As montadoras japonesas Honda e a Nissan anunciaram nesta sexta-feira uma aliança para desenvolver tecnologias para carros elétricos, numa tentativa de fazer frente à rápida ascensão da China na corrida pela transição energética.
"As duas empresas chegaram a um entendimento baseado na convicção de que é necessário combinar os seus pontos fortes e explorar a possibilidade de colaborações futuras", acrescentaram.
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A parceria vai envolver o desenvolvimento de baterias, softwares e outras tecnologias para carros elétricos.
- Novos players estão surgindo no mercado e percebemos que as empresas que não conseguem lidar com eles não sobreviverão - afirmou o presidente da Honda, Toshihiro Mibe, em uma coletiva de imprensa, acrescentando que as montadoras poderão decidir no futuro sobre uma joint venture e, ainda, a respeito de em quais regiões do mundo farão essa colaboração.
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Está descartada, porém, afirmaram as companhias, uma fusão. Mibe citou que as diferentes culturas corporativas da Nissan e da Honda como um desafio a ser superado na nova aliança estratégica.
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A Honda, segunda maior montadora do Japão, tem como objetivo vender apenas carros eletrificados até 2040 e alcançar neutralidade de carbono até 2050. A Nissan também estabeleceu como objetivo se tornar neutra em carbono ao longo do ciclo de vida de seus produtos até o ano fiscal de 2050.
"Para acelerar ainda mais os esforços rumo à neutralidade de carbono e zero vítimas de trânsito, será essencial fortalecer as tecnologias ambientais e de eletrificação, assim como o desenvolvimento de software", afirmaram em um comunicado conjunto.
Os analistas consideram que esta medida procura diminuir a diferença com os seus concorrentes chineses no mercado de veículos elétricos, onde os fabricantes japoneses estão atrasados após anos de aposta em veículos híbridos.
- É importante que estejamos preparados para o ritmo crescente de transformação da mobilidade a médio e longo prazo, e que tenhamos chegado a este acordo com base no entendimento mútuo de que a Honda e a Nissan enfrentam desafios comuns - afirmou o CEO da Nissan, Makoto Uchida, acrescentando:
- Não podemos vencer essa corrida mantendo uma abordagem tradicional.
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Para o CEO da Honda, esta "é uma transformação na indústria automotiva que ocorre uma vez a cada século":
- O critério do nosso estudo será verificar se a sinergia de tecnologias e conhecimentos que as nossas empresas cultivaram nos conduzirão a líderes do setor.
Impulso chinês
No Japão, os veículos híbridos, com bateria e combustão interna, são extremamente populares, o que levou os fabricantes a dar menos atenção aos veículos totalmente elétricos. Em 2022, 40% das vendas de veículos no Japão foram de híbridos, em comparação com apenas 1,7% de elétricos.
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Isso está muito longe da Europa Ocidental (15%), dos Estados Unidos (5,3%) e, especialmente, da China (20%), que ultrapassou o Japão como o maior exportador de automóveis do mundo.
Tanto a Nissan quanto a Honda estão planejando reduzir suas capacidades de produção na China em face da queda nas vendas, de acordo com o diário de negócios chinês Nikkei. Até mesmo seu próprio território, o Japão, foi abalado pela chegada da Tesla, montadora sediada nos EUA de propriedade do bilionário Elon Musk; da chinesa BYD; e pelo retorno da Hyundai, da Coreia do Sul.
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Uma aproximação entre a Nissan e a Honda "será benéfica para ambas" para reduzir seus custos no setor elétrico, um segmento "onde é preciso estar presente", mas "ainda cheio de incertezas", disse Tatsuo Yoshida, analista da Bloomberg.
Nenhuma das duas montadoras "tem o tamanho crítico" para gerar margens significativas, portanto "estão sob pressão" para criar parcerias, insistiu Chris Redl, analista do setor automotivo do Japão.
- Embora historicamente eles tenham sido rivais muito ferozes, faz mais sentido para a Nissan se unir a uma empresa japonesa como a Honda, em vez de ter essas guerras culturais com um parceiro como a Renault, da França - acrescentou.
A Nissan e a Renault formaram uma grande aliança, mas as duas empresas "reequilibraram" seus laços após anos de tensões, incluindo a prisã, no Japão, do então CEO da Nissan, Carlos Ghosn, em 2018.