Nove meses após a sua coroação, o rei Charles III foi diagnosticado com câncer, informou nesta segunda-feira o Palácio de Buckingham. No comunicado, o palácio afirma que uma "questão distinta de preocupação foi observada" após a recente cirurgia na próstata, e que "uma forma de câncer" foi revelada, mas sem especificar qual e sem dar detalhes sobre o estágio da condição. O anúncio se soma a um começo de ano especialmente difícil para a família real britânica, após a cirurgia de da princesa de Gales, Kate Middleton, que ficará em repouso pelo menos até a Semana Santa.
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Segundo o comunicado, o monarca já deu início a um cronograma de tratamento contra a doença, e, por isso, adiou compromissos reais em eventos públicos. Continuará, no entanto, com "os negócios do Estado e documentação oficial".
"O rei agradece à sua equipe médica pela rápida intervenção, que foi possível graças ao seu recente procedimento hospitalar. Ele permanece totalmente positivo em relação ao seu tratamento e espera retornar ao serviço público o mais rápido possível", afirma a nota.
Nascido em novembro, Charles III celebra primeiro aniversário como rei
Charles III, que sucedeu a mãe, Elizabeth II, há 17 meses e foi coroado em 6 de maio, havia anunciado em 17 de janeiro que se submeteria a uma intervenção cirúrgica devido a uma hipertrofia da próstata. Dias depois, o monarca, de 75 anos, deu entrada em um hospital de luxo de Londres, no Reino Unido, para fazer uma cirurgia por um quadro benigno de próstata aumentada — comum entre homens a partir dos 60 anos.
Apesar disso, uma fonte próxima à Buckingham, citada pela agência Reuters, afirmou que não se trata de câncer de próstata, como se especulava quando a notícia foi divulgada.
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Antes de ser internado, Charles visitou a nora na mesma unidade, onde a princesa de Gales passou por uma cirurgia no abdômen — a razão para o procedimento não foi divulgada, embora Buckingham tenha negado que seja câncer. Os dois receberam tratamento na London Clinic, o maior hospital de Londres, que já atendeu no passado a atriz Elizabeth Taylor e o presidente americano John F. Kennedy, por exemplo.
A princesa não é vista desde o Natal. Seu marido, o príncipe William, de 41 anos, herdeiro do trono, suspendeu suas atividades após a internação da mulher, em 16 de janeiro. William havia acabado de anunciar a retomada das mesmas quando foi divulgada a notícia do câncer do rei.
Os problemas de saúde sucessivos reduziram quase pela metade o círculo de membros ativos da família real britânica e deixaram a rainha Camilla, de 76 anos, na linha de frente, com diversos compromissos semanais.
Segundo o comunicado de Buckingham, Charles III decidiu compartilhar o diagnóstico "para evitar especulações" e para ajudar na "compreensão pública" das pessoas diagnosticadas com câncer em todo o mundo.
A transparência sobre a condição médica representa uma clara ruptura da monarquia britânica com o passado. A causa anunciada da morte da rainha Elizabeth II em setembro de 2022, aos 96 anos, foi a velhice — embora um biógrafo real tenha alegado que ela tinha câncer na medula óssea, uma informação que nunca foi confirmada oficialmente.
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Já o pai de Elizabeth II e avô de Charles III, o rei George VI, um fumante inveterado, teve um pulmão removido em setembro de 1951, sem que o fato fosse tornado público. Ele nunca se recuperou, morrendo em fevereiro de 1952. Depois, descobriu-se que ele tinha câncer de pulmão.
O diagnóstico ocorre poucos dias após a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertar que o número de novos casos de câncer detectados anualmente aumentará para quase 35 milhões até 2050, uma alta de 77% em relação aos 20 milhões identificados em 2022.
Visita de Harry
De acordo com o jornal britânico The Guardian, o monarca teria informado os seus filhos, príncipe William e príncipe Harry, sobre o diagnóstico, bem como seus três irmãos, Anne, a princesa real; Edward, duque de Edimburgo; e Andrew, duque de York.
Harry, duque de Sussex, viajará para o Reino Unido para vê-lo em breve, informou uma fonte próxima ao príncipe à agência de notícias britânica PA Media. Harry, que tem uma relação turbulenta com o restante da família real britânica, mora na Califórnia com sua família, a duquesa de Sussex Meghan Markle e seus dois filhos, Archie e Lilibet, desde que abdicou de suas funções reais em 2020.
Apoio ao rei
Logo após a notícia ser divulgada, autoridades do Reino Unido e outros países publicaram mensagens de apoio ao monarca. O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, foi um dos primeiros a se manifestar, desejando ao rei uma "recuperação completa e rápida". "Sem dúvida, o rei voltará com força total em pouco tempo", escreveu no X (antigo Twitter).
O líder trabalhista da oposição britânica, Keir Starmer, também enviou uma mensagem a Charles III na rede social, desejando ao monarca uma "melhora completa". Outros políticos britânicos que se manifestaram foram os premiers da Escócia, Humza Yousaf; da Irlanda do Norte, Michelle O'Neill; e Mark Drakeford, do País de Gales.
Por sua vez, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse estar "preocupado" com o diagnóstico do rei, e afirmou a repórteres que "espera conversar com ele em breve".
Já o ex-presidente Donald Trump — que, assim como Biden, também está em ritmo de campanha para a nomeação para as eleições de novembro —, afirmou em sua rede social, Truth Social, que Charles "é um homem maravilhoso", e disse que "todos rezam para que ele tenha uma recuperação rápida e completa".
Abdicação?
Logo após a morte de Elizabeth II, Charles, enfim, ascendeu ao trono, encerrando uma espera de décadas — um recorde diante do longevo reinado de Elizabeth, que durou 70 anos e sete meses.
A coroação veio alguns meses depois, em 6 de maio, na Abadia de Westminster. Lá, a extravagante cerimônia coroou Charles e Camilla, sua rainha consorte, diante de milhares de convidados, refletindo o respeito por uma longa tradição, mas também o desejo de desenvolver uma monarquia que muitos britânicos consideram ultrapassada. Seu reinado muitas vezes é visto como uma transição para o seu filho William, o primeiro na linha de sucessão.
O anúncio da doença, portanto, pode trazer de volta à tona rumores de uma futura abdicação. Em meados de janeiro a rainha Margrethe II da Dinamarca, entregou a coroa ao seu filho Frederick.
Soma-se ao fato que William, de 41 anos, é muito mais popular que o próprio rei (e o mais popular entre os membros da família real britânica), com 68% de aprovação, de acordo com uma pesquisa recente do YouGov. William está à frente de sua tia, a princesa Anne, com 67%, e de sua esposa Kate, com 63%. O rei, por sua vez, aparece apenas na sexta posição, com 51%.