Esportes
PUBLICIDADE
Por — Rio de Janeiro

Cuca estreou como técnico do Athletico-PR com uma vitória de 6 a 0 sobre o Londrina. Após o jogo, ele fez uma declaração sobre a anulação de sua condenação, prometendo uma mudança de mentalidade. Durante o longo pronunciamento do caso sobre o estupro na Suíça, em 1987, por ter mantido relações sexuais com uma menor de idade durante uma excursão do Grêmio ao país europeu, o treinador de 60 anos afirmou que "vem refletindo" sobre o tema e pediu a ajuda de sua esposa e suas filhas para escrever um texto que expresse seus sentimentos no momento. Veja o que se sabe sobre o caso que ficou conhecido como 'Escândalo de Berna'.

Ele admitiu que seu silêncio sobre o tema pode ter sido encarado como "covardia", mas prometeu que daqui pra frente mostrará "palavras" e "atitudes" para "dar a oportunidade" e "não errar como nós erramos".

O que foi o "Escândalo de Berna" ?

Em julho de 1987, o Grêmio fez uma excursão à Suíça para participar da Copa Philipps. No primeiro jogo, o time comandado por Luiz Felipe Scolari venceu o Benfica por 2 a 1, no dia 29 daquele mês. No dia seguinte, no entanto, quatro agentes suíços se dirigiram até o Hotel Metropolitano, em Berna, e, por ordem do juiz local Jurg Blaser, prenderam Cuca, Eduardo, Fernando e Henrique sob a acusação de terem cometido atentado violento ao pudor com uso de violência contra a adolescente de 13 anos Sandra Pfaffli. Os quatro permaneceram presos por um mês — Cuca ficou sozinho em Burgdorf a 22km de Berna — até conseguirem a liberação para voltar ao Brasil após pagamento de fiança.

Segundo o depoimento da jovem, ela estava nos corredores do hotel onde a delegação gremista estava hospedada, acompanhada por dois amigos da mesma idade, em busca de lembranças da equipe gaúcha. Até que teria sido levada para o quarto 204, onde estavam os atletas. Lá, a garota explicou ter tirado a blusa para mostrar em mímica que desejava de recordação uma camisa do Grêmio, pois não conseguia fazer se entender em francês ou alemão. Depois disso, por cerca de 30 minutos, foi obrigada a manter relações sexuais. De acordo com a adolescente, apenas Fernando não participou ativamente do ato e deixou o quarto.

Baseado em depoimentos dos jogadores, eles alegaram que a adolescente parecia ter mais de 18 anos, teria entrado no quarto dos atletas e tirado a blusa em troca de uma camisa da equipe gaúcha. Na época, Cuca afirmou ter se surpreendido com a idade da jovem, pois parecia ser mais velha. Outros jogadores afirmaram que a viram sair do quarto "feliz".

Em 1989, Cuca, Henrique e Eduardo foram condenados a 15 meses de prisão e ao pagamento de US$ 8 mil cada pelo que a Justiça Suíça considerou violência sexual contra pessoa vulnerável. Absolvido da acusação, Fernando foi condenado a três meses de prisão e ao pagamento de multa de U$ 4 mil por ter sido considerado cúmplice do crime.

Após negociações infrutíferas com o Itamaraty, o Grêmio pagou fiança de US$ 1,5 mil e os jogadores foram liberados para voltar ao Brasil. No entanto, eles tiveram que se comprometer a voltar à Suíça caso fossem convocados para qualquer audiência. Porém, eles não retornaram, foram julgados de acordo com a lei suíça e condenados. Mas como o Brasil não extradita seus cidadãos, eles não foram presos.

Julgamento anulado por falhas processuais

O treinador retorna livre da condenação após o Tribunal Regional de Berna-Mittelland, na Suíça, ter anulado o julgamento por falhas processuais. A decisão de janeiro deste ano, no entanto, não entrou no mérito da acusação. Ou seja, como não houve um novo julgamento, a anulação não trata da culpa ou da inocência de Cuca. Mas como o processo foi extinto, tecnicamente, ele não pode ser considerado culpado de qualquer acusação.

As novas decisões da Justiça da Suíça não são uma revisão de inocência ou culpabilidade de Cuca do julgamento inicial, e sim da anulação dele. O que resulta no fato de que, para todos os efeitos, Cuca é inocente de qualquer acusação. Contudo, não é correto dizer que ele foi inocentado do processo, já que o mesmo foi anulado.

Pronunciamento de Cuca

Após o jogo no último domingo, o treinador leu uma carta, escrita com a ajuda de sua esposa e filha, expressando seu nervosismo sobre o assunto sério e destacando sua reflexão sobre o tema. Veja:

"Confesso para vocês que estou nervoso. É um tema muito sério, muito importante.

Escrevi para não correr o risco de errar, porque não sou bom com palavras, sou muito "boleirão". Queria falar sobre os últimos meses que eu tenho vivido. Há quase um ano eu sai do Corinthians e vocês podem imaginar o que estou passando e o quanto estou refletindo. Antes de falar, precisei escutar minha esposa, minhas filhas. Escrevi esse texto com a ajuda delas. Porque ainda não me sinto com conhecimento suficiente para falar sobre algo tão forte. Por elas e por todas eu escrevi e não quero errar.

