entre os principais doadores, figuram na lista uma empresária do agronegócio, com R$ 20 mil; um dono de uma companhia da construção civil, com R$ 10 mil; e um escritor, com R$ 10 mil; entre outros.
Repasses para Wal do Açaí, Michelle e irmão
Segundo relatório do Coaf, o ex-presidente também fez um repasse de R$ 3.600 neste ano para Walderice Santos da Conceição, a Wal do Açaí, apontada pelo Ministério Público Federal (MPF) como funcionária fantasma no período em que Bolsonaro foi deputado federal. Os dois negam a acusação.
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No campo dos destinatários de recursos, também há dez lançamentos, totalizando R$ 56.073, para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Houve ainda 17 transferências, em um total de R$ 14.268 para uma lotérica, aberta em 2000, cujos sócios são um irmão e um sobrinho de Bolsonaro.
Ex-ministro e atual advogado de Bolsonaro, Fabio Wajngarten, reclamou dos "vazamentos" nas redes sociais.
"São inadmissíveis os vazamentos de quebras de sigilos financeiros de investigados no inquérito de 8/1 e ou de qualquer outra investigação sigilosa. Faz-se necessário identificar quem está entrando na tal sala cofre para que as medidas judiciais sejam tomadas. Quem vazou será criminalizado".
Em nota, a defesa de Bolsonaro afirmou que os valores depositados têm origem “lícita” e criticou o que chamou de “inaceitável e criminosa violação de sigilo bancário”.
“A ampla publicização nos veículos de imprensa de tais informações consiste em insólita, inaceitável e criminosa violação de sigilo bancário, espécie, da qual é gênero, o direito à intimidade, protegido pela Constituição Federal no capítulo das garantias individuais do cidadão. Para que não se levantem suspeitas levianas e infundadas sobre a origem dos valores divulgados, a defesa informa que estes são provenientes de milhares de doações efetuadas via Pix por seus apoiadores, tendo, portanto, origem absolutamente lícita”, diz o texto, assinado pelos advogados Paulo da Cunha Bueno, Daniel Tesser e Fábio Wajngarten.
A defesa diz ainda que “tomará as providências criminais cabíveis para apuração da autoria da divulgação de tais informações”.