Incêndios na Amazônia brasileira batem recorde para primeiro semestre em 20 anos
Incêndios florestais também atingiram níveis recordes no primeiro semestre na região do Pantanal, a maior área úmida do mundo, e do cerrado
Por O Globo com agências internacionais — Rio de Janeiro
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Queimada ilegal na Amazônia
Queimada ilegal na AmazôniaAFP
RESUMO
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GERADO EM: 01/07/2024 - 20:26
Incêndios recordes na Amazônia e Pantanal
Incêndios na Amazônia e Pantanal atingem recordes históricos no primeiro semestre, com aumento de 61% em relação ao ano anterior. Desmatamento na Amazônia diminui, mas incêndios são atribuídos à ação humana e mudanças climáticas. Pantanal declara estado de emergência devido às chamas.
O Brasil registou 13.489 focos de incêndio na Amazônia no primeiro semestre, o pior número em duas décadas e um aumento de 61% em comparação com o ano passado, segundo dados de satélite publicados nesta segunda-feira. Desde que esses dados começaram a ser compilados em 1998 pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), a maior floresta tropical do mundo sofreu mais incêndios no primeiro semestre apenas em 2003 (17.143) e 2004 (17.340).
O número total de incêndios ocorridos no primeiro semestre do ano é muito superior ao mesmo período do ano passado (8.344). Esta é uma má notícia para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que deve enfrentar este aumento dos incêndios enquanto o desmatamento continua a diminuir na Amazônia.
Segundo dados do INPE, de 1º de janeiro a 21 de junho (última data disponível) foram desmatados 1.525 km², ante 2.649 km² no primeiro semestre de 2023, uma redução de 42%. No ano passado, o desmatamento já havia sido reduzido pela metade em relação a 2022.
Amazônia e o crônico mal das queimadas
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Membro da brigada de incêndio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tenta controlar um incêndio em uma área da floresta amazônica, em Apuí, no AmazonasREUTERS 2 de 19
Moradores e bombeiros no noroeste do Brasil estão lutando contra os incêndios que assolam a Amazônia, destruindo terras agrícolas e ameaçando suas casas, em Porto VelhoREUTERS
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Rosalino de Oliveira joga água tentando proteger sua casa enquanto o fogo se aproxima em uma área da floresta amazônica, perto de Porto Velho, RondôniaREUTERS 4 de 19
Membro da brigada de incêndio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tenta controlar um incêndio em uma área da selva amazônica em Apuí, Estado do AmazonasREUTERS 5 de 19
Membro da brigada de incêndio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tenta controlar um incêndio em uma área da floresta amazônica, em Apuí, no AmazonasREUTERS 6 de 19
Imagem aérea mostra fronteira entre a selva amazônica a área degradada por queimadas a mando de madeireiros e fazendeiros, em Apuí, no AmazonasREUTERS 7 de 19
Membro da brigada de incêndio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tenta controlar um incêndio em uma área da floresta amazônica, em Apuí, no AmazonasREUTERS 8 de 19
Membro da brigada de incêndio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tenta controlar um incêndio em uma área da floresta amazônica em Apuí, no AmazonasREUTERS 9 de 19
Um tamanduá morto é visto em um tronco queimado em uma área da selva amazônica, perto de Apuí, no AmazonasREUTERS 10 de 19
Membro da brigada de incêndio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tenta controlar um incêndio em uma área da floresta amazônica em Apuí, no AmazonasREUTERS 11 de 19
Membro da brigada de incêndio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tenta controlar um incêndio, em uma área da floresta amazônica, em Apuí, no AmazonasREUTERS 12 de 19
Membro da brigada de incêndio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) encontra tamanduá morto enquanto tentava controlar focos de incêndios, em uma área da selva amazônica perto de Apuí, no AmazonasREUTERS 13 de 19
Uma das técnicas de combate às chamas é o aceiro, retirada de faixa de vegetação, por meio da queimada controlada ou manualmente. Quando o incêndio florestal encontra a faixa já degradada perde força pela falta de combustível para se alastrarREUTERS 14 de 19
Voluntário acende uma fogueira para criar um aceiro para impedir o progresso de um incêndio iniciado por agricultores que limpam uma área da selva amazônica, em Apuí, no AmazonasREUTERS 15 de 19
Membro da brigada de incêndio do Ibama bebe água, durante a dura missão de tentar controlar um incêndio em uma área da floresta amazônica perto de Apuí no AmazonasREUTERS 16 de 19
Fumaça sobe de um incêndio ilegal na reserva da floresta amazônica, ao norte de Sinop, no Mato GrossoAFP 17 de 19
Fumaça sobe de um incêndio ilegal na reserva da floresta amazônica, ao norte de Sinop, no Mato GrossoAFP 18 de 19
Membros da brigada de incêndio e soldados do Exército do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) tentam controlar pontos quentes em uma área da selva amazônica perto de Apuí, no AmazonasREUTERS 19 de 19
Membros da brigada de incêndio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) tentam controlar pontos quentes em uma área da selva amazônica perto de Apuí, Estado do Amazonas,REUTERS
Amazônia e o crônico mal das queimadas
Lula prometeu acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030, que havia aumentado durante o governo de seu antecessor, Jair Bolsonaro. Segundo Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil, “as mudanças climáticas contribuem” para este aumento dos incêndios florestais, causados principalmente por uma seca excepcional que afetou a Amazônia no ano passado.
