Teatro
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Por Adriana Pavlova, Especial Para O GLOBO


Cena do balé 'Macunaíma', no Theatro Municipal do Rio de Janeiro — Foto: Divulgação/Tendo Santos
Cena do balé 'Macunaíma', no Theatro Municipal do Rio de Janeiro — Foto: Divulgação/Tendo Santos

Bons ventos sopram do Theatro Municipal do Rio. “Macunaíma”, a grande aposta da temporada de balé da casa, com música especialmente composta e coreografia inédita, chega trazendo frescor à companhia de dança mais antiga do país. A saga épico-poética-folclórica do herói sem caráter, eternizada na obra-prima modernista de Mário de Andrade, ganhou uma versão visualmente antenada, embalada pela composição eclética de Ronaldo Miranda e coreografias de Carlos Laerte, que transitam entre o expressionismo e o contemporâneo, com momentos de teatro musical.

Fruto da incrível junção de forças da Fundação Theatro Municipal com a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Funarte, o espetáculo celebra os cem anos do Modernismo brasileiro unindo as pratas da casa a uma turma jovem de criadores de outros cantos da cidade. Além do próprio coreógrafo contemporâneo e de seu parceiro cineasta Igor Corrêa, há os artistas do Coletivo Trouxinhas da Escola de Belas Artes da UFRJ — sensação do carnaval passado na Grande Rio e responsáveis pelos cenários criados a partir de lixo —e a turma de grafiteiros do Museu do Grafite, que leva para o palco um toque da arte urbana.

Enfim, uma interessante miscelânea artística que não deixa a dever à bricolagem literária que para muitos estudiosos é a marca da obra em que Mário de Andrade amalgama fontes populares, eruditas, nacionais e estrangeiras. Uma opção importante do maestro André Cardoso, da UFRJ, que assina a concepção e roteiro deste espetáculo. A supervisão artística é de Hélio Bejani e Jorge Teixeira, com o maestro Jésus Figueiredo à frente da Orquestra Sinfônica da casa.

A opção dramatúrgica é de um espetáculo fiel ao texto de Mário de Andrade, que apresenta os passos de Macunaíma em momentos-chave da história, divididos aqui em quatro quadros, em curtos e eficazes 50 minutos de duração. São flashes de um Macunaíma sempre em metamorfose na sua busca enlouquecida pelo seu amuleto de sorte, o muiraquitã.

Praticamente todas as estrelas da casa estão em cena, dividindo o palco com os mais jovens, inclusive alunos da Escola de Dança Maria Olenewa. Os grandes bailarinos vão surgindo um a um, encarando com força e talento as nuances dos personagens que lhes foram confiados, que nada têm a ver com príncipes e princesas do repertório clássico. Uma alegria ver o desfile de competência nos gestos dos três Macunaímas que vão se revezando, a começar pelo surpreendente Glayson Mendes, responsável pelas primeiras e instigantes movimentações do herói, seguidos dos ótimos Rodolfo Saraiva e Edfranc Alves. Em sua saga, Macunaíma segue acompanhado por Jiguê (Filipe Moreira) e Maanape (Rodrigo Negri), enquanto vai sendo guiado por toda uma sorte de mulheres poderosas, a Mãe (Cláudia Mota), Sofará (Juliana Valadão), Ci (Márcia Jaqueline), a Cobra (Priscila Albuquerque), a Mãe de Santo (Priscilla Mota) e a Princesa (Fernanda Martiny). Saulo Finelon faz uma boa versão queer do Gigante, que rouba o amuleto.

É possível vislumbrar conexões coreográficas entre o desenho de movimentação de “Macunaíma” e a obra-marco do modernismo na dança, “A sagração da primavera”, de Nijinsky. Com estreia em Paris em 1913, a peça mexeu radicalmente com a forma de se dançar em cena, afastando-se da escola clássica das sapatilhas, ao introduzir movimentos repletos de intensidade e contorções, que também surgem nas concepção de Carlos Laerte e Monica Barbosa, assistente de coreografia pinçada nas próprias coxias do teatro. Para isso contribui, claro, a música composta por Ronaldo Miranda, com paisagens sonoras modernistas, tais quais as de Stravinsky em “A sagração da primavera”.

O diálogo contemporâneo de linguagens tem como destaque a utilização inteligente de projeções em sintonia com os corpos dos bailarinos. Um conjunto assumidamente político, sobretudo os primeiros momentos de Macunaíma em sua Amazônia natal, com imagens símbolo do genocídio na região, como closes do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, mortos este ano durante uma expedição ao Vale do Javari.

Resumindo, esse “Macunaíma” novinho em folha é uma produção bem embalada para festejar o centenário do Modernismo e nos fazer sonhar com novos ventos.

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