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GNT estreia série com histórias de vida de pessoas transgêneras

Após abordar o poliamor, o cineasta João Jardim investiga a questão de gênero
Amanda, entrevistada do primeiro episódio (à esquerda), com o diretor João Jardim e a irmã Foto: Divulgação/GNT
Amanda, entrevistada do primeiro episódio (à esquerda), com o diretor João Jardim e a irmã Foto: Divulgação/GNT

RIO - Amanda nasceu há 28 anos no interior do Rio Grande do Sul em um corpo masculino, mas nunca se reconheceu dessa forma. Ainda criança, quando lhe perguntavam o que queria ser quando crescesse, dizia que queria ser mulher, como sua mãe e sua irmã. Enfrentou bullying e superou preconceitos, sempre amparada pela família. Cresceu. E viajou para a Tailândia, onde se submeteu a uma cirurgia de redesignação sexual — processo de readequação genital ao gênero, no caso dela, o feminino.

Os depoimentos da sorridente Amanda e de seus familiares abrem a série “Liberdade de gênero”, que estreia nesta quarta-feira, dia 19, às 21h30m, no GNT. Depois de “Novas famílias” e “Família é família”, séries em que explorou configurações familiares heterodoxas; e de “Amores livres”, sobre o poliamor, o cineasta João Jardim volta o seu olhar para a questão de gênero.

— Desde o princípio a gente quis trazer um pouco a pessoa trans inserida dentro de um contexto familiar e afetivo, alguns com filhos. Escolhemos pessoas que pudessem falar sobre a aceitação pela família. Por isso direcionamos a escolha dos personagens aos que tinham afetos sólidos, para mostrar o que acontece com as pessoas que conseguem afirmar seu gênero de maneira positiva — explica o diretor.

A série, semanal, terá dez episódios. Jardim e sua equipe gravaram no Ceará, no Rio Grande do Sul, no Paraná, no Rio e em São Paulo. Ouviram histórias de 14 pessoas que não se identificam com o gênero do nascimento.

MÚLTIPLAS POSSIBILIDADES

João Jardim entrevista Liniker Foto: Divulgação/GNT
João Jardim entrevista Liniker Foto: Divulgação/GNT

A intenção do programa é apresentar as muitas possibilidades de gêneros. Há mulheres trans, homens trans, não binários (que não se identificam totalmente nem com o gênero feminino nem com o masculino), os que se decidem pela cirurgia de redesignação sexual e os que querem passar pelo procedimento.

O cantor Liniker está entre os entrevistados. De acordo com Jardim, o artista, de 21 anos, tem o gênero fluido não binário, mas vem se sentindo mais à vontade para ser chamado no feminino. Em uma das chamadas do programa, Liniker diz que o momento mais libertador da sua vida foi a primeira vez que usou uma saia. O casal Helena (ela, mulher trans) e Anderson (ele, homem trans), de Porto Alegre, fala sobre a experiência de serem pais de Gregório, de 1 ano.

Outra entrevistada é Letícia Lanz, psicanalista e escritora de Curitiba. Nascida Geraldo, sempre se relacionou com mulheres. Está casada há 40 anos com Ângela e tem três filhos e três netos. Só fez a transição de gênero depois de 30 anos de casamento. “Eu não sou homem nem mulher, sou uma construção de mim mesma. Não nasci com o gênero errado, nasci na sociedade errada”, diz, na série.

O diretor conta que identificou, ainda durante a pesquisa para o programa, que a necessidade das pessoas em assumir sua identidade não tem necessariamente a ver com orientação sexual:

— Temos na série uma travesti lésbica, por exemplo. A gente teve um cuidado em não abordar o lado do exotismo. Procuramos tratar tudo de uma forma séria, respeitosa. Nossa sociedade é heteronormativa. A série tenta quebrar um pouco essa visão.