“Infelizmente, boa parte dos biomas brasileiros está sob estresse hídrico por falta de chuvas”, explicou à AFP. “O ambiente fica mais seco e a vegetação mais seca é mais propícia a incêndios”, disse.
O especialista estimou, no entanto, que “a maioria destes incêndios não ocorre espontaneamente ou devido à queda de raios”, mas sim devido à “ação humana”, especialmente para limpar terrenos para expandir as atividades agrícolas.
Recorde do Pantanal
Os incêndios florestais também atingiram níveis recordes no primeiro semestre na região do Pantanal, a maior área úmida do mundo, e do cerrado, ambas no sul da Amazônia. No Pantanal, que vive momentos dramáticos com vastas áreas cobertas de fumaça e céu vermelho de fogo, foram identificados 3.538 focos desde o início do ano, um aumento de 2.018% em relação ao primeiro semestre do ano passado.
Veja imagens dos incêndios florestais que atingem o Pantanal
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Moradores de Corumbá em barco no Rio Paraguai com o Pananal em chamas, ao fundo — Foto: Pablo PORCIUNCULA / AFP 2 de 10
Operação no Pantanal - Combate aéreo a incêndios no Pantanal — Foto: Bruno Rezende / Governo de MS
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Bombeiros tentam conter as chamas em uma área rural de Corumbá, em Mato Grosso do Sul — Foto: Florian PLAUCHEUR / AFP 4 de 10
Operação Pantanal - Combate terrestre a incêndios no Pantanal — Foto: Bruno Rezende / Governo de MS 5 de 10
Vídeo mostra incêndio como plano de fundo para Arraial do Banho de São João em Corumbá (MS) — Foto: Reprodução/Instagram 6 de 10
Vista aérea de bombeiros trabalhando no combate a incêndio no Pantanal — Foto: Pablo PORCIUNCULA / AFP 7 de 10
Área atingida por incêndio florestal no Pantanal — Foto: Pablo PORCIUNCULA / AFP 8 de 10
Avião do ICMBio sobrevoa área atingida pelas chamas no Pantanal — Foto: Pablo PORCIUNCULA / AFP 9 de 10
Bombeiro combate chamas de incêndio florestal no Pantanal — Foto: Pablo PORCIUNCULA / AFP 10 de 10
Avião do ICMBio despeja água sobre área em chamas no Pantanal — Foto: Pablo PORCIUNCULA / AFP
Focos de calor no bioma bateram recorde no primeiro semestre do ano
Isso representa também um aumento de cerca de 40% em relação a 2020, quando todos os recordes foram quebrados e 30% do bioma foi afetado pelo fogo. Só no mês de junho foram identificados 2.639 focos de incêndio, seis vezes mais que o anterior recorde deste mês do ano, que remonta a 2005.
A situação é mais preocupante se tivermos em conta que o pico dos incêndios é normalmente atingido no segundo semestre do ano, especialmente em setembro, em plena estação seca. O estado de Mato Grosso (centro-oeste), onde fica grande parte do Pantanal, declarou estado de emergência na semana passada, e o governo anunciou o envio de reforços de bombeiros de outras regiões para combater as chamas.
O Cerrado, por sua vez, registrou quase tantos focos de incêndio quanto a Amazônia no primeiro semestre (13.229), batendo o recorde anterior, de 2007 (13.214).