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GERADO EM: 01/07/2024 - 16:53

Fraudes bilionárias na Americanas: ex-funcionários delatam estratégias

Diretoria da Americanas inventou comitê inexistente, dificultou auditorias e manipulou resultados para esconder rombo de R$ 20 bilhões em fraudes contábeis. Ex-funcionários delataram estratégias fraudulentas que levaram à prisão de ex-executivos.

Uma das estratégias da então diretoria da Americanas para esconder o rombo superior a R$ 20 bilhões com fraudes contábeis -- que, de acordo com o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF), duraram mais de uma década -- era criar dificuldades técnicas para as auditorias responsáveis por validar os números da varejista, como a PwC e a KPMG, que foram contratadas entre os anos de 2017 e 2021.

Para isso, foram envolvidos colaboradores da área de tecnologia e informação da empresa. De acordo com as investigações, com base na delação premiada de dois ex-funcionários, a diretoria se valia de uma extensa lista de estratégias, com a criação até de um Comitê de Segurança que sequer existia.

Segundo o MPF explicou, como a auditoria em uma empresa ocorre por amostragem, a ex-diretoria da Americanas passou a fracionar o lançamento de números fraudulentos em cifras menores para driblar a pescagem de amostras. Isso porque costumam ser selecionados pelos auditores os lançamentos mais expressivos, "já que quanto maior o percentual do saldo inspecionado, mais efetivo é o teste (na auditoria por amostragem)", aponta o MPF.

A então diretoria também não usava versões mais modernas de ferramentas de empresas de tecnologia como Oracle e SAP, que poderiam ajudar a identificar possíveis irregularidades, de forma proposital. Para dar mais credibilidade, a antiga gestão informava aos auditores que o “Comitê de Segurança Sistêmica” da empresa não autorizava o uso dessas plataformas. Este comitê, porém, nunca existiu.

A isso se soma a criação do maior número possível de gastos para serem registrados no balanço - chamado de "linhas". A intenção era simples: "quanto mais fossem as linhas, mais difícil seria auditá-las", diz o MPF.

Outra técnica usada pela direção era criar arquivos mensais no formato de texto - classificado tecnicamente de "txt" - em vez de gerar um arquivo único de todos os meses. "Desta forma, para trabalhar com a seleção de lançamentos, os auditores precisavam primeiramente unificar os arquivos enviados".

Eram ainda disponibilizados apenas os históricos dos arquivos no lugar da versão original de forma a não chamar a atenção dos auditores.

Em um dos momentos para apresentar os resultados para as auditorias, Flávia Carneiro, que fez a delação premiada, discute com Fabien Picavet, ex-diretor Executivo de Relação com Investidores da Lasa e da Americanas SA, como "alterar despesas entre linhas" publicadas no balanço. A ideia é mudar a natureza desses gastos para "que o mercado recebesse melhor o resultado".

Ela explica, diz o relatório do MPF, em uma das ocasiões, que há uma impossibilidade de a fraude se concentrar em despesas como a de aluguel, pois isso "chamaria a atenção da auditoria". Mas Fabien pondera que preferia o risco de divulgar um balanço difícil de justificar para a auditoria a ver as ações da companhia caindo 15% na Bolsa de Valores. As investigações apontam que os ex-executivos venderam os papéis da companhia antes de o escândalo vir a público.

Manipulação das previsões dos resultados da empresa

Um dos pilares envolvia a tentativa de manipulação das previsões dos resultados da empresa feita pelo mercado financeiro. Segundo o MPF, em junho de 2020, Fabien pediu para Flávia os números da empresa, para que pudesse pautar uma reunião com analistas do BTG Pactual. Flávia enviou, mas disse que os números não haviam sido aprovados por Carlos Padilha, ex-diretor Operacional da B2W e ex-diretor de Relações com Investidores de Lojas Americanas.

Fabien, então, afirma que "se Padilha não gostar, deve melhorar". Para o MPF, eram usados números falsos para pautar as expectativas de mercado".

Fabien alega que não pode ir "cego" na conversa com os analistas, pois isso pode trazer "problema irreversível". Em outro trecho, Fabien afirma estar com inveja de Raoni Lapagesse, pois ele já teria recebido as informações completas e o material fraudulento dele ficaria “lindo”. E, por isso, pressionou Flávia pelos números que estavam sendo ainda montados para o resultado, pois o mercado estava querendo informações.

"Raoni já tem tudo... DRE completo. Tô cheio de inveja...", disse Fabien para Flávia. DRE é a sigla para Demonstração do Resultado do Exercício.

Mensagens entre ex-funcionários das Americanas mostram competição para receber planilhas falsas em primeira mão — Foto: Reprodução/Jornal O GLOBO
Mensagens entre ex-funcionários das Americanas mostram competição para receber planilhas falsas em primeira mão — Foto: Reprodução/Jornal O GLOBO

Flavia, então, afirma "Precisamos discutir as possibilidades". Após o encontro, Fabien trouxe as expectativas e apontou os números do resultado da empresa que deveriam ser melhorados. "Dando lucrinho seria lindo. Mesmo que pequenino".

Ele sugere ainda: "essa reforma enviada pro Congresso impacta em algo?". Fabien sugeriu que não divulgassem ao mercado que o lucro registrado se deu em razão de uma compensação no ICMS, com o objetivo de aparentar uma atividade operacional mais robusta da empresa. Flávia lembra que no semestre daria prejuízo mas no trimestre "um lucrinho de 6mm". Ele diz: "Lindo".

A intenção, segundo o MPF, era manipular o mercado, falando que precisava ancorar as expectativas, pois se as previsões dos analistas para a empresa divergissem muito, isso seria prejudicial à companhia. Pressionada por Fabien, Flávia diz que "ainda estava tentando aumentar o lucro no balanço".

Segundo o MPF, os investigados repassavam dados falsos aos analistas, para pautarem as análises que seriam divulgadas por eles ao mercado, com a clara finalidade de "ancorar em balizas sabidamente falsas as expectativas para o resultado da companhia".

O MPF afirma que os ex-funcionários da Americanas "constituíram uma verdadeira associação paralela, cujas funções não correspondiam exatamente às suas atribuições na empresa, para o fim de cometer crimes ao longo do tempo".

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