Pabllo Vittar joga luz sobre a música que ama — e que parte do Brasil preferiu ignorar

Em seu novo álbum, ‘Batidão Tropical Vol. 2’, cantora revive forrós eletrônicos e tecnobregas de um país que não tem vergonha de ser tropical e pop — e nem de fazer versões em português de Roxette

Por — Rio de Janeiro


A cantora Pabllo Vittar Divulgação/Gabriel Renné

Discos de releituras da música brasileira são feitos a todo momento, mas nenhum com o poder e a sutil originalidade de “Batidão Tropical Vol. 2”, o álbum que a cantora Pabllo Vittar lançou na noite de terça-feira, para um público que aguardava ansiosamente pela sequência do baile.

Bem mais incisivo do que o Vol. 1 (2021), o seu projeto da pandemia, esse segundo “Batidão” chega para confundir, mas também para explicar um pouco de onde veio essa artista que há sete anos vem virando o pop brasileiro do avesso.

A cara é de velha coletânea de hits, e nisso o disco não engana: com o auxílio de seu trio de produtores Gorky, Maffalda e Zebu, Pabllo se faz de curadora de uma música que parte do Brasil curtiu de montão e outra preferiu ignorar – e que é tão parte do seu DNA quanto Beyoncés e Gagas.

De um passado que começa lá nos anos 1990, a cantora desencavou forró eletrônico, tecnobrega e toda a música de um Norte/Nordeste que sonhou ser tropical, agreste e pop, com cores e amores fortes, numa mesma sala de reboco com luzes estroboscópicas.

Num disco em que as faixas ainda a serem liberadas são substituídas por divertidas vinhetas, a cantora dá nova chance a um repertório nem tão velho assim — as canções são revividas em versões bombadas, de sonoridade internacional, com sua voz e sua graça e, quando possível ainda, com feats dos próprios artistas que lançaram as composições, só para se fazer justiça à história.

Capa do álbum "Batidão Tropical Vol. 2", de Pabllo Vittar — Foto: Reprodução

“Pra te esquecer”, da Banda Calypso, está lá no “Batidão” com uma Pabllo mais Joelma que Joelma, e com sopros e guitarra ainda mais “Livin’ la vida loca” do que a gravação original seria capaz de ter. Antes de seguir com as homenagens, rola uma música nova, “Idiota”, cuja grande surpresa é a canetada da musa indie Alice Caymmi, quebrando barreiras ao se adequar perfeitamente na letra ao universo abarcado pelo disco (“de zero a cem / eu tô de parabéns / a minha nota é dó”).

Antecipada como single, “Pede pra eu ficar” é outra síntese da filosofia tropicaliente do disco: uma versão de “Listen to your heart”, velho hit do grupo sueco Roxette, segundo a visão sofrente de Pabllo. Mais adiante, Roxette volta e da maneira mais absurda na releitura de “Não Vou te Deixar”, uma pérola tecnobrega de Gaby Amarantos, que nada mais é que uma versão de “I don’t want to get hurt”, baladão dos suecos. Gaby está lá, por sinal, junto com a dona do disco, para avalizar o resgate.

Patrimônio do tecnobrega baiano, a Banda Djavú aparece no “Batidão Tropical Vol. 2” com duas músicas: “Não desligue o telefone”, recriada como trance com Madeirito (da Gang do Eletro, de Belém) e o reggaeton “Rubi”, que foi lançada pela banda Ravelly em 2009 mas se popularizou com o DjaVú. “Me Usa”, sucesso da banda Magníficos, segue deliciosa com Pabllo, mantendo sua junção de forró pé de serra e forró eletrônico. E “Nas ondas do rádio”, da Companhia do Calypso, ficou mais tecnopop no disco.

Da leva mais recente de canções revisitadas, “Falta coragem” tem seus vocais divididos com a cantora original, Taty Girl, e “Ai ai ai mega príncipe”, de Manu Bahtidão, traz para o disco uma letra mais esperta, dos novos tempos. Leal aos originais, Pabllo foi muito feliz na criação – e na sustentação – de uma improvável e mui personal coletânea, com potência sonora para levar longe uma música que ainda tem muita lenha pra queimar.

Cotação: Ótimo

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