Editorial
PUBLICIDADE
Editorial

A opinião do GLOBO

Informações da coluna

Editorial

A opinião do GLOBO.

Por

Apenas daqui a uma semana ficará claro o tamanho do avanço do Reunião Nacional (RN), de extrema direita, nas eleições legislativas francesas. Mas desde já é possível afirmar que não será pequeno. Na França, a disputa pelas 577 cadeiras da Assembleia Nacional ocorre em dois turnos. No domingo, 37 candidatos do RN obtiveram mais de 50% dos votos e foram eleitos. A Nova Frente Popular, coalizão dominada pela extrema esquerda, elegeu 32, e a aliança centrista do presidente Emmanuel Macron só dois.

Embora haja um movimento nacional pela união de forças republicanas — um conceito elástico que pode abranger da centro-direita à extrema esquerda — contra o RN na derradeira votação de domingo pelas cinco centenas de vagas que seguem em disputa, é praticamente inevitável seu crescimento inédito. Projeções sugerem que o partido poderá ficar com uma fatia entre 230 e 280 cadeiras (hoje tem 88). Para assumir o cargo de primeiro-ministro, o presidente do partido, Jordan Bardella, impôs como condição a conquista da maioria absoluta (289 cadeiras), uma meta tangível. Mas, ainda que fique aquém dela, é certo que o RN criará todo tipo de problema aos projetos de Macron.

O desempenho do RN no primeiro turno não tem precedentes. Desde 1972, quando foi fundado como Frente Nacional, o melhor resultado nas legislativas ocorrera em 2022, com 4,2 milhões de votos (18,7%). No domingo, 11 milhões de franceses escolheram candidatos da legenda. Os 33% dos votos se aproximam ao desempenho também recorde nas recentes eleições para o Parlamento Europeu.

Foi justamente esse resultado que motivou Macron a antecipar o pleito para a Assembleia. A aposta era mostrar mais uma vez que o RN ainda tinha um teto nas disputas nacionais. Ela fracassou. A coalizão centrista de Macron foi humilhada nas urnas. Ficou em terceiro lugar, com 20,8% dos votos. Na melhor das hipóteses, ele terá de compor com forças da esquerda e da extrema esquerda (28%) para manter viva ao menos parte de seus projetos.

A força do RN nas urnas reflete o êxito de uma estratégia adotada há mais de dez anos por Marine Le Pen. Desde que assumiu a legenda, em 2011, tem procurado afastar integrantes mais radicais, disfarçar a xenofobia, o antissemitismo e a islamofobia que sempre constituíram a essência do ideário do partido. Marine tem procurado adotar um discurso menos hostil à União Europeia e um tom menos deferente ao russo Vladimir Putin. Deu ênfase ao populismo nacionalista, conquistando fatias cada vez maiores da centro-direita. Ao mesmo tempo, prometeu rever medidas impopulares de Macron, como a reforma das aposentadorias.

Depois de chegar ao segundo turno nas duas últimas eleições presidenciais e perder, ela deverá entrar com novo vigor no próximo pleito. Eleito duas vezes, Macron não pode disputar o terceiro mandato. Mesmo que pudesse, sua impopularidade seria um empecilho. Ele governou como um estadista. Mas suas reformas cobraram um preço. Nas urnas, os franceses buscaram refúgio nas promessas irrealistas dos extremos. No paraíso prometido pelo RN, é possível baixar drasticamente o imposto sobre as contas de energia ou rebaixar a idade mínima de aposentadoria num país com déficit fiscal acima de 5%. No próximo domingo, os franceses deixarão mais claro quão inclinados estão a crer nesse tipo de fantasia.

Mais recente Próxima Abuso de emendas de relator se repete nas de comissão