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Cultura Rock in Rio

Playback de Anitta e voo de P!nk no Rock in Rio reacendem velha discussão no pop

O que vale mais, afinal, gogó ou performance?
P!nk e Anitta Foto: AFP / Reuters
P!nk e Anitta Foto: AFP / Reuters

RIO - A reza é antiga. Toda vez que um popstar faz uso de vocais pré-gravados em shows ao vivo, ainda que apenas em partes de suas músicas, pipocam as críticas. É como se utilização do playback fosse um atestado de fraude a levantar suspeitas sobre o talento do artista para se apresentar sem o recurso.

Neste Rock in Rio, a fiscalização brotou nas redes sociais no sábado, logo após o show de Anitta . Depois de chacoalhar o Palco Mundo com as batidas funkeadas que a catapultaram ao pop, a neodiva começou a receber críticas por conta de trechos pré-gravados das faixas, acionados nas partes mais desafiadoras de sua coreografia. Em entrevista, Anitta admitiu a dublagem mas alfinetou :

— A galera só gosta de falar quando é da gente daqui ( do Brasil ).

A resposta malandra não procede. A "galera" gosta de falar é de todo mundo mesmo. E a prova disso aconteceu naquela mesma noite, logo após o show de P!nk . Ainda que ninguém duvide dos talentos vocais da americana, houve quem argumentasse que a apresentação não poderia concorrer na categoria informal de "melhor show do Rock in Rio" porque a cantora surgiu presa a cabos, realizando movimentos acrobáticos, conferindo, portanto, contornos "circenses" ao espetáculo.

Como P!ink voou sobre os fâs? Entenda o truque que a cantora usou no Rock in Rio.

Já nos anos 80

Seja alicerçada na crítica ao playback ou no suposto exagero de elementos teatrais na apresentação, a discussão sobre os limites de como deve ser o show de um artista pop não é nova. Os primeiros gritos surgiram lá nos anos 80, quando Madonna e Michael Jackson usavam descaradamente os playbacks em seus shows, para o desespero dos que ainda não haviam entendido a revolução causada pela MTV ao elevar a imagem ao mesmo patamar de importância do som na indústria da música.

O reflexo daquele então novo estado de coisas exigia que artistas pop entregassem em suas performances bem mais do que uma voz afinada. E assim surgiram os shows à la Broadway, com quadros bem definidos, mudanças de cenários, roupas e bailarinos, imprimindo agilidade e grandiosidade às turnês. Para garantir que o público leve na memória — e nos celulares — apresentações inesquecíveis, o playback e os elementos de cena cada vez mais inusitados têm sido bolados pelas mentes mais criativas do showbizz.

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Ainda assim, de vez em quando as polêmicas vêm à tona. Uma das mais recentes aconteceu om Beyoncé, na cerimônia de posse de Barack Obama , em 2013. A diva entoou o hino norte-americano sobre uma gravação realizada previamente por ela mesma. As acusações vieram de todos os lados. Poucos dias depois, em entrevista coletiva, ela vingou-se de todo mundo. Após pedir que os jornalistas ficassem de pé,  mandou ali mesmo, na lata, os vocais da canção, sem acompanhamento algum, totalmente à capela. Lacrou. Diante do embasbacamento geral da plateia ante a potência vocal da diva, Beyoncé arrematou com um irônico...  "alguma pergunta?".

Anitta ainda não é nenhuma Beyoncé mas já é possível considerá-la a popstar brasileira mais relevante internacionalmente. Com ou sem playback. Acostume-se.