Cultura Rock in Rio

Rock in Rio: P!nk subverte conceito de show de festival com performance histórica

Em sua estreia no país, cantora se entregou, sobrevoou a Cidade do Rock e conquistou o público
P!nk iniciou a apresentação fazendo acrobacia Foto: MARCELO THEOBALD
P!nk iniciou a apresentação fazendo acrobacia Foto: MARCELO THEOBALD

RIO - Não deve ser fácil fazer sua estreia na América Latina diante das 100 mil pessoas do Rock in Rio. Menos ainda é estrear trazendo seu show, aquele com o qual você viajou o mundo em noites solo (e bateu recordes de faturamento entre artistas mulheres), com a superprodução que isso exige, quando o público estaria satisfeito só com os hits em formato padrão banda-cantora. Mas P!nk optou por trilhar o caminho mais difícil — e acertou em cheio.

Como P!ink voou sobre os fâs? Entenda o truque que a cantora usou no Rock in Rio.

Leia mais: Tudo sobre o Rock in Rio

Aos 40 anos, com três Grammys e mais de uma década de hits emplacados nas paradas nas costas, a cantora e compositora americana traduziu o que deveria estar num manual de show pop de alto nível. Ninguém esperava, porém, que ela faria história. Na despedida, com o pop-rock “Só what” que dominou a MTV nos idos de 2008, P!nk sobrevoou a Cidade do Rock pendurada num emaranhado de cabos, fazendo piruetas, pousando em plataformas espalhadas pela multidão e cantando (na raça, sem playback). Algo que o Rock in Rio nunca tinha visto, e ficou num misto de choque e encanto.

Desde o começo, P!nk mostrou que não estava para brincadeira: surgiu em cena fazendo manobras acrobáticos em um lustre-gaiola pendurado no Palco Mundo em “Get the party started”, que alcançou a maioridade neste ano.

Sabadão: Saiba como foram todos os shows do dia

A americana se esforçou em todos os sentidos. Ela evitou playbacks ou bases mesmo nos números mais difíceis — e cantou muito, principalmente em canções que tiveram apenas o formato piano/guitarra e voz, como os hits “Just give me a reason” e “Walk me home”.

Trouxe coreografias com bailarinos e figurinos para cada número do show, dividido em cinco atos. Incluiu entretenimento no interlúdio entre atos: cômicos, como no cartoon feminista que dividiu as primeiras partes; sérios, quando exibiu no telão trechos de protestos e ícones de diferentes causas, como Black Lives Matter, aquecimento global e direitos LGBT. Cada segundo do show pareceu profissionalmente pensado — e, nem por isso, perdeu o encanto.

Quando teoricamente fugiu do roteiro, P!nk também acertou. Deu um microfone para um fã se declarar e pedir o namorado em casamento, com direito a beijaço em frente às câmeras.

— Eu amo o amor! — celebrou P!nk, antes de fazer o alerta, entre risadas: — Esse é o primeiro dos mais difíceis dias de suas vidas.

Até mesmo o formato das canções pop seguir a cartilha do que fica esteticamente ligado ao gênero e entretém em shows ao vivo: músicas conduzidas pela guitarra, com longos riffs e o peso da bateria fazendo a vez dançante dos beats.

O que se apresentou como um show caricato — pelas peripécias visuais e teatrais à la Las Vegas propostas por P!nk— foi, na prática, um grande encerramento para uma noite em que a música pop provou que é muito mais do que números chamativos no streaming, mesmo nos dias de hoje: é uma fábrica de entretenimento para as massas.

Cotação: ótimo .