Tenho escutado as opiniões e tentado entender o meu papel. No começo do ano li uma coluna da Milly Lacombe, do UOL, em que ela disse que isso não era sobre mim. Eu entendi o que ela quis dizer. Não é SÓ sobre mim, mas é sobre mim também. Eu escolhi me recolher durante muito tempo, mas consegui seguir a minha vida, enquanto uma mulher que passa por qualquer tipo de violência não consegue seguir a vida dela sem permanecer machucada, carrega o impacto para sempre. Eu consegui seguir minha vida. O mundo do futebol e o mundo dos homens nunca tinha me cobrado nada, mas o mundo está mudando e eu acho que é para melhor.

Não adianta eu ser um grande treinador, esposo, pai, avô, irmão, se eu não entender que o mundo é mais do que o futebol e que eu faço parte dessas coisas. Eu enxergava os problemas, mas me calei porque a sociedade permitia que eu, como homem, me calasse. Hoje, entendo que o silêncio soa como covardia. Tenho buscado ouvir mais, entender mais, aprender mais.

Não posso mudar o passado. Muitos homens agora me escutam e são capazes de olhar para o passado para rever suas atitudes. Sabemos que o mundo é um lugar diferente para os homens e mulheres, e quando enxergamos isso podemos até resistir, mas as coisas começam a mudar. Só que mudanças honestas e verdadeiras levam tempo, exigem dedicação, estudo, são dolorosas e desafiadoras.

A realidade tem que ser transformada para que o mundo seja um lugar mais seguro para as mulheres. O mundo do futebol ainda é um mundo de muito preconceito. Entendi que quando me cobram não é só sobre mim, é sobre a forma como tratamos as mulheres. Não estou falando isso como fala isolada para agradar alguém, ou da boca para fora. Se fosse assim teria me manifestado antes. Falo isso de coração.

Quero e me comprometo a fazer parte da transformação. Vou fazer isso com o poder da educação. Quero ajudar. Quero jogar luz, usar a voz que tenho para, ao mesmo tempo que me educo, educar também outros homens, principalmente os jovens que amam futebol. Sucesso repentino é desafio. Muitos se perdem pelo caminho com fama e dinheiro. Somos levados a acreditar que podemos tudo, inclusive desrespeitar as mulheres. Precisamos dar aos mais novos a oportunidade de não errarem como tantos de nós erramos. É ali que podemos sensibilizar, colocar para pensar, orientar. Sucesso, dinheiro e fama não servem para nada se você se perder no caminho.

Eu pensei que eu estava livre da minha angústia quando solucionei meu problema com a anulação do processo e a indenização. Mas entendi que não acabou porque não dependia apenas da decisão judicial, mas que eu precisava entender o que a sociedade esperava de mim. O que vocês vão ver de mim daqui para frente não serão palavras, serão atitudes. Mas obrigada por me ouvirem hoje."

Mais recente Próxima Com 14 defesas, Léo Jardim, goleiro do Vasco, recebe nota 10 contra o Nova Iguaçu
Mais do Globo

Local popular pelos parques temáticos, cidade da Flórida, nos Estados Unidos, oferece série de atividades e entretenimento para adultos

Orlando se destaca por passeios culturais, alta gastronomia e lojas grifadas

A nova pesquisa é a primeira a rastrear a dieta e a capacidade cognitiva ao longo da vida — dos 4 aos 70 anos

Alimentação durante a vida pode ser a chave para manter cérebro afiado após os 70, comprova estudo; veja o que incluir na dieta

Subsídio é válido por até três meses durante o primeiro ano de vida da criança; medida entra em vigor 50 anos após país escandinavo aprovar a licença parental, pioneira no mundo

Nova lei na Suécia garante licença remunerada a avós para cuidar de netos recém-nascidos

Ao New York Times, militares defendem em anonimato que trégua pode ser a melhor solução para desescalar conflito na fronteira com o Líbano e resgatar reféns que permanecem em cativeiro

Guerra em Gaza: Sem munições e energia, generais israelenses querem cessar-fogo no enclave palestino

Por estes dias eu pensei em estender o escapismo — chamemos de Método Te Amo Espanhola — a outras áreas, como os debates políticos

Biden, beisebol e Venturini

Pressão para superar o inimigo, juntamente com grandes fluxos de investimento, doações e contratos governamentais, transformou o país em um Vale do Silício para drones autônomos e outras armamentos

'Robôs assassinos': Ucrânia aposta em armas movidas por inteligência artificial para ganhar vantagem na guerra contra a Rússia

Nos moldes das competições entre enxadrista e computador, autor e Chat-GPT 4 Turbo fizeram uma disputa de produção de texto

Escritor argentino Patricio Pron trava duelo com inteligência artificial; veja quem levou a melhor

Em entrevista ao GLOBO, o britânico Richard Roberts diz ainda que é a favor dos transgênicos e que gosta de trabalhar com jovens pelas ‘perguntas sem resposta’

‘A IA é muito boa para a ciência, mas é preciso ter uma base de dados confiável. E ainda não chegamos lá’, diz bioquímico prêmio Nobel de Medicina

Aprenda um método simplificado e fácil para garantir que o seu hot dog fique crocante por fora e suculento por dentro

O truque inesperado para fazer o cachorro-quente grelhado perfeito