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Qual a chance do novo ‘Gossip Girl’ na era das mídias sociais?

Não foram exatamente elas que mataram a série de grande sucesso entre os jovens de 2007 a 2012?
O elenco original de 'Gossip Girl'
Foto:
Divulgação
O elenco original de 'Gossip Girl' Foto: Divulgação

Quando o grupo de estudantes de classe média alta de Manhattan de “Gossip Girl” apareceu pela primeira vez em nossas telas, em 2007, o cenário da mídia social era muito diferente do de hoje. O Twitter estava em sua primeira infância, e o Instagram não existia, muito menos a horda de selfies, gifs, memes e aplicativos de envelhecimento que mais tarde viriam a sair da proverbial caixa de Pandora.

O fenômeno do culto, que durou seis temporadas entre 2007 e 2012, foi baseado nos best-sellers de mesmo nome de Cecily von Ziegesar. Ele transformou em estrelas os então estreantes Blake Lively, Leighton Meester, Chace Crawford e Ed Westwick, membros de um grupo rico de adolescentes do Upper East Side de Nova York. Juntamente com Dan Humphrey (Penn Badgley), estudante bolsista morador do Brooklyn, o grupo teve cada momento de sua vida transmitido para seus pares por Gossip Girl, um blogueiro anônimo cujos posts revelaram muitos dos segredos mais profundos e obscuros da gangue.

A identidade de Gossip Girl (a Garota Fofoqueira, em tradução livre) foi mantida em segredo até o último episódio, quando Dan — o eterno excluído, muitas vezes referido como “Lonely Boy”, o Garoto Solitário — foi revelado como o blogueiro de mesmo nome, o que gerou muita controvérsia.

Na última semana, foi anunciado que “Gossip Girl” está voltando, ambientado em 2020 — “oito anos após o site original ter se apagado”. Dirigido pelos produtores executivos originais, Josh Schwartz e Stephanie Savage, e pelo ex-showrunner Josh Safran, o recomeço vai se concentrar em uma nova geração de estudantes do ensino médio que são “apresentados à vigilância social da Gossip Girl”, quando o antigo site é misteriosamente restaurado.

Parte do elenco de "Gossip Girl" em clima descontraído Foto: Reprodução
Parte do elenco de "Gossip Girl" em clima descontraído Foto: Reprodução

A nova série promete contar como a mídia social mudou nos anos subsequentes às ações da época do programa — mas não foi a própria mídia social que matou “Gossip Girl”? No momento em que o programa terminou, a ideia de um blogueiro único deixou de fazer sentido. O poder já havia sido redistribuído para as massas, que estavam levando seus laptops para postar anonimamente em plataformas públicas e compartilhar todos os aspectos de suas vidas. “Gossip Girl”, que praticamente previu a ascensão do troll da internet, não pode mais alegar ser “sua única fonte para as vidas escandalosas da elite de Manhattan”.

Mesmo que a maioria de nós não se identificasse como trolls online, o papel de Dan como Gossip Girl era servir a um tipo distorcido de justiça, aquecendo suas próprias ideias no processo. Certamente isso é algo de que todos nas mídias sociais foram culpados em algum momento.

Como Jon Ronson, autor do livro “So you’ve been publicly shamed” (“Então você passou vergonha em púbico”, em tradução livre) comentou em sua palestra no TED de 2015: “O melhor das mídias sociais foi dar voz a pessoas sem voz. Mas agora estamos criando uma sociedade de vigilância onde a maneira mais inteligente de sobreviver é voltar a não ter voz ”.

Então, como exatamente o relançamento de “Gossip Girl” funcionará na era da mídia social? O original foi essencialmente um aviso antecipado das ramificações da vida real do troll, e do compartilhar infinito de cada detalhe da vida pessoal das pessoas online.

Um estudo de 2018 descobriu que os adolescentes nos EUA gastam quase metade de suas vidas (45%) online “quase constantemente”; 72% usam o Instagram, 69% têm uma conta no Snapchat e mais da metade está no Facebook. Um estudo separado no mesmo ano relatou que 60% dos adolescentes se sentem pressionados a parecer “perfeitos” nas mídias sociais, enquanto mais ainda levantam preocupações sobre o impacto que essas plataformas têm em sua saúde mental e física.

Considerando o fenômeno que era e como centenas de milhares de adolescentes foram capazes de se relacionar com esses personagens, independentemente do quão privilegiados eles fossem, talvez o renascer de “Gossip Girl” esteja chegando na hora certa.