O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se reunir amanhã com a equipe econômica para tratar da agenda fiscal em meio à disparada do dólar. Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já estava combinada a discussão do tema quando o presidente retornasse de viagens pelo Brasil.
--- A nossa agenda com o presidente (nesta quarta) é exclusivamente fiscal, para apresentar propostas para cumprimento do arcabouço de 2024, 2025 e 2026 --- adiantou Haddad a jornalistas nesta terça-feira.
A questão fiscal é um dos fatores de incerteza entre investidores que resultam na alta do dólar. Outros fatores têm pesado, além dos sinais do presidente de que não está disposto a fazer cortes significativos no Orçamento e suas declarações contra o Banco Central. O dólar está em alta no mundo todo refletindo os juros nos EUA e tensões eleitorais na maior economia do mundo.
Além de Haddad, a reunião com Lula deve ter também a participação da ministra do Planejamento, Simone Tebet, da ministra da Gestão, Esther Dweck, e do ministro da Casa Civil, Rui Costa. Ainda não há horários definidos, mas, além da reunião, há a expectativa de mais de uma agenda nesta quarta entre Lula e Haddad.
Em uma semana de muita tensão no mercado financeiro, a cotação do dólar subiu quase 30 centavos. Nesta terça-feira, chegou a bater R$ 5,70, mas fechou em R$ 5,66. No início de junho, estava em R$ 5,25. O rápido enfraquecimento da moeda brasileira ocorre na esteira de uma série de entrevistas de Lula, questionando a necessidade de uma contenção de gastos públicos e a autonomia do BC.
Nesta terça, o petista afirmou que a subida do dólar o preocupa e que a alta constante da moeda faz parte de um jogo "especulativo" e de "interesses" contra o real.
— Obviamente que me preocupa essa subida do dólar, é uma especulação, é um jogo de interesses especulativo contra o real nesse país. E eu tenho conversado com as pessoas sobre o que a gente vai fazer. Estou voltando (para Brasília) e quarta-feira terei uma reunião, porque não é normal o que está acontecendo, não é normal — disse o presidente em entrevista à rádio Solidariedade, de Salvador (BA).
A preocupação do mercado financeiro é sobre a sustentabilidade do novo arcabouço fiscal, proposto pelo governo Lula em 2023, diante de um aumento expressivo de algumas despesas públicas, como a da Previdência Social. Dentro do Orçamento, há alguns gastos que crescem continuamente acima da regra de atualização anual do limite do arcabouço, o que comprime, ao longo do tempo, outras despesas.
Há algumas semanas, Haddad e Tebet disseram que iriam acelerar a agenda de contenção de gastos, após uma Medida Provisória (MP) que aumentava a arrecadação ter sido devolvida pelo Congresso. A equipe econômica não abre, contudo, as opções na mesa, embora diga que o “cardápio vai de A a Z”. Na ala política, a ideia é começar com um pente-fino em benefícios previdenciários e assistenciais, para combater fraudes e recebimentos indevidos. Mas Fazenda e Planejamento entendem que é necessário ir além.
O presidente já descartou, contudo, a desvinculação dos benefícios previdenciários e do Benefício de Prestação Continuada (BPC) do salário mínimo. Lula também já indicou que não deve mexer com os gastos com os militares no curto prazo.