Mundo
PUBLICIDADE

Por Vivian Oswald, especial para O Globo — Londres

Há exatos 73 anos, nove meses e 25 dias, Charles Philip Arthur George preparava-se para o cargo que assumiu nesta quinta-feira: rei Charles III. Foi uma espera recorde de 647,1 mil horas ou 38,8 milhões de minutos desde seu nascimento. Aos 4 anos incompletos, ele foi a primeira criança na linha de sucessão ao trono britânico a testemunhar presencialmente a cerimônia de coroação de seu genitor, a filha primogênita do rei George VI, Elizabeth II, que morreu nesta quinta-feira aos 96 anos em Balmoral, na Escócia.

"A morte de minha querida mãe, a rainha, é um momento de muita tristeza para mim e para todos os membros da minha família", disse Charles, em seu primeiro comunicado como rei. "Nós estamos de luto profundo pela morte de uma soberana querida e uma mãe muito amada. Eu sei que sua morte será sentida profundamente pelo país, pela Comunidade Britânica e por incontáveis pessoas pelo mundo. Durante este período de luto e mudança, minha família e eu seremos confortados e sustentados pelo nosso conhecimento do respeito e do carinho tão profundamente cultivados pela rainha."

A coroação de Charles III ainda levará algumas semanas, na melhor das hipóteses — tempo necessário para que os preparativos sejam postos em prática e para que a ferida da morte da rainha Elizabeth II esteja menos exposta. Sua ascensão foi imediata, mas haverá uma proclamação formal nas próximas horas, no Palácio de Saint James, em Londres. Sua mulher, Camilla, também já é a rainha consorte.

Há sete décadas, quando as imagens chegaram ao público de forma inédita pela televisão, tecnologia então nascente, as 27 milhões de famílias conectadas ao aparelho mundo afora puderam ver o ar entediado do menino. Paciência é o que descreve a trajetória do primogênito da rainha Elizabeth II, que somente nos últimos meses, avô de cinco netos, ampliava suas funç��es constitucionais num processo de transição que, segundo especialistas, ele próprio vinha conduzindo.

Charles abre nesta quinta um novo capítulo na História deste reino que se prepara para uma nova geração dos Windsor, em pleno século XXI, quando a própria ideia de soberanos hereditários parece cada vez mais anacrônica. Ele tem o imenso desafio de ocupar o lugar de uma rainha que por sete décadas foi símbolo da estabilidade e unidade do país, em momentos de glória e crises. Pesquisa do YouGov do segundo trimestre deste ano mostra que, enquanto 75% dos britânicos tinha uma opinião positiva de Elizabeth II, o índice para Charles é de 42%. Seu filho William, primeiro na linha de sucessão, tem 66%.

— Será difícil preparar os súditos para seu reinado iminente. Sem a popularidade da mãe ou do filho mais velho, Charles vai enfatizar a marca da família real para garantir que William e sua mulher, Kate Middleton, possam brilhar e ganhar mais responsabilidades, o que já começou a acontecer — disse em maio ao GLOBO Pauline Maclaran, professora de pesquisas sobre marketing e consumo na Royal Holloway, da Universidade de Londres, e coautora do livro “Royal fever: the British monarchy in consumer culture” (Febre real: a monarquia britânica na cultura do consumo).

Segundo MacLaran, Charles se apresentará como guardião do posto, vinculando-se cada vez mais à grande popularidade do filho.

— Em outras palavras, a monarquia do futuro deve ser um trabalho de equipe —diz ela.

Possível regência

O trabalho deve começar já de imediato: Charles, já rei, deve voltar para Londres na manhã de sexta-feira e se reunir com a primeira-ministra, Liz Truss, para uma audiência, antes

Charles vinha atuando como representante da mãe desde ao menos maio, quando leu a tradicional Fala do Trono na sessão de abertura do Parlamento. Até aquele momento, este teria sido o episódio mais importante da sua vida, segundo a mídia especializada. Estava acompanhado do filho. A lei precisou ser mudada para que isso acontecesse. Ambos os herdeiros permaneceram no salão diante da suntuosa coroa de Elizabeth II, sinal da presença da monarca.

O historiador da realeza Ed Owens, destaca que, nos últimos anos, o Palácio de Buckingham deixava a cargo de William e Harry a responsabilidade de construir a nova imagem da monarquia. Ao perceber que eram o futuro, a rainha Elizabeth II lhes deu o palco para atuarem. Essa foi a estratégia para levar a instituição adiante de 2010 a 2020, quando o príncipe Harry deixou a corte.

— Os irmãos também foram cruciais para reabilitar a imagem de Charles — explica ele.

Negócios com orgânicos

Charles, que nunca disfarçou a vontade de interferir em certos temas da vida pública britânica, terá de se contentar com o silêncio, ainda que se trate de assunto que o apaixone. Nos últimos anos, manifestou-se em questões ambientais, defendeu medicamentos homeopáticos no sistema de saúde público e melhores equipamentos para os soldados britânicos no Iraque. Também advoga ardorosamente determinados estilos arquitetônicos que, segundo ele, deveriam inspirar as novas construções residenciais. Em 2015, depois anos brigando na justiça, o jornal The Guardian, ganhou o direito de revelar o conteúdo de 27 cartas de próprio punho que o então príncipe endereçou a integrantes do governo para, suspeita-se, interferir em suas decisões. O caso ficou conhecido como os “arquivos aranha negra”, apelido que ganharam as missivas por causa da caligrafia peculiar do novo rei.

A vida amorosa do novo rei também se manteve sob os holofotes, do conto de fadas com a carismática Diana, mãe de seus dois filhos, ao escândalo com Camilla Parker-Bowles. A morte de Diana em um acidente de carro em Paris em 1997 criou grande comoção e está por trás de boa parte da antipatia por Charles. Camilla, a ex-namorada de juventude, com quem admitiu, em 1994, ter um caso extraconjugal, tornou-se sua mulher em 2015.

Enquanto esperava, Charles se dedicou, entre outros projetos, a negócios com produtos orgânicos. Em 2021, contudo, entregou a fazenda em que produzia desde 1985 à marca Duchy Organic, que ele próprio havia fundado. Um novo contrato de exploração o prenderia por mais 20 anos à empreitada, o que julgou complicado diante da iminente tarefa de ocupar o trono. A paixão pelos orgânicos, contudo, segue no Palácio de Sandringham, onde assumiu a produção do pai, o duque de Edimburgo, morto em 2021 aos 99 anos.

Maldição dos Charles

Para especialistas, os súditos aprenderão a gostar do novo rei e suas excentricidades — como cadarços de sapato passados a ferro ou a caixa de café da manhã que carrega em todas as suas viagens com itens orgânicos, incluindo seis tipos de mel. Também terão de acostumar-se a chamá-lo de Charles III, nome que foi confirmado pela primeira-ministra Liz Truss. Há quem diga que teria antes cogitado usar George VII, dadas as biografias dos outros dois reis Carlos.

O primeiro, coroado em 1625, dissolveu o Parlamento três vezes, reinando pelo período que ficou conhecido como “11 anos de tirania”. Após duas guerras civis, foi julgado, condenado como “tirano, traidor e inimigo público da nação” e decapitado. Seu filho, Carlos II, foi mais popular, mas teria tido ao menos 14 filhos ilegítimos.

Charles tentará renovar a imagem da monarquia, e já avisou que a corte será mais enxuta sob sua gestão. A pauta da mudança do clima, outra de suas favoritas, também deve ajudá-lo a se colocar como um monarca atrelado a um propósito nobre para a Humanidade. Para o ator Josh O'Connor, que o interpretou na série “The Crown”, do Netflix, Charles vive uma situação bizarra: “Ele não quer necessariamente o poder, mas até ela [a rainha] morrer, que diabos ele faz? O que é a sua existência? Não tem um propósito”, disse à revista Esquire UK em 2020. Agora, contudo, chegou a hora de provar seu propósito.

Mais recente Próxima
Mais do Globo

O caso é investigado pelo 41º Distrito Policial (Vila Rica). A polícia afirmou que um novo boletim de ocorrência foi realizado em razão de ameaças em ato na porta da escola

Mãe grava áudio e denuncia escola por maus-tratos contra filho autista em São Paulo; instituição se pronuncia

Xristina, 31, disse que a pessoa que tentou roubá-la alegou ser um menino de 12 anos, embora parecesse mais velho; ele teria chorado e dito que foi forçado a cometer o crime

Vídeo: Mulher impede roubo de moto após render ladrão com movimentos de taekwondo na Inglaterra; assista

Filme de Audrey Diwan é estrelado por Noémie Merlant e Naomi Watts

Refilmagem de 'Emmanuelle', de diretora vencedora do Leão de Ouro, ganha trailer; assista ao vídeo

Camisa alternativa do clube francês também é uma homenagem aos uniformes usados em 1990/91 e 1991/92

Paris Saint-Germain lança camisa inspirada em Torre Eiffel; veja fotos

Dançarina chama atenção de seguidores depois de expor imagem rara com a adolescente Brenda, fruto de seu antigo casamento com o nadador Xuxa

Sheila Mello reage a comentários de seguidores após surpreender web com foto da filha: 'Parece, né?'

Com imagem associada à perfeição ao longo da carreira, português já mostrou lado que vai além de atleta

Do choro na Euro à ajuda a fã: cinco vezes em que o robô Cristiano Ronaldo foi humano

A rede de hotéis Nacional Inn acaba de adquirir a propriedade

De Mick Jagger a Fidel Castro: quem já se hospedou no Hotel Jaraguá, que tem novo